Folclore significa conhecimento popular. Foto: Claudia Baiana - Acarajé no Rio de Janeiro
No Dia do Folclore, lembrado em 22 de agosto, o que você celebra: apenas as lendas ou também as tradições? O questionamento surge em função de uma afirmação da Federação do Folclore Português (FFP), que defende a importância da distinção do conceito popular e tradicional do fato folclórico.
O presidente da FFP, Fernando Ferreira, frisou a diferença dos dois conceitos durante um evento para folcloristas, realizado no Rio de Janeiro, em 2011. "São duas coisas muito ligadas, mas uma não é igual à outra". Ele ressaltou que "tudo que é inventado forçadamente deixa de ser Folclore".
Mas então... o que é o folclore?
Nada a mais, nada a menos do que "conhecimento popular", já que o termo surgiu a partir da junção de duas palavras em inglês: Folk (povo) e Lore (conhecimento), que compôs um artigo do pesquisador William Jonh Thoms, em 1846.
De acordo com a Carta do Folclore Brasileiro, aprovada pelo primeiro Congresso Brasileiro de Folclore, em 1951, o fato folclórico é constituído pelas "maneiras de pensar, sentir e agir de um povo, preservadas pela tradição popular, ou pela imitação" e pode ser percebido na alimentação, na linguagem, no artesanato, na religiosidade e nas vestimentas de uma nação.
Assim, o folclore inclui mitos, lendas, contos populares, brincadeiras, provérbios, adivinhações, orações, maldições, encantamentos, juras, xingamentos, gírias, apelidos de pessoas e de lugares, desafios, saudações, despedidas, trava-línguas, festas, encenações, artesanato, medicina popular, danças, música instrumental e canções, definiu o IBGE.
A partir das tradições e dos costumes de cada povo, surgem as lendas e os mitos, explicou o professor da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Gildeci Leite. "As narrativas [como gosta de definir as lendas] são criadas por autores coletivos de forma espontânea e traçam comportamentos dos valores de determinados grupos."
"Quem conta um conto, aumenta um ponto"
O professor salientou as diferentes maneiras de se contar uma mesma narrativa. Ele utilizou o ditado "quem conta um conto aumenta um ponto" e as diferentes culturas para justificar a causa da mudança das narrativas. O Boitatá, por exemplo, é contado de formas diferentes no Norte/Nordeste e no Sul.
A mitologia também foi considerada por Gildeci Leite como pedagógica. "As narrativas unem o maravilhoso e o pedagógico. Chama a atenção das crianças para a diversidade cultural", comentou o professor.
Conheça algumas lendas:
- Curupira
O Curupira é um defensor das matas e dos animais silvestres. Seus alvos principais são os caçadores, lenhadores e pessoas que destroem as matas de forma predatória.
Para assustar os caçadores e lenhadores, o curupira emite sons e assovios agudos, tem cabelos compridos e pés virados para trás. Quando alguém desaparece nas matas, acredita-se que é obra do curupira.
- Boitatá
Representado por uma cobra de fogo e conhecido como "Fogo que corre", o Boitatá também tem o papel de proteger as matas e os animais. Na narrativa, o personagem tem a capacidade de perseguir e matar aqueles que desrespeitam a natureza.
Acredita-se que este mito é de origem indígena e que seja um dos primeiros do folclore brasileiro. Foram encontrados relatos do boitatá em cartas do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560.
- Saci-Pererê
Originado entre as tribos indígenas do Sul do Brasil, o Saci tem apenas uma perna, usa um gorro vermelho e sempre está com um cachimbo na boca. Era retratado como um curumim, com duas pernas, cor morena e um rabo típico.
Com a influência da mitologia africana, o saci se transformou em um negro que perdeu a perna lutando capoeira, além disso, herdou o pito, uma espécie de cachimbo, e ganhou da mitologia europeia um gorrinho vermelho.
- Iara
Também conhecida como a “mãe das águas”, Iara é uma sereia de origem indígena, morena de cabelos negros e olhos castanhos. A lenda conta que a personagem fica nos rios do Norte do país, onde costuma viver. Nas pedras das encostas, costuma atrair os homens com seu belo e irresistível canto.
As vítimas costumam seguir Iara até o fundo dos rios, local de onde nunca mais voltam. Os poucos que conseguem voltar acabam ficando loucos em função dos encantamentos da sereia. Somente um ritual realizado por um pajé (chefe religioso indígena, curandeiro) pode livrar o homem do feitiço.
- Boto
Um boto cor-de-rosa, de origem amazônica, sai dos rios nas noites de São João e com um poder especial: transformar-se em um lindo jovem vestido com roupa social branca. Ele usa um chapéu branco para encobrir o rosto e disfarçar o nariz grande.
Com seu jeito galanteador e falante, o boto se aproxima das jovens desacompanhadas e as seduz. Logo após, consegue convencer as mulheres para um passeio no fundo do rio, local onde costuma engravidá-las. Na manhã seguinte volta a se transformar no boto.
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