Os guizos das botas de Marcos Palmeiras são ouvidos ao longe. É o aviso de que Cícero não demora a chegar. Apesar de estar vestido do jagunço de “Velho Chico”, a diferença entre os dois está no semblante: o ator esbanja serenidade e um ar brincalhão.
— Não sou de levar o personagem para casa. A carga pesada fica nele. Eu me divirto muito com tudo isso. Acabou aqui, já estou ligado em outra coisa — diz Marcos.
O ator mergulhou em Cícero sem saber muito bem aonde o personagem iria dar.
— Foi um mergulho no escuro. Quando o diretor Luiz Fernando Carvalho me chamou, Cícero não tinha desenvolvimento na sinopse da história. Mas eu sabia que ia dar um caldo. E por ser o oposto de mim, um cara agressivo, com sangue nos olhos, posso exercitar minha violência através dele. Em termos terapêuticos, é ótimo — afirma Marcos.
Convivendo com a paixão por Maria Tereza (Camila Pitanga) há 30 anos, Cícero ainda nutre esperanças. O que é um perigo, na visão do ator:
— Cícero criou um amor por Tereza. Tudo o que ela faz ele acha que é um sinal, que ela está correspondendo ao sentimento. É muito perigoso isso, viver fora da realidade, como ele. E existe esse tipo de coisa na vida real. Um amor não correspondido deve servir como uma reflexão, não como uma obsessão.
Mas Marcos acredita que ainda há um caminho para a redenção do jagunço: Dalva (Mariene de Castro).
— A gente fica querendo que ele tenha um momento de prazer, de carinho, de afeto. Seria interessante ele se deixar abraçar, de fato, por Dalva, que é xucra como ele, mas determinada no que quer. O romance com ela poderia despertar um novo Cícero, menos violento e mais romântico — torce.
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