Você já comeu um fast food ou um hot dog enquanto passeava pelo Shopping Center ou se divertiu assistindo a um show ou jogando videogame? O número de palavras de origem inglesa no vocabulário do brasileiro é imenso e parte da nossa forma de se expressar passa pela utilização dessas palavras. Esse fenômeno é chamado de anglicismo ou estrangeirismo e consiste no empréstimo de palavras do inglês.
Existem alguns motivos para o anglicismo, entre eles a necessidade de nomear objetos ou fenômenos que ainda não possuem nomenclatura adequada em português. "Essas palavras geralmente são conceitos ou conhecimentos novos que vêm com essa língua", conta Juliana Soledade, professora na Faculdade de Letra da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e pesquisadora da área de Léxico (repertório de palavras existentes numa determinada língua) e História da Língua Portuguesa.
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Outro motivo para esse tipo de movimento, é a forte influência cultural que países de língua inglesa exercem atualmente. "Quando não há presença massiva de imigrantes para essa cultura, [essa influência] se dá pelo o que chamamos de contato linguístico cultural. Isso reflete muito no léxico", pontua a pesquisadora. Esse é um processo natural e que sempre acontece na história das línguas que, como uma entidade viva e fortemente ligada à cultura, se modifica ao longo do tempo.
No caso do Brasil, esse fenômeno não está unicamente ligado ao consumo crescente de elementos midiáticos norte-americanos, como séries, filmes e músicas. Por causa do processo de colonização, nosso país foi historicamente construído mediante a desvalorização do nacional, nativo e a valorização do estrangeiro.
Então isso quer dizer que o anglicismo é, puramente, um movimento negativo? Segundo Juliana, seria simplista pensar dessa forma. "A língua é dinâmica e precisa desses empréstimos. Esses estrangeirismos não são adotados de forma aleatória", afirma.
Gírias e dia a dia
Apesar da justificativa conceitual para a adoção de palavras de origem inglesa, atualmente tem se tornado cada vez mais comum a utilização de palavras em inglês para se expressar informalmente. Nas redes sociais, é corriqueiro ter a utilização das expressões old (velho), shady (suspeito), out (fora) para traduzir sentimentos.
Nesse sentido, até que ponto essa incorporação é natural ou um movimento que desvaloriza expressões brasileiras? Segundo Juliana, é importante que o brasileiro entenda o tipo de escolha que se faz ao utilizar expressões estrangeiras no dia a dia.
"Essa escolha talvez seja inconsciente, espontânea, mas tem a ver com uma forma de se colocar no mundo. Do ponto de vista identitário, [essa escolha] tem a ver com se associar a uma comunidade ou outra comunidade", afirma a pesquisadora. Ela complementa dizendo que quando se opta por dizer "I love you" ou "Eu te amo", faz-se uma escolha de alinhamento cultural.
Por outro lado, a pesquisadora diz que movimentos que buscam impedir ou abolir esse fluxo são igualmente bobagem. "A língua se comporta de acordo com o uso dos seus falantes", destaca Juliana.
Jeitinho brasileiro
Por isso, um dos aspectos desse movimento, são as palavras que foram “aportuguesadas”, ou seja, na nossa língua a pronúncia e estrutura da palavra foram reestruturadas. Palavras como estresse (stress), piquenique (picnic), futebol (football) e até mesmo a expressão trolar (flexão da palavra inglesa "troll") são exemplos de como o brasileiro se apropriou de alguns termos.
Diversos movimentos culturais no Brasil carregam essa característica. Músicas são um campo rico para esse tipo de fenômeno, tanto que muitas palavras de origem inglesa são incorporadas por artistas. “Samba do Approach”, de Zeca Baleiro, brinca com o anglicismo na letra, misturando significados e questionando os limites desse movimento.
“Diz aí, tu tem approach?
É... xará! Vou... vou procurar saber
Depois eu te falo, que eu tô meio perdido ainda aqui
Mas depois eu falo pra você
Mas approach é isso aí: borogodó, ziriguidum, balacobaco”, brinca o cantor na música
No fim, a fluidez e versatilidade da língua e do povo brasileiro resultam em movimentações imprevisíveis que ampliam os limites do próprio idioma. "O brasileiro tem essa [característica] de não se restringir a outras culturas e, ao mesmo tempo, a capacidade de incorporar e dar um jeitinho brasileiro as coisas", finaliza a pesquisadora.
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Iamany Santos
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