Quem pensa que Elis Regina estrou nas rádios como cantora está completamente enganado. Em 1967, a grande estrela da música brasileira começava nas ondas do rádio como locutora. No programa, nunca distribuído, a artista leu poemas, horóscopos e respondeu cartas de ouvintes.

O programa, intitulado "O canto de Elis", tinha uma hora de duração e ainda contava com um bate-papo inusitado entre Elis Regina e alguns dos grandes nomes da MPB: Claudete Soares, Nana Caymmi e Marília Medalha.
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As quatro riram juntas e conversaram sobre os detalhes dos festivais de música, das vaias da audiência, de seus compositores e uma peça de roupa bastante icônica nos anos 60 e 70: a minissaia.
Sobre esse assunto, Claudete Soares brincou: "Amor, eu só tenho um medo: de as saias voltarem a ser compridas".
Saiba mais sobre os bastidores do programa inédito nunca lançado de Elis Regina
O projeto, que chegou ao público somente 58 anos depois da gravação, está disponível no jornal Folha de São Paulo, e foi criado a partir da amizade entre a cantora carioca e o produtor musical português Carlos Leite Guerra, hoje com 83 anos de idade.
O produtor começou a frequentar o apartamento de Elis Regina por meio de amigos em comum, e enquanto trabalhava na agência de propaganda Norton, produziu o programa.
"A gente iria gravar, montar os comerciais, copiar e mandar para as emissoras do Brasil. O programa seria de variedades, falando de horóscopo, contando uma historinha, dando um conselho, tocando uma música, entrevistando alguém", comentou o publicitário.

Guerra ainda lembra que ao aceitar gravar o programa, Elis parecia não se importar com o salário que ganharia: "Marcamos um dia, fomos lá na Sonotec [estúdio em São Paulo], ela levou o quinteto do Luiz Loy e fizemos ao vivo. Ela falava, os caras tocavam e gravamos o que saiu no estúdio".
Após a gravação, Guerra conta que um problema nos bastidores envolvendo os lucros acabou sendo a causa do arquivamento do "Canto de Elis" por quase 60 anos. Segundo o produtor, o então esposo de Elis Regina, Ronaldo Bôscoli, sugeriu cortar a participação do diretor e roteirista do programa, Divo Dacol, para que os lucros fossem maiores.
A sugestão foi negada e o programa de Elis Regina nunca foi veiculado. O áudio ficou em posse de Guerra até esse ano.