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Sicario: Terra de Ninguém; confira crítica do filme policial

O filme conta a história da agente do FBI (Emily Blunt), exposta ao mundo brutal do tráfico internacional de drogas

• 22/10/2015 às 23:32 • Atualizada em 29/08/2022 às 20:29 - há XX semanas

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Cinemáticos Redação Cinemáticos
A graça do cinema de Denis Villeneuve (Os Suspeitos, O Homem Duplicado) está na desgraça. Talvez apenas David Fincher (uma clara influência para o diretor franco-canadense) consiga retratar situações calamitosas e desconfortos psicológicos entranhados em atmosfera de pesadelo com tamanha naturalidade. Em Sicario, Villeneuve aproxima-se dos filmes de ação sem abandonar totalmente os densos thrillers que fizeram seu nome, numa obra que, a exemplo de sua filmografia, aposta no desconforto do espectador. A sequência de abertura é algo admirável na sua opressão. Numa casa desolada de Phoenix, um batalhão especializado em sequestros encontra algo muito mais bizarro do que qualquer um poderia imaginar. A forma de apresentar algo tão macabro e impactante aliado a uma técnica fria e calculada já de cara é algo que afastará os espectadores mais frágeis, enquanto os fortes aguardarão a brutalidade inaugural ser superada (não vai, mas chega perto). Sicario é um filme sobre ciclos infindáveis de violência, instituições cujas soluções para estar acima da lei é alterar a própria, atropelando qualquer um pela frente na infame e eterna guerra contra as drogas. Villeneuve faz um trabalho impecável em transcender a mera violência da ação/tensão que esse tipo de filme oferece e aproveita seu talento para criar uma atmosfera perniciosa que nunca dá trégua, como se esse jogo sujo fosse algo do qual não é possível escapar.
Se a direção consegue provocar perfeitamente os efeitos pretendidos, boa parte disso conta com a ajuda do mestre Rogers Deakins, como sempre, acertando de forma brilhante todos os enquadramentos e a forma como são iluminados.É surpreendente pensar em retrospecto como o veterano diretor de fotografia é capaz de tirar tanta beleza de uma realidade incrivelmente repulsiva como a retratada em Sicario sem parecer algo forçado. A música de Jóhann Jóhannsson é outro ponto fundamental na criação da atmosfera extremamente desagradável do filme em momentos pontuais, ainda que boa parte do longa também aproveite o silêncio para incomodar. Quanto ao elenco não há o que questionar: Josh Brolin brilha como o macho alfa texano e representação principal da máquina estadunidense cheio de piadas e uma suposta irreverência encobrindo os questionáveis atos da operação sob seu comando, enquanto Benicio del Toro com sua interpretação costumeiramente discreta esconde muito dos segredos da produção, falando quase o tempo todo em charadas e, talvez, uma epítome do México e sua narcocultura, nos qual a repressão explode em violência.
Como sempre, haverá gente reclamando que os personagens dos filme de Villeneuve não são empáticos, mas é fundamental lembrar que boa parte deles tem mais a intenção de funcionar como símbolos do que pessoas de carne e osso – o que prejudica, parcialmente, coadjuvantes que estão lá apenas para ajudá-los nisso. Diferente de seus dois filmes anteriores, Villeneuve aposta numa mulher como protagonista, e Emily Blunt está excelente na função. É louvável incentivar mulheres fortes em papéis que poderiam ser perfeitamente entregues a qualquer astro masculino. O problema de Sicario não está aí, mas no fato da personagem Kate Macer ser absolutamente insossa e ingênua ao ponto da incredulidade. Como o próprio filme faz questão de esclarecer, ela é uma agente com anos de experiência e testemunhou muitas barbaridades. A forma como ela é jogada de um lado para o outro pelo personagem de Brolin questiona a ética da operação na qual aceitou ser jogada apenas quando o roteiro convém, além de continuamente acreditar que está fazendo “o bem” – mesmo cercada de pessoas suspeitas e mercenários – chega a dar nos nervos de tão forçado. Por mais que sua personagem esteja ali para contrapôr o lado “negro” da força, até o fim da projeção com o progressivo massacre ideológico de instituições que Villeneuve e o roteirista Taylor Sheridan fazem questão de desconstruir, ela acaba soando frágil e não é capaz de sustentar o longa. Mesmo com esse fundamental problema e um final que deve demais a Traffic, Sicario é uma obra marcante. Villeneuve é um diretor no topo do seu talento e capaz de elevar qualquer roteiro falho que caia em suas mãos. Resta esperar do que ele será capaz em Blade Runner 2.

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