Cidade se tornou referência verde somente 4 anos depois de ser apontada como líder do desmatamento
Fotos:bbcworldservice
Quatro anos depois de ser inclusa pelo Ministério do Meio Ambiente na lista negra dos municípios que mais desmatavam a Floresta Amazônica, a cidade de Paragominas, de 100 mil habitantes situada no nordeste do Pará, trilha o caminho inverso e está prestes a se tornar uma referência na chamada “Pecuária Verde”.
O município surgiu na época da construção da rodovia Belém-Brasília, em meados do século passado. A estrada atraiu novos moradores, desenvolveu o município e deixou de lembrança um rastro de desmatamento e queimadas, estimulado pelo próprio governo federal, que garantia a posse das terras para quem queimasse 50% das propriedades. A destruição perdurou até 2008, quando Paragominas entrou na lista negra por desmatar 30 mil hectares do bioma amazônico a cada ano.
A lista funciona de modo similar as elaboradas por instituição de proteção ao crédito. Com o nome “sujo na praça”, os produtores e empresas locais tiveram seus produtos barrados e diversas restrições, incluindo a de crédito. A imagem comercial dos produtos da região ficou abalada.
Além disso, uma operação conjunta entre o Ibama e a Polícia Federal, quase levou o município a falência: diversas propriedades foram embargadas e multadas, serrarias tiveram que fechar as portas. O saldo negativo foi da perda de dois mil postos de trabalhos.
Modelo
Este foi o empurrão necessário para que diversos setores da sociedade decidissem dar um basta ao desmatamento da cidade, que há décadas já havia sendo apontado negativamente por organizações não-governamentais. Além de formar um pacto por desmatamento zero e produtos sustentáveis, as 51 associações da cidade firmaram compromissos com a limpeza pública, a saúde, a construção de centros esportivos, culturais e parques.
Madeira certificada se tornou uma indústria forte na região
Parcerias com o Imazon, que monitora mensalmente o desmatamento no município, e com a Ong The Nature Conservancy, que ajudou a inserir 80% das propriedades rurais no CAR (Cadastro Ambiental Rural), ajudaram Paragominas a reduzir para 4 mil hectares o desmatamento anual e, assim, tornar-se o primeiro município da Amazônia a sair da lista negra, em 2010 – mesmo ano que foi a primeira do estado a ganhar o título de “Município Verde”.
Desde então, o município vem atraindo investimento e desbancando outros na arrecadação fiscal. Paragominas atualmente tem um novo polo industrial à base de madeira certificada – extraída segundo regras de baixo impacto ambiental –, desenvolveu o reflorestamento e a mineração mais sustentável e procura, agora, conquistar seu lugar ao sol com a “pecuária verde”.
“Cada cidade deve adaptar seu programa à conservação das florestas e da biodiversidade, rapidamente, sem esperar pelo consenso mundial sobre o assunto. Se esperar muito, pode ser muito tarde”, assinalou ao Planeta o ex-prefeito Sidney Rosa, que implantou projetos sociais e leis ambientais na cidade antes da lista, que levaram ao fechamento de madeireiras ilegais.
Boi sustentável
O projeto “Pecuária Verde” surgiu da consciência de que, se fora difícil limpar o nome Paragominas, mantê-lo longe da lista negra não seria diferente. Assim, o Sindicato Rural de Paragominas firmou parcerias e convocou um time de especialistas para criar este novo modelo de produção. Planejado para durar cinco anos, o projeto é financiado integralmente por empresas privadas.
A ideia é que, a partir do trabalho realizado em oito fazendas, escolhidas de modo a contemplar a diversidade da região, o novo modelo vire referência de política pública a ser implementada no município. O primeiro passo é a regularização ambiental dos selecionados, promovendo a recomposição da reserva legal e adequando-os as exigências da legislação ambiental.
Serão ainda melhorados a qualidade da pastagem, pela correção do solo e uso de gramíneas mais produtivas, e os produtores serão orientados a realizar o manejo adequado das áreas, aumentando a produtividade do rebanho no pasto. Esses serão criado naturalmente, sem a necessidade de confinamento.
A cereja do bolo do projeto é o chamado “enriquecimento da reserva legal”. A ideia é que a área protegida por lei se torne rentável para o produtor, por meio do plantio mudas de espécies nativas passíveis de serem exploradas no futuro. No entanto, somente as florestas secundárias, que já sofreram algum tipo de manejo no passo, receberão as mudas. Já a floresta virgem, intocada, continuará sem interferência humana.
Alguns produtores ficaram surpresos ao saber que algumas propriedades tinham mais reserva ambiental do que a quantidade exigida pela legislação vigente. “Hoje, 90% dos nossos produtores não sabem o que eles têm de floresta”, ressaltou ao O Liberal o presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Paragominas e diretor executivo do projeto Pecuária Verde, Mauro Lúcio Costa”.
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