Situado entre a Estrada das Barreiras e a BR 324, o bairro São Gonçalo do Retiro fica em uma região que era ocupada pelos quilombos do Cabula e do Urubu, que foram destruídos no século XIX. Com a destruição, as primeiras grandes fazendas começaram a surgir, entre elas a fazenda São Gonçalo, que naturalmente acabou se tornando o nome do bairro. Segundo alguns historiadores, ela foi uma grande produtora de laranja que abastecia toda cidade, entre o final do século XIX e início do XX.
A localidade reserva um dos mais importantes patrimônios da religião africana – o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, fundado em 1910, que foi comandado por mais de quatro décadas pela ialorixá Mãe Stella de Oxossi, que faleceu em 2018.
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Lurdevaldo Silva, de 74 anos, mora na localidade desde os 10 anos de idade e lembra com detalhes de como era a região no passado: “Eu lembro da época em que eu vim para cá, ainda garoto, que ainda não tinha água encanada, transporte, afasto. Era um bairro que repleto de fazendas, com casas distantes umas das outras. A única coisa que tinha, que tem até hoje, é o terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, que na época era comandado por Mãe Senhora e depois passou para Mãe Stella”.
E complementa: “A região foi modificando ao longo dos anos, as pessoas começaram a comprar terrenos, fazendo suas residências e hoje em dia está um bairro muito populoso”.
Entre as evoluções do bairro, Lurdevaldo destaca que, com o crescimento populacional, houve uma ampliação na quantidade de acessos para chegar na localidade. “Depois de uns 20 anos, mais ou menos, começaram a construir os acessos para a BR 324, ao Retiro e a outros bairros vizinhos, que antigamente não tinha como ir”.
Se por um lado o acesso à região ficou mais fácil, por outro o serviço de transporte público é motivo de insatisfação para os moradores. O líder comunitário Jorge Silva de Freitas, que mora em São Gonçalo do Retiro há mais de 10 anos, ressalta que o que era melhorar com o passar dos anos acabou se tornando uma dificuldade diária para os moradores.
“A gente ainda sofre muito com o problema de transporte. Nós tínhamos cinco linhas de ônibus, que foram retiradas com a chegada do metrô e a população ainda sofre. Inclusive, tem moradores que informam que antes tínhamos ônibus até meia noite e agora param de circular no bairro a partir das 22h30. Com isso, muitos precisam descer na via principal e terminar o trajeto a pé”, afirma.
“Nós tínhamos Barroquinha, Lapa / Campo Grande, São Joaquim e Pituba. Como centralizou tudo pelo metrô, ficou inviável utilizarmos os coletivos. Sei que há a possibilidade de fazermos integração, mas sabemos que fazer esse deslocamento fica mais complicado, principalmente se for pessoas idosas, doentes... Além disso, há outras regiões próximas que possuem o serviço de transporte complementar, o amarelinho, e aqui não tem, mesmo sendo uma reivindicação antiga”.
Procurada
pela produção do Fala Bahia, a Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana de
Salvador (Semob) informou que o atendimento no bairro São Gonçalo permanece
sendo feito normalmente e o último horário de saída da linha 1118 – Terminal
Acesso Norte x São Gonçalo é às 22h40, quando o ônibus sai do Terminal Acesso
Norte em direção ao bairro.
O órgão destacou, ainda, que a operação da linha está sendo acompanhada pelo setor de programação, que está avaliando a possibilidade de inclusão de mais uma viagem. Com relação à implantação de um veículo do sistema complementar, a pasta disse está analisando a possibilidade de circulação do veículo no local.