Jovens cientistas desenvolvem aplicativo para ajudar deficientes visuais

Premiação pelo terceiro lugar no concurso inovação Imagine Cup promovido pela Microsoft/Fotos: Arquivo pessoal

Jovens, empreendedores e, acima de tudo, preocupados em tornar o mundo um lugar melhor para aqueles que não enxergam. Renata Claro, Gabriel Reganati e Thiago Silva, são estudantes de Ciência da Computação da USP (Universidade de São Paulo), que embarcaram em um projeto para possibilitar maior liberdade aos deficientes visuais, principalmente encorajando-os a explorar, sem medo, os locais desconhecidos das cidades.

O projeto chamado “Smart Audio City Guide” começou a ser desenvolvido em novembro de 2011. O sistema é um ambiente colaborativo na Web, amparados por smartphones, microfones e fones de ouvido, que utiliza informações georeferenciadas e GPS, como suporte à locomoção urbana de deficientes visuais.

Qualquer pessoa que tem o aplicativo pode enviar e receber informações sobre localidades específicas, que são transmitidas na forma de áudio. Por exemplo, pode-se enviar a informação como “aqui tem uma árvore” para o sistema, que registra o local. Quando o usuário passar novamente pelo lugar ele receberá a informação que foi enviada antes. Para receber as informações só é preciso clicar na tela do aparelho em qualquer ponto.

Em maio de 2012, o Smart Audio City Guide recebeu o terceiro lugar no concurso de inovação Imagine Cup promovido pela Microsoft no Brasil. O EcoD conversou com os jovens empreendedores, que contaram desde como surgiu a iniciativa até como se encontra o Brasil no mundo da ciência e tecnologia.

EcoD: Como foi ganhar em terceiro lugar, em um concurso de inovação promovido pela Microsoft?

O prêmio recebido na Imagine Cup foi muito gratificante para todos nós. Mesmo com o pouco tempo que tivemos para desenvolver o aplicativo, conseguimos chegar bem longe na competição, foi uma grande vitória. Isso nos animou e ajudou a perceber que estamos no caminho certo. Também conhecemos diversas pessoas que elogiaram o projeto, inclusive deficientes visuais. Isso nos deu força para continuar no projeto.

Como surgiu a ideia de criar o aplicativo para deficientes visuais?

A ideia inicial do projeto surgiu com o professor Artur Rozestraten, da FAU (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo). Ele já possui uma boa vivência com deficientes visuais e trabalhou com maquetes tridimensionais para cegos (o grupo Tridimensionalistas). A partir disso, pensou em desenvolver algo que exercesse uma função semelhante utilizando smartphones e sistemas colaborativos.

Da esquerda para direita Renata Claro, Gabriel Reganati, Thiago Silva e Marco Aurélio Gerosa

Vocês encontraram dificuldades? Quais vocês destacam?

As principais dificuldades encontradas estão na parte da interação do aplicativo com o usuário deficiente visual. Não podemos utilizar a tela sensível ao toque da maneira usual, então utilizamos toques simples em qualquer ponto da tela e respostas em áudio para qualquer ação do usuário.

Como vocês enxergam o Brasil em relação ao apoio a esse tipo de iniciativa?

Sinceramente, não podemos falar com tanta propriedade sobre esse assunto. Não chegamos a procurar nada estatal para nos ajudar, mas estamos tentando parcerias com empresas privadas.

Falem mais sobre essa dificuldade de encontrar apoio, porque vocês acham que está sendo difícil?

Estamos encontrando dificuldades para encontrar financiadores. Pensamos que isso se deve ao fato de ser difícil obter um bom retorno financeiro num projeto como esse.

Após a Imagine Cup começamos algumas conversas com empresas que se interessaram pelo nosso trabalho, mas ainda não temos nada fechado.

Quais são, na opinião de vocês, os maiores problemas enfrentados pelo Brasil no campo da Ciência e da Tecnologia?

O Brasil possui uma grande desvantagem quando comparado a países desenvolvidos no campo de Ciência e Tecnologia. Isso se deve à dificuldade de conseguir investimentos e falta de pessoal bem preparado.

Por exemplo, tivemos dificuldades para conseguir um smartphone para desenvolvermos o projeto. Só conseguimos um emprestado gentilmente pela Nokia, mas por pouco tempo. Isso prejudica o desenvolvimento de sistemas como esse.

Qual a importância social do projeto de vocês? Quando ele estará disponível?

Achamos que a real importância desse projeto será vista apenas quando ele estiver disponível, mas acreditamos que podemos ajudar muitas pessoas que enfrentam dificuldades diariamente. De tempos em tempos conversamos com alguns possíveis usuários para avaliar o nosso desenvolvimento e o feedback sempre se mostrou positivo. Pessoas que utilizaram o nosso protótipo disseram que o utilizariam no dia a dia, e isso mostra que o aplicativo pode ter um impacto grande na vida dessas pessoas.

É importante dizer que o Smart Audio City Guide não se propõe a substituir os instrumentos já existentes, como a bengala ou o cão guia, mas ele pretende se tornar mais um elemento de inclusão para essas pessoas.

Ainda estamos em fase de testes do sistema, mas temos uma previsão de lançá-lo até o fim do ano para plataformas Windows Phone, Android e iOS.

Veja o vídeo do projeto: