Documento destaca a importância da sustentabilidade nos altos setores das companhias
Foto: Craig Robinson/Moodboard/Corbis
Muito se discute que o desenvolvimento sustentável costuma passar longe das chamadas altas gestões das empresas, não merecendo mais do que um setor específico dentro das companhias, comumente afastado dos tomadores de decisão. Mas um documento lançado no início de junho pela Comissão de Estudos de Sustentabilidade para as Empresas (Cese) procura mostrar uma realidade diferente.
A publicação intitulada Sustentabilidade nos Conselhos de Administração aborda, a partir de entrevistas, o entendimento dos profissionais sobre o tema, como se organizaram para tratá-lo, além de versar sobre sua inserção na gestão e sua relação com o conselho.
Entre os entrevistados estão o presidente do conselho de administração (CA) da Fibria, José Luciano Penido, o presidente do CA da Duratex, Salo Davi Seibel, e o conselheiro da SulAmérica, Roberto Teixeira da Costa.
“Isso não é conversa de poeta, é conversa de diretor-presidente, presidentes de conselhos, conselheiros e executivos”, destacou o coordenador da Cese, Aron Zylberman, à época do lançamento do documento.
Cases de empresas
Com semelhante posicionamento, Penido discorreu sobre a experiência da Fibria em como o assunto foi conduzido e incorporado às diferentes instâncias de decisão. Para ele, a companhia teve a oportunidade de nascer de novo. “Nascemos de um problema de governança importante”. Foi quando a companhia passou a lidar com assuntos como planejamento sucessório e sustentabilidade, afirmando estar este último hoje na essência da estratégia e na criação de valor. “Faz parte do eixo central da empresa.”
Na Fibria, cabe ao presidente do conselho a orientação estratégica do tema. E foi por meio desta diretriz que a empresa começou a endereçar soluções para problemas históricos relacionados aos movimentos indígenas, pela terra, comunidades quilombolas e comunidades menos favorecidas, exemplificou Penido.
Integrou essa iniciativa sair do ambiente fechado de uma sala de conselho para ir em campo conversar com as comunidades. “Agir dentro da Lei não basta. É importante agir com profissionais externos com outros pontos de vistas. Isso foi muito positivo”, relatou Penido. Como resultado, segundo o presidente do CA, em três anos, a empresa reconstruiu uma boa relação com o entorno e com as partes relacionadas, com exceção feita à atuação junto às comunidades quilombolas, que “ainda precisa de mais atuação”.
Motivos internos
Diferentemente do ocorrido na Fibria, a adoção do tema sustentabilidade pela Duratex deu-se por motivos internos, conforme expôs Seibel. Para ele é necessário haver vontade política para que isso aconteça. A empresa possui tanto comitê quanto comissão de sustentabilidade, com o primeiro ligado ao conselho e segundo à diretoria.
Coordenado por conselheiro independente, o Comitê de Sustentabilidade reúne-se oito vezes por ano e todo mês relata ao CA conteúdo debatido pelo grupo. “O tema de sustentabilidade, independentemente do momento, vem ao conselho todos os meses. Pode ser por 10 a 15 minutos ou pode gerar debate mais profundo e prolongado”, explicou Seibel.
Segundo ele, a Duratex procura “pessoas que tenham alinhamento de posições e que os membros do conselho também achem importante o tema”. Em particular, integrar o Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa (ISE) deveu-se conexão com a missão e valores da organização. “Evidentemente isso é positivo. Nós vamos ter como investidores aqueles que se alinham conosco.”
Possibilidades futuras
Para Teixeira da Costa, “os analistas no futuro vão ver como o tema sustentabilidade está sendo tratado pelas empresas” e deixará de ser uma peça de marketing. “Uma das grandes críticas ao nosso país é que somos muito curto prazo, imediatistas. Precisamos olhar para o futuro”, refletiu.
Costa afirmou ser necessário envolvimento de toda a empresa, porém, com liderança do presidente. “As coisas não funcionam de cima para baixo. Código de Ética, por exemplo, funciona melhor se são construídos de baixo para cima.”
Outro desafio apontado no caminho de se incorporar o tema está relacionado às etapas nem sempre serem de grande apelo, como a criação de um comitê de sustentabilidade: ”não foi um aplauso geral”. Mas em compensação é sinal de grande valia e deve ser considerada uma conquista quando o presidente da empresa, em seu discurso, inclui a importância de elaborar um relatório anual com indicadores GRI.
Teixeira da Costa sintetizou uma experiência na SulAmérica passível de ser transportada para outras organizações: “O movimento que começou com timidez, hoje é carro-chefe na organização. A sustentabilidade passa de ônus para benefício.”
- Conheça o documento na íntegra (em PDF) -
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