Na Casa da ONU Brasil, Leonice Tupari (na terceira fila, primeira da esquerda para a direita) encontra companheiras do projeto Voz das Mulheres Indígenas
Foto: ONU Mulheres/Isabel Clavelin
Desde junho de 2015, 22 lideranças do movimento de mulheres indígenas estão atuando para identificar as demandas de outras mulheres indígenas, articulando pauta política que possa ser representativa da maior parte dos 305 povos existentes no país. Em 13 de dezembro, o Grupo de Referência e as Multiplicadoras do projeto Voz das Mulheres Indígenas reuniram-se em Brasília, na Casa da ONU Brasil, para fazer um balanço das ações.
Em uma série de depoimentos do projeto Voz das Mulheres Indígenas, apoiada pela ONU Mulheres Brasil e pela Embaixada da Noruega, Maria Leonice Tupari, de 39 anos, da Terra Indígena Rio Branco, contou na última quarta-feira (23) sobre como precisou migrar de sua terra natal em Mato Grosso para Rondônia, por conta da escravização dos povos indígenas por seringueiros. Tupari também falou sobre sua militância na causa pela manutenção das identidades indígenas.
A iniciativa visa identificar as pautas comuns de atuação política das mulheres indígenas, focando na violação dos direitos destas mulheres; direito à saúde, educação e segurança; e tradições e diálogos intergeracionais. O processo terá conclusão em fevereiro de 2016.
Tupari explicou como, por meio das conversas com outras mulheres, foi possível identificar a vontade delas de ocupar os espaços. “Elas vêm falando sobre ter os mesmos direitos do que os homens nos nossos territórios. Elas querem ser reconhecidas. Estão na luta pela terra”, relatou, denunciando que as mulheres de sua terra estão sendo alvos de ameaças por parte dos madeireiros.
Mais interesse
Casada com um indígena do povo Paiter Suruí, ela explica que as mulheres jovens desta etnia têm mostrado mais interesse pelas questões políticas e pelos problemas enfrentados pelos índios no Congresso Nacional. Leonice destacou ainda que a participação de mulheres idosas no projeto Voz das Mulheres Indígenas tem estimulado as mais novas a também interagirem.
Márcia, sua filha, de 21 anos, é secretária da organização em que milita. “Meu maior sonho é ver minhas filhas dentro do movimento, defendendo o nosso povo. Trago-as e puxo mesmo para a reunião”, explicou, contando que Márcia e suas outras filhas são casadas com indígenas, o que, segundo ela, “fortalece muito. O contrário é um desandamento”.
Direitos adquiridos
Já a integrante da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), Sônia Guajajara, do povo Tenetehara e nascida no Maranhão, declarou: “O nosso recado é que não vamos e não podemos abrir mão dos direitos. Não vamos abrir mão da nossa terra. O Estado brasileiro tem a obrigação de demarcar as terras indígenas. Tem a obrigação de cumprir a Constituição Federal. Independente de crise política e financeira, o nosso compromisso é com a nossa pauta. E o compromisso do Brasil tem que ser com os nossos direitos”.
Com foco na unificação da pauta dos índios e na garantia de direitos, Guajajara explicou que o Estado brasileiro ainda é muito distante dos povos indígenas. “A principal luta continua sendo a garantia do território, porque a partir daí a gente consegue garantir as outras políticas sociais, culturais e políticas para as mulheres. A gente não tem saúde diferenciada para as mulheres indígenas. Há especificidades que precisam ser atendidas”, destacou.
Estudante de mestrado em Antropologia Social do Museu Nacional no Rio de Janeiro, a sul-mato-grossense de Aquidauana, Simone Amado, aposta no empoderamento das mulheres do seu povo. Originária da aldeia Ipegui, ela reconhece a expectativa do povo terena sobre o “sangue novo e de mentes novas”, como a sua, que podem ajudar a novas decisões coletivas.
Momento novo
“Trabalho com as mulheres, tentando trazê-las para conhecer a nossa realidade enquanto mulheres, para que possamos cobrar dos governos e órgãos para dar atenção a nós como mulheres indígenas. Na minha base, as mulheres são privadas de falar, de participar do movimento e de sair das suas aldeias. O projeto tem gerado um momento novo. Não é querer tomar o lugar dos caciques, dos homens, mas juntar o nosso movimento, levando as mulheres ao lado dos homens”, declara.
Atualmente, mulheres indígenas de 56 povos deram a sua posição a respeito de pontos como a violação de direitos; empoderamento político; direito à terra e processos de retomada; direito à saúde, educação e segurança; tradições e diálogos inter-geracionais.
O levantamento das demandas tem sido feito por meio de visitas às aldeias e a espaços políticos. Um dos espaços para a reivindicação de direitos é a Conferência Nacional de Política Indigenista, que se se encerrou em 17 de dezembro, em Brasília. O tema central da conferência foi “A relação do Estado Brasileiro com os Povos Indígenas no Brasil sob o paradigma da Constituição de 1988”.
(Via ONU Brasil)
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