Matriz energética da Caatinga consome, essencialmente, a lenha da região/Foto: Sylvio Camporini
Bioma mais populoso do mundo, onde moram aproximadamente 28 milhões de pessoas, a Caatinga sofre atualmente com uma tendência de descentralização do processo de conservação. A opinião é de Francisco Barreto Campelo, diretor do departamento de desertificação do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Segundo dados da pasta ambiental do governo, cerca de 30% da matriz energética dessa região vem da lenha obtida por meio de exploração não sustentável.
A Caatinga exerce importante função econômica nos estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, da Paraíba, Bahia, de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Minas Gerais. O bioma também é usado para pastagem de gado, produção de mel, comercialização de frutos e como suprimento de energia na produção de cerâmicas e da indústrias de gesso.
“O principal vetor para desertificação é o uso do recurso natural como fonte energética sem critérios sustentáveis. Especialmente com a seca, o homem vai acabar com a única opção produtiva desta época, que é a madeira, principalmente se temos uma matriz que consome essa lenha”, destacou Campelo à Agência Brasil, ao defender um convívio econômico com maior eficiência.
Para Campelo, enquanto as Unidades de Conservação (UCs) de proteção integral são necessárias para armazenar material genético e servir como ambiente de pesquisa, as UCs de uso sustentável podem interagir diretamente no cotidiano da atividade econômica, considerando, principalmente, a realidade da região que tem a lenha como principal matriz energética. “Muita gente acha que pode mudar a matriz energética do Nordeste. Apoio o desenvolvimento de novas fontes de energia, mas estamos qualificando a fonte que ainda hoje é a mais usada”, observou.
“Temos que fomentar boas práticas de uso dos recursos, integrando isso nas atividades econômicas dos agricultores e, ao mesmo tempo, viabilizando a manutenção dos serviços ambientais e conservação ambiental”, defendeu Campelo, que também é engenheiro florestal.
Nesta semana, representantes dos governos da região Nordeste começam a receber orientações sobre como criar unidades de conservação estaduais (UCs) na Caatinga e quais os benefícios que estas áreas de preservação podem trazer para as populações locais. A oficina deve reunir, em Petrolina (PE), técnicos estaduais que trabalham com a conservação do bioma, presente em 850 mil quilômetros quadrados do país.
Um dos exemplos bem sucedidos que serão apresentados aos técnicos ambientais é o de uma indústria de cerâmica que utiliza 0,3 metro de lenha para produzir um milheiro de tijolo, enquanto a média gira em torno de 2 a 3 metros para um milheiro.
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