Mais do que "apenas um rapaz latino-americano", para citar uma de suas canções, Belchior (1946-2017) é um símbolo da Música Popular Brasileira. Suas composições em grande parte autobiográficas, lançadas nos anos 70, atravessaram gerações e ainda hoje são reconhecidas pela genialidade. Por essa razão, o ator Rogério Silvestre decidiu homenagear o cantor e compositor cearense no espetáculo "Belchior: Sujeito de Sorte", que está em cartaz no Teatro Jorge Amado, em Salvador, neste sábado (2) e no domingo (3). No palco, ele interpreta o artista, acompanhado por cinco músicos, e apresenta 16 textos e 17 canções.
Em entrevista ao Mundo GFM, Silvestre contou que a ideia do espetáculo surgiu após uma provocação de um amigo, enquanto o ator estava envolvido com o musical "Gonzaguinha: O Eterno Aprendiz". A peça em homenagem ao cantor e compositor carioca Luiz Gonzaga Júnior (1945-1991), contemporâneo de Belchior, está em cartaz há 10 anos e já passou por Salvador.
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"Um amigo de Brasília falou 'Rogério, esgotaram-se todas as possibilidades de fazer o Gonzaguinha aqui. Você nunca pensou em fazer o Belchior?'. Eu disse que iria pensar. Conversando com os músicos, inclusive o Cacá Franklin, que é o diretor musical, perguntei o que ele achava, e ele achou maravilhoso", contou.
O "desafio" foi aceito e o ator fez um verdadeiro mergulho na vida e na obra de Belchior. "Comecei a ler vários livros do Belchior, entrevistas no YouTube, histórias, conheci algumas pessoas que tiveram contato com o Belchior, e foi um processo longo. O mais difícil foi achar o repertório que encaixasse com o texto também, porque há músicas que não são tão conhecidas, mas combinam com o texto. Quando você mergulha muito numa coisa, parece que ela vai canalizando para um bem maior", explicou Silvestre, que também assina o roteiro do espetáculo, com direção teatral assinada por Moysés Faria.
Para o ator, as obras de Gonzaguinha e de Belchior, dois cronistas de seu tempo, têm em comum a 'genialidade'. "Gonzaguinha é um gênio da música popular brasileira, que deixa um legado muito importante pro nosso país, e o Belchior também, embora os dois tenham estilos muito diferentes", resumiu.
Todos ouvem Belchior
Embora tenha alcançado o auge do sucesso entre 1976 e 1979, após ser lançado como compositor pela cantora Elis Regina (1945-1982) - que gravou as músicas "Como Nossos Pais" e "Velha Roupa Colorida" no álbum "Falso Brilhante" (1976) -, Belchior mantém status de ídolo e impacta inclusive as novas gerações. Na plataforma de streaming Spotify, por exemplo, o artista cearense tem 1,2 milhão de ouvintes mensais, e a reedição em vinil do álbum "Alucinação" (1976) está sempre nos primeiros lugares em vendas do formato nas lojas digitais, como a Amazon.
Segundo Silvestre, essa tendência se reflete no perfil do público que assistiu a "Belchior: Sujeito de Sorte" em cidades como Brasília, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
"É uma coisa muito interessante, porque o público do Gonzaguinha é um público mais velho, e o Belchior tem essa coisa de interessante, trouxe o público jovem. Eu me sinto orgulhoso e fico feliz por isso, de terem jovens se interessando por uma obra tão complexa e inteligente. Jovens universitários, formadores de opinião... eu fiquei muito feliz por ver esse mix de plateia", comentou.
"Exílio" sem respostas
O espetáculo de Silvestre também trata de um episódio não esclarecido e rodeado de controvérsias: o "exílio" voluntário de Belchior, que abandonou família e bens para viajar com a companheira Edna Prometheu. Anos antes da morte do artista, a imprensa chegou a noticiar em diversas ocasiões o "sumiço" do cantor e compositor, que também virou assunto do livro "Viver É Melhor Que Sonhar: Os últimos caminhos de Belchior", de Chris Fuscaldo e Marcelo Bortoloti, publicado em 2021.
Questionado sobre qual seria, em sua opinião, o motivo do autoexílio de Belchior, o ator disse acreditar que a situação fugiu do controle do músico. "É uma coisa muito íntima dele. Eu tenho uma teoria que inclusive eu falo no espetáculo, acho que ele foi abduzido, totalmente abduzido. Era um gênio e eu acho que ele entrou numa enrascada e não conseguiu sair. Às vezes a gente passa por essas loucuras na vida. No início foi uma grande aventura, mas no meio do processo foi um grande desespero", disse.
Serviço
- O quê: "Belchior: Sujeito de Sorte"
- Onde: Teatro Jorge Amado (Av. Manoel Dias da Silva – Pituba)
- Quando: 02 de setembro (sábado), 21h; 02 de setembro (domingo), 20h
- Quanto: R$ 100 (inteira) / R$ 50 (meia) - à venda no Sympla