Além dos grandes hits que você já conhece, a obra da Rainha do Rock brasileiro, Rita Lee, inclui algumas pérolas que nem sempre são lembradas. O Mundo GFM reuniu algumas dessas canções para homenagear a cantora e compositora, que faleceu na noite de segunda-feira (8).
Confira:
Gente Fina É Outra Coisa
Leia também:
A faixa, composição da própria Rita Lee, ficou desconhecida do grande público até os anos 2000. Ela faria parte do álbum "Tutti Frutti", que seria lançado em 1973 pela gravadora Phonogram (atual Universal Music), por incentivo do presidente da companhia, André Midani. No entanto, o projeto foi considerado pouco vendável pela gravadora, que o cancelou logo em seguida.
A artista narra o episódio em sua autobiografia, publicada em 2016: "O disco-Titanic, que se chamava apenas Tutti Frutti, naufragou antes mesmo de zarpar. A trip da 'cantora queridinha do boss' resultou num sonoro cemitério psicodélico e foi sumariamente recusada pela gravadora".
Em 2008, o álbum ganhou um lançamento não-oficial sob o nome de "Cilibrinas do Éden", projeto criado por Rita Lee e Lúcia Turnbull naquele mesmo ano de 1973, mas não diretamente relacionado com o álbum engavetado. "Gente Fina É Outra Coisa" é a quarta faixa do trabalho.
Cartão Postal
Composta por Rita em parceria com Paulo Coelho, a faixa faz parte do disco "Fruto Proibido", primeiro disco oficial da Rainha do Rock com o grupo Tutti Frutti. Em ritmo de blues-rock, é uma canção menos lembrada em meio a tantos sucessos presentes no álbum, que conta com hits como "Ovelha Negra" e "Esse Tal de Roque Enrow".
Lá Vou Eu
Lançada em 1975 em um compacto duplo, a canção foi registrada como uma composição de Rita Lee e Luís Sérgio Carlini, um dos integrantes do Tutti Frutti. No entanto, a realidade não era exatamente essa. Em sua autobiografia, a rainha do rock relata que, naqueles tempos, era comum a prática do "bota o meu nome aí": a inclusão de membros da banda como parceiros de composição, mesmo que não tenham efetivamente participado do processo. Segundo ela, todas as músicas do Tutti Frutti eram de sua autoria.
Rita define "Lá Vou Eu" como "(...) uma declaração de amor à beleza sisuda de São Paulo, uma coisa bem minha cara". E prossegue: "Lembro de tê-la concebido de uma só tacada, letra e música, daquelas que gostei de mim por ter composto. Como surgiu o nome de um segundo 'parceiro' justo nessa, não sei. Ou melhor, sei: bobeira minha que assinava com a editora sem ler".
Departamento de Criação
A canção é creditada a Rita Lee, Luís Sérgio Carlini e Lee Marcucci, mas segundo a Rainha do Rock, trata-se de mais uma composição de sua autoria que ganhou parceiros "indesejados". Irônico, ainda mais quando se trata de um rock sobre a importância de se manter a autenticidade.
Modinha
A canção foi lançada em 1978, no álbum "Babilônia", mas foi composta alguns anos antes, quando Rita se submeteu a uma operação nas pregas vocais. "Para mim não foi sacrifício ficar muda por um mês, ao contrário, serviu para a perceber quantas bobagens a gente ouve e deixa de falar. Aliás, isso até me ajudou a compor uma música harmonicamente mais elaborada, que se chamava 'Modinha'", escreveu a artista.
Maria Mole
Compreendida à época como a "caricatura de um reggae", segundo publicação na revista Música de setembro de 1979, "Maria Mole", parceria com Roberto de Carvalho, fez sucesso com as crianças devido às referências escatológicas e à sonoplastia. No entanto, segundo Rita, a personagem da faixa é inspirada em uma amiga que usava remédios controlados. “‘Maria Mole’, personagem inspirada naquela minha amiga-mala melecada de Mandrix ao enrolar a língua para dizer que estudava ‘amdinistação dimpêsa’”, explica a Rainha do Rock.
Algumas páginas antes, Rita narra um episódio inusitado envolvendo a “musa inspiradora” da música. Durante uma reunião particular na casa do executivo André Midani, com a presença de Eric Clapton e Pattie Boyd, a amiga “ricaça gente boa, persona non grata do high society paulistano”, já “alegrinha de birita y otras cositas más”, nas palavras de Rita, resolveu batucar um samba nas costas do violão prateado do rockstar, causando constrangimento geral.
João Ninguém
A verve irônica de Rita Lee ganha tempero latino nessa faixa, assinada em parceria com Roberto de Carvalho. A inspiração, segundo ela, foi o último presidente da ditadura militar: "O general Figueiredo, ditador do 'prendo e arrebento', foi o muso inspirador do meu ego para escrever a letra de 'João Ninguém', um cara pé-de-chinelo que saiu do estábulo e virou rei, mas o cheiro do estábulo nunca saiu dele (...)".
Atlântida
Faixa quase instrumental, baseada em improvisações no compasso de uma bateria eletrônica. No disco "Saúde", ela tem 6 minutos e 21 segundos de duração, mas segundo Rita Lee, a gravação original tem "mais de meia hora ininterrupta". "Estávamos todos tão chapados que na hora baixou uma jam hipnótica sem começo nem fim e simplesmente não dava para interromper o transe. Precisou ser editadíssima", escreveu a artista.
O Circo
A canção melancólica de Rita Lee e Roberto de Carvalho encerra o álbum "Flagra", de 1982. Os arranjos ficam por conta do Roupa Nova. Trata-se, segundo Rita, de "uma melodia quase lírica" que "conta a manjada história do palhaço triste rejeitado pela bailariana, aquela falsa alegria que se nota nos personagens do picadeiro".
Blue Moon
Versão em português feita por Rita Lee para o clássico da canção americana. Segundo a artista, é uma "versão respeitosa" para a música, que era a predileta de sua irmã, Mary.