Um dos grandes nomes da música popular brasileira chega aos 80 anos nesta quinta-feira (14) com alma eternamente jovem e infinita capacidade de se reinventar. O cantor, compositor, instrumentista e arranjador brasileiro Marcos Valle, que iniciou a carreira nos anos 60, alcança a marca das oito décadas de vida com um currículo musical múltiplo, que vai da Bossa Nova ao chamado "brazilian boogie" e agrega diversas colaborações com artistas da nova geração.
Marcos Kostenbader Valle começou a estudar piano clássico aos seis anos de idade e é considerado um dos integrantes da segunda geração da Bossa Nova. No início dos anos 60, começou a frutífera parceria com seu irmão, Paulo Sérgio Valle. O primeiro LP veio em 1963. No ano seguinte, Marcos Valle já cravou seu nome na história da música brasileira e mundial com o clássico "Samba de Verão", que atingiu o segundo lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e teve pelo menos 80 versões gravadas no país.
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De volta ao Brasil com jazz e bossa
Após uma temporada na terra do Tio Sam, Valle voltou para o Brasil em 1967. Novos álbuns vieram, e com eles, novos sucessos: "Viola Enluarada", "Mustang Cor de Sangue", "Black Is Beautiful", "Com Mais de 30" e muitos outros, só para citar aqueles que foram lançados entre o fim dos anos 60 e o início da década seguinte. A sonoridade desses trabalhos já não se limitava à Bossa Nova, agregando elementos do jazz e do funk norte-americano.
Na primeira metade dos anos 70, Marcos Valle firmou uma parceria musical emblemática com o grupo instrumental Azymuth e produziu trilhas sonoras de filmes, como "O Fabuloso Fittipaldi" (1973). Também atuou fortemente na produção de jingles e trilhas de novelas. Vendo-se acuado pela censura e pelo endurecimento do regime militar após o Ato Institucional Nº 5, decretado em 1968, Valle decidiu partir para os Estados Unidos novamente em 1975. Lá, interagiu com grandes nomes da música, como Sarah Vaughan e Airto Moreira.
De volta ao Brasil (outra vez) com boogie
Quando Marcos Valle voltou ao Brasil, em 1980, o país já era outro e o momento musical também. Com a abertura política e a anistia, decretada em 1979, havia a expectativa pelo fim da ditadura militar. Nas paradas de sucesso, a disco music e o pop americano alcançavam os primeiros lugares, influenciando, inclusive, a produção musical brasileira. Era um período bem menos sombrio, e foi nesse contexto que Valle lançou o LP "Vontade de Rever Você", em 1981. Nele, há composições em parceria com o norte-americano Leon Ware, que trabalhava constantemente com Marvin Gaye, como "Velhos Surfistas Querendo Voar" e "A Paraíba Não É Chicago".
Em 1983, a pegada dançante continuou com o lendário álbum "Marcos Valle", que trouxe o single "Estrelar", a trilha de toda uma "geração saúde" que emergia na década de 80. Havia, ainda, releituras de "Samba de Verão" e "Viola Enluarada", seus sucessos dos anos 60. Nesses dois trabalhos, Valle ajudou a fundar o que hoje se conhece lá fora como "brazilian boogie", uma variante da disco music mais suingada e com tempero brasileiro.
Passado, presente e futuro
Ao longo dos anos 90 e 2000, Marcos Valle trabalhou em projetos de homenagem à Bossa Nova, mas também abriu novas parcerias e lançou álbuns de músicas inéditas, como "Estática" (2010), "Sempre" (2019) e "Cinzento" (2020). Suas canções da era brazilian boogie foram redescobertas por pesquisadores e DJs norte-americanos, atraindo interesse a ponto de seu álbum de 1983 ter ganhado treze novas edições em vinil nos últimos seis anos, segundo dados da plataforma Discogs.
Interagindo com as novas gerações, Valle marcou presença no álbum "AmarElo" (2019), de Emicida, e gravou com Liniker o single "Vida" (2022). O artista também tem uma colaboração com a banda Jovem Dionísio. Neste fim de semana, o artista será homenageado em um show no Coala Festival, em São Paulo, com as participações das cantoras Céu e Joyce Moreno.
Ouça mais sucessos de Marcos Valle:
Viola Enluarada
Black Is Beautiful
Nem Paletó, Nem Gravata
Velhos Surfistas Querendo Voar
Bicicleta