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Retrospectiva 2012: as conclusões sobre mudanças climáticas mais marcantes

O dia 21 de dezembro passou e o prometido Armagedon Maia não aconteceu. Apesar da decepção de alguns, se relembrarmos os estudos científicos publicados ao longo de 2012 sobre as mudanças climáticas, podemos até ficar assustados e imaginar que o Apocalipse do clima não é, afinal, tão improvável assim.

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29/12/2012 às 10:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 4:02 - há XX semanas
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Eventos climáticos extremos serão regra no futuro, segundo IPCC

O dia 21 de dezembro passou e o prometido Armagedon Maia não aconteceu. Apesar da decepção de alguns, se relembrarmos os estudos científicos publicados ao longo de 2012 sobre as mudanças climáticas, podemos até ficar assustados e imaginar que o Apocalipse do clima não é, afinal, tão improvável assim.

Alertas

Embora o relatório The Emissions Gap Report 2012, divulgado pela ONU no fim de novembro, dê esperanças de que é possível manter o aumento da temperatura do planeta abaixo dos 2ºC, limite máximo considerado seguro pelos cientistas, as premissas para que o pior não aconteça ainda não estão dadas, conforme foi esperado que acontecesse na COP-18. Assim, se continuarmos sem fazer nada, as emissões de gases estufa poderão chegar a cerca de 56 bilhões de toneladas em 2020, 16 bilhões a mais do que o considerado ideal.

Aliás, não estamos tão distantes de alcançar marcas catastróficas. Em junho, o nível de CO2 atingiu pela primeira vez, nos últimos 800 mil anos, a marca de 400 ppm na atmosfera, de acordo com dados de monitoramento de estações de pesquisa no Ártico. Para evitar impactos extremos causados pelas mudanças climáticas, a concentração de dióxido de carbono (CO2) deveria ser inferior a 350 ppm (partes por milhão), segundo a comunidade científica internacional.

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Relatório divulgado pelo Pnuma também listou alguns dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas
Imagem: Reprodução

Um relatório encomendado por 20 governos, divulgado em setembro, ressaltou que, caso o mundo fracasse no combate às mudanças climáticas, mais de 100 milhões de pessoas vão morrer e o crescimento econômico global será reduzido em 3,2% do Produto Interno Bruto (PIB) até 2030.

Se o aumento da temperatura global não for freado, e chegar aos 4º Celsius a mais até 2060, como prevê um relatório recém-lançado do Banco Mundial, o cenário será aterrorizador:

  • Com 4°C a mais, os nível global do mar deve aumentar de 0,5 a 1 metro até 2100 (com o acréscimo de 15% a 20% nos Trópicos), inundando diversas cidades e ilhas;
  • a acidez dos mares exterminará os recifes de corais, comprometendo a vida marinha; a seca aumentará de 15,4% da área plantada no mundo para cerca de 44%; o
  • fluxo de grandes rios como o Amazonas, Danúbio e Mississipi pode reduzir de 20% a 40%, causando problemas de abastecimento, transportes e irrigação. Por outro lado, outros como o Nilo e o Ganges, podem crescer até 20%, causando inundações.

Ou seja, pode até não ser o suficiente para destruir a Terra, mas deve inviabilizar a vida como a concebemos. O pior é que é bem provável que continuemos no mesmo ritmo, uma vez que menos de 1% das metas ambientais globais tiveram avanço significativo, segundo apontou GEO-5.

Impactos

Para além dos 50ºC de sensação térmica no Rio de Janeiro e Porto Alegre registrados na última semana do ano de 2012, os efeitos das mudanças climáticas já estão sendo sentidos em todo mundo, principalmente no bolso. O próprio Banco Mundial divulgou que, somente no Brasil, os desastres naturais mais recentes causaram perdas equivalentes a R$15 bilhões. Na América Latina, a elevação das temperaturas custa US$100 bi ao ano, conforme afirma o BID.

Em todo o mundo, 302 desastres naturais geraram US$366 bilhões de prejuízos somente no ano passado. Até 2030, os impactos das mudanças climáticas podem reduzir a economia mundial em 3,2%. Vale lembrar que o Brasil, em 2011, emitiu 424 milhões de toneladas a mais do que em 2010, um aumento de 1,4%.

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A Groenlândia contém gelo suficiente para elevar em sete metros o nível do mar, em caso de derretimento total.
Foto: Groenlandia 2007

Um estudo publicado na revista científica Nature Geoscience de dezembro apontou que a temperatura do oeste da Antártida aumentou 2,4°C desde a década de 1950 - um dos crescimentos mais acelerados do planeta e três vezes mais rápido que a média global. Juntos, a Antártida e na Groenlândia perderam 4 trilhões de toneladas de gelo nas duas últimas décadas devido ao derretimento acelerado. Somente no local, o gelo desapareceu em 97% da superfície, afetando toda a ilha, de acordo com a Nasa. Apesar disso, um estudo retrucou que o gelo da ilha não afeta tanto os níveis dos mares nem é tão vulnerável quanto se pensa.

No total, o planeta perdeu 536 bilhões de toneladas de gelo por ano e o alto nível de emissões de CO2 já ameaça atrasar a próxima Era Glacial. O resultado do derretimento das calotas polares é perceptível no nível do mar, que já subiu 60% a mais do que o previsto inicialmente e deve continuar a subir. A situação é tão grave que os cientistas chegaram a afirmar que o aumento do nível dos oceanos é irreversível mesmo com redução de CO2 na atmosfera.

Constatações

Já está comprovado que o homo sapiens sapiens é capaz de fazer alterações significativas no ambiente, mesmo com tecnologia primitiva. Uma pesquisa francesa publicada no site da revista Science concluiu que o surgimento das savanas na África, entre 3.500 e 4.000 anos atrás, coincidiu com o início da exploração da agricultura no local. Grandes alterações devido ao efeito estufa, mesmo sem a interferência humana, são possíveis. É o caso da Antártida, que já teve florestas com espécies típicas de clima tropical, como as Palmeiras.

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Alguns cientistas enfatizaram que as emissões precisam atingir um teto antes de 2020 e cair para cerca de 40 bilhões de toneladas até este mesmo ano
Foto: horrigans

Um fator secundário na receita das mudanças climáticas é o aumento da população, que pode agravar ainda mais o aquecimento. O certo é que se forem confirmados os prognósticos sombrios e a temperatura do planeta elevar drasticamente, o índice de mortes precoces também deve subir.

Futuro?

Se os governos não demonstram estar suficientemente preocupados com a questão, ao menos a população já se mostra mais consciente sobre a gravidade do problema. Também pudera: o próprio IPCC alertou que as temperaturas extremas devem virar regra futuramente, sendo as grandes secas o padrão do século 21. A acidez dos oceanos pode ocasionar a extinção de 30% das espécies e a base da cadeia alimentar marinha, os recifes de corais estão seriamente ameaçados em todo o mundo.

Somado a tudo isso, um estudo do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) declarou que capitais brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Manaus, além dos municípios nordestinos serão as cidades mais afetadas com às mudanças climáticas no país. Diante desse quadro é difícil ser otimista, não?

Alguns cientistas já estão procurando a metade cheia do copo e apostando em soluções alternativas, que independam dos governos, para frear o problema. A chamada fertilização dos oceanos (nada mais do que jogar sulfato de ferro nos oceanos para favorecer a proliferação de fitoplâncton) é a mais nova aposta contra o aquecimento global. Esses organismos, que servem de alimento para animais marinhos, capturam CO2 da atmosfera e já respondem por 70% do oxigênio que circula na Terra. Os pesquisadores querem aumentar ainda mais esses percentual.

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As mudanças climáticas apresentam reais impactos na população
Foto:
Alvarélio

Um estudo da Nasa, publicado em janeiro, demonstrou o caminho das pedras do que é necessário fazer para reduzir os gases do efeito estufa, protegendo a saúde pública e a segurança alimentar do planeta. São cerca de 400 medidas a serem implementadas em todo mundo, que ajudaria o aumento da temperatura chegar a 0,9ºC até 2050, além de aumentar o rendimento agrícola em até 135 milhões de toneladas por safra e evitar centenas de milhares de mortes prematuras a cada ano.

As apostas já estão sendo feitas, basta descobrir se será a humanidade ou o seu maior bumerangue a jogar as próximas cartas na mesa.

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