Por influência do blues, o jazz surge no mundo a partir da mistura de ritmos e canções dos escravos e religiosos negros dos Estados Unidos. Quando chega a Bahia se conecta a ritmos ligados a ancestralidade, como o samba, o ijexá e o axé.
O jazz é o grito da liberdade por um povo que foi impedido de ter Guiga Scott, um dos fundadores da Orkestra Rumpilezz.
A liberdade enraizada no jazz se conecta diretamente à maneira de tocar. Diferente do blues, caracterizado por músicas cantadas em lavouras de algodão, o jazz evidencia a improvisação instrumental.
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Em 30 de abril é celebrado o Dia Internacional do Jazz e para celebrar este período, o Mundo GFM produziu uma série de cinco reportagens para contextualizar e refletir sobre o cenário do ritmo em Salvador, tratando da força de um gênero musical que é símbolo de resistência e segue desafiado a manter espaço próprios.
Som que atravessou o oceano

Em Salvador, o jazz ganhou destaque entre os anos 70 e 80, com artistas nacionais que despontaram no gênero e, principalmente, com iniciativas pioneiras como o Festival de Música Instrumental da Bahia, realizado por Zeca Freitas ao longo de 36 anos.
Porém, antes mesmo da criação do festival, a capital baiana já abrigava grupos e artistas que se dedicavam ao gênero. Segundo o maestro e instrumentista Zeca Freitas, o cenário nos anos 1970 já era pulsante.
"Essa ideia de fazer um festival era porque já existiam grupos de jazz e de outros gêneros instrumentais, até rock instrumental existia. Mou Brasil e Paulinho Andrade, por exemplo, são músicos de 1975 e que são importantes até hoje", relembra.
O nascimento do Festival de Música Instrumental da Bahia

Outros grupos também movimentavam a cena nos anos 70, como o Pulsa, Operanóia, Banda de Vidro, Andrea Daltro e a banda Canja. A partir destas inspirações, surgiu a ideia, de Fred Dantas e Franklin de Oliveira, de criar um festival de jazz que destacasse os músicos da região.
Eles convidaram Zeca Freitas para realizar o evento e, com a sugestão dele, o festival foi ampliado para destacar instrumentistas da cidade, não apenas do jazz.
Assim nasceu, em 1980, o Festival de Música Instrumental da Bahia, que cresceu rapidamente e se tornou um marco da cena musical de Salvador.
Com o festival, o jazz e a música instrumental ganharam ainda mais força na cidade, impulsionando novos talentos e grupos, como foi o caso da Orkestra Rumpilezz que estreou em 2006 na 26ª edição do evento.
O auge do instrumental em Salvador
O Festival de Música Instrumental da Bahia viveu o auge no início dos anos 2000, quando realizou um antigo sonho de trazer para Salvador o arranjador e multi-instrumentista de Alagoas, Hermeto Pascoal.

Depois deste feito, o festival contou com a presença de outras estrelas nacionais como César Camargo Mariano e Heraldo do Monte, como também promoveu intercâmbios internacionais, recebendo orquestras da Suécia e da Argentina.
Embora a última edição tenha ocorrido em 2016, o festival segue sendo lembrado por artistas da cena instrumental como um marco histórico para o jazz na capital baiana e, para Zeca Freitas, está longe de ser considerado encerrado. "O festival pertence ao futuro", afirma com esperança.

Hoje, o jazz e a música instrumental em Salvador sobrevivem nos pequenos palcos, como no Ponto de Cultura Jazz na Avenida, na Boca do Rio, a Casa da Mãe, no Rio Vermelho, e eventos como a Jam no MAM e o Oxe é Jazz. São espaços que mantêm viva a essência do improviso e da liberdade criativa que o jazz representa.
Série do Jazz no Mundo GFM
Nesta semana em que é celebrado o Dia Internacional do Jazz, o Mundo GFM divulga uma série com cinco reportagens que evidenciam a importância e conexão do gênero com a capital baiana.
Na próxima reportagem, você confere nomes de artistas e orquestras que fazem parte desta história.