A aterosclerose pode causar infarto, acidente vascular cerebral e trombose. Foto: Conrado Tramontini (Conras)
A exposição à poluição atmosférica nos grandes centros urbanos durante a gestação e logo após o nascimento do bebê aumenta o risco de aterosclerose mesmo que haja uma dieta com baixos teores de gordura. Este é o resultado preliminar de uma pesquisa realizada na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
A aterosclerose é uma doença inflamatória, caracterizada pelo enrijecimento e obstrução dos vasos sanguíneos devido à formação de placas de gordura. Seu agravamento ao longo dos anos pode causar problemas como infarto, acidente vascular cerebral e trombose.
A bióloga responsável pela pesquisa, Mariana Veras, realizou testes com camundongos geneticamente modificados para desenvolvimento de aterosclerose. Ao final do experimento, eles passaram por um exame de ultrassom para avaliar o tamanho da placa de gordura que havia se formado no interior dos vasos sanguíneos.
Mariana admitiu que não esperava o resultado que alcançou. “Diversos estudos apontam a poluição como fator de risco para a doença, mas, de acordo com a literatura científica, animais predispostos só desenvolveriam a placa aterosclerótica caso recebessem uma dieta rica em gorduras. Por isso os resultados que obtivemos surpreenderam”, comentou à Agência Fapesp.
O estudo
Os animais foram divididos em oito grupos. Os quatro primeiros receberam uma dieta balanceada e com baixos teores de gordura desde o desmame, com um mês de vida, até o fim do quarto mês. Destes, o primeiro, considerado o grupo controle, ficou em uma câmera com ar filtrado e não sofreu exposição à poluição nem durante a gestação, nem após o nascimento.
O segundo foi exposto ao ar poluído apenas durante a gestação e, nos quatro meses após o nascimento, foi colocado na câmera com ar filtrado. O terceiro grupo foi exposto apenas depois do nascimento e o quarto sofreu exposição tanto no período de gestação como posteriormente ao nascimento.
Os outros quatro grupos que restaram foram submetidos aos mesmos padrões de exposição aos poluentes, mas, diferentemente dos outros, foram alimentados de forma balanceada só até o terceiro mês de vida. Nos três meses seguintes, receberam uma dieta rica em gorduras.
O experimento concluiu que, nos animais que receberam a dieta rica em gordura, o efeito da poluição foi menos importante e obscurecido pela alimentação. Já entre os camundongos com dieta balanceada, aqueles expostos à poluição durante a gestação apresentaram placa aterosclerótica três vezes maior que a observada no grupo controle.
Nos camundongos expostos aos poluentes apenas após o nascimento, a placa foi sete vezes maior e, quando somadas a exposição gestacional e a pós-natal, o aumento foi de 13 vezes.
“Os dados sugerem que a poluição funciona como um fator de modificação do ambiente uterino. A poluição pode programar esses animais, fazendo com que tenham maior risco de desenvolver aterosclerose mesmo que após o nascimento adotem dieta balanceada e vivam em um local com ar puro”, afirmou Mariana.
A pesquisadora ainda apontou que, a poluição das grandes cidades está relacionada à prematuridade, mortalidade neonatal e pós-neonatal, retardo do crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer. " Além disso, causa alteração da razão sexual, fazendo com que nasçam mais mulheres do que homens. Para estudar melhor esses desfechos, montamos um modelo animal", avaliou.
- Resultados da pesquisa, em inglês -
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