Protestos, diversidade cultural e religiosa durante a Cúpula dos Povos na Rio+20 por Justiça Social e Ambiental é um evento organizado pela sociedade civil global, realizado entre os dias 15 e 23 de junho, no Aterro do Flamengo/Foto: Marcello Casal Jr./ABr
Os representantes da Cúpula dos Povos, evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20) iniciado na sexta-feira, 15 de junho, não acreditam na elaboração de um documento concreto por parte dos negociadores dos países que integram o evento oficial, realizado no Riocentro, na Zona Oeste da cidade.
Em entrevista concedida na sexta-feira (15), no Aterro do Flamengo (local da Cúpula dos Povos), o dirigente da Via Campesina, Luiz Zarref, afirmou que o grupo vem acompanhando com atenção o desenrolar das negociações no Riocentro, mas que não alimenta expectativas de que haja acordos concretos e consensuais em prol da definição de uma política de sustentabilidade.
“Até agora, as nossas expectativas são que não sairá nenhum documento a favor dos povos, do planeta e do meio ambiente. Ao contrário, o que está saindo é uma nova engenharia de um sistema capitalista que está em crise no seu centro principal (a Europa e a América do Norte) e que está tentando descobrir novas ferramentas para se apropriar dos territórios dos países do Sul, países que possuem povos e comunidades em espaços que não foram ainda totalmente dominados pelo capital”.
Na avaliação dos representantes da Cúpula dos Povos, os documentos do processo oficial já não inspiram confiança, o que leva ao avanço cada vez maior da leitura de que não sairá nada de positivo da cúpula oficial. “Se, na Rio-92 [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento], nós tínhamos disputa por posições distintas, uma vez que tinham países que ainda se preocupavam com a solidariedade dos povos, com o bem da humanidade, nesta cúpula isso já não ocorre. Há, sim, um ou outro país que ainda tem defendido a sua posição mais favorável aos povos, mas que ainda está em uma posição bastante isolada”, acrescentou Zarref, sem, no entanto, citar o nome de países nessa situação.
Para Cindy Wiesner, do Grassroot Global Justice Alliance (GGJ), ativista dos Estados Unidos, está cada vez mais claro que o que está ocorrendo no Rio é o confronto simultâneo entre duas ideologias que, basicamente, vão ditar o futuro da humanidade e do planeta. “O que temos que ter claro é que esses dois pensamentos, essas duas filosofias, são práticas muito diferentes. Uma fala diretamente sobre as causas estruturais e as raízes dos problemas – não se atendo basicamente a soluções temporárias”.
Segundo Cindy Wiesner, enquanto na Cúpula dos Povos ocorre um processo que envolve discussões que englobam mais de 800 atividades autogestionadas, com plenárias em que se discutem soluções para as mudanças climáticas e os temas sociais, no encontro oficial, procura-se utilizar o tema do desenvolvimento sustentado como forma de justificar e salvar o capital.
Para o Grupo de Articulação, segundo ela, o que está claro é a total falta de confiança nos resultados do encontro entre os governantes. “Uma vez que os entraves ao desenvolvimento sustentável e a busca de uma solução real são exatamente os obstáculos colocados pelas empresas transnacionais e os governos que nada mais fazem do que defender os interesses dos capitalistas”.
Na entrevista, a moçambicana Graça Samo denunciou o avanço maciço do capital privado sobre as riquezas de Moçambique. “É um país que está sofrendo muito com os grandes investimentos e a influência cada vez maior das multinacionais. Eles estão invadindo a vida particular das comunidades e criando muito sofrimento entre as pessoas ao expropriarem as suas propriedades e, com isso, retirando o sustento das famílias, que provém basicamente da agricultura”.
De acordo com ela, esta “invasão” capitalista está se dando sem que haja qualquer diálogo ou busca de alternativas de sobrevivência para as comunidades. “O fato é que há uma revolta muito grande por parte das populações afetadas, totalmente afastadas das suas terras e zonas de residência, muitas vezes para regiões onde não há condições básicas de sobrevivência – seja do ponto de vista do saneamento básico ou de condições adequadas de moradia”.
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