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Zona Franca de Manaus busca prorrogar incentivos fiscais com discurso verde

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17/12/2013 às 9:00 • Atualizada em 02/09/2022 às 1:52 - há XX semanas
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Foto: Divulgação/Suframa

Por Agência USP

A Zona Franca de Manaus (ZFM) foi criada pela ditadura militar em 1967 com o intuito de impulsionar o desenvolvimento da região amazônica. Agora, a tentativa de prorrogação dos incentivos fiscais se apoia no argumento de que as indústrias presentes na capital amazonense protegem a floresta.

os defensores do Polo Industrial afirmam que se os incentivos acabarem as empresas irão embora de Manaus e os seus quase 520 mil trabalhadores avançarão sobre a floresta

Em sua tese de doutorado no Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental (Procam) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, a jornalista Thais Brianezi analisou o deslocamento no discurso de legitimação da ZFM, tendo como base 265 pronunciamentos dos parlamentares federais do Amazonas, 19 edições da revista institucional da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e 626 matérias do mais importante jornal do estado, “A Crítica”, publicados entre 2007 e 2010. A análise mostrou que o “esverdeamento” do discurso de defesa da ZFM não se traduz em ações que aproximam a produção industrial da biodiversidade da região.

O projeto inicial da ZFM seguia a cartilha das zonas de processamento de exportação proposta pela Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Onudi), na qual os incentivos fiscais são provisórios. Neste caso, eles deveriam durar 30 anos, ou seja, até 1997. Apesar disso, duas emendas constitucionais, aprovadas em 1988 e 2003, prorrogaram as isenções fiscais até 2013 e 2023, respectivamente. Atualmente, está em tramitação no poder legislativo federal um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) que concede às empresas mais 50 anos de benefícios (até 2073, portanto).

A ZFM dá incentivos fiscais para as empresas que se estabelecerem lá. A isenção do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) e a redução de até 88% do Imposto de Importação permite que indústrias produzam em Manaus usando insumos importados, a um custo competitivo. Assim, a cidade é a quarta capital com maior PIB do Brasil — riqueza gerada especialmente pelas 600 empresas lá existentes, que geram 119 mil empregos diretos e 400 mil indiretos.

Segundo a pesquisa, a nível nacional, o discurso de geração de emprego e renda já não tem força, pois o Amazonas responde por menos de 1,5% do PIB nacional. Já que uma PEC deve ser votada por parlamentares de todo o País, a estratégia tem sido a de afirmar que a Zona Franca é a responsável pelo fato de que 98% da cobertura vegetação do Amazonas está conservada.

A partir daí, criou-se uma narrativa que Thaís chamou de roteiro da dupla ameaça (desemprego e desmatamento): os defensores do Polo Industrial afirmam que se os incentivos acabarem as empresas irão embora de Manaus e os seus quase 520 mil trabalhadores avançarão sobre a floresta. “Esse é um discurso de raízes preservacionistas, no qual floresta em pé é floresta sem gente. Por que que a volta dos trabalhadores para o interior do Amazonas necessariamente significa destruição?”, indaga a jornalista.

Esverdeamento

Uma lei municipal de Manaus obriga que qualquer empresa com mais de 40 funcionários tenha tratamento próprio de esgoto, mas em 2009, mesmo com média de 264 trabalhadores por empresa, menos de 55% delas tratava os efluentes que gerava

Para fortalecer o argumento de que o Polo Industrial de Manaus protege a floresta e apresentá-lo como defesa da ZFM no Congresso Nacional, a Suframa encomendou uma pesquisa sobre os impactos das indústrias à floresta amazônica. Ela foi feita pelo Instituto Piatam, instituição de pesquisa independente. Os resultados do estudo indicaram que, se não houvesse o Polo Industrial de Manaus, a taxa de desmatamento no Amazonas teria sido até 77,2% mais alta entre 2000 e 2006.

“Este estudo serviu de base para a afirmação de que, por isso, a ZFM é sustentável. Mas nos indicadores usados nele, a existência ou não de estradas não foi levada em consideração. Além disto, sustentabilidade não se reduz à questão do desmatamento. Não dá para ignorar, por exemplo, que um quarto dos moradores de Manaus não têm acesso à água encanada, mesmo morando na maior bacia hidrográfica do planeta”, argumenta Thaís.

Enquanto a pesquisa do Piatam foi amplamente divulgada, outro estudo feito pela Suframa, desta vez em parceria com a Agência de Cooperação Internacional do Japão (JICA), que avaliava a gestão de resíduos industriais no Polo de Manaus, teve pouca repercussão. Este levantamento apontou diversos problemas, entre eles a destinação de resíduos tóxicos no aterro municipal (não licenciado) e a falta de tratamento de efluentes por muitas empresas.

Uma lei municipal de Manaus obriga que qualquer empresa com mais de 40 funcionários tenha tratamento próprio de esgoto, mas não é o que acontece. Em 2009, mesmo com média de 264 trabalhadores por empresa, menos de 55% delas tratava os efluentes que gerava, segundo pesquisa da JICA.

Leia a tese na íntegra

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