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Bancos demoram até dois meses para reabrir após ataques no interior da Bahia

Agências do Banco do Brasil são as mais atacadas

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16/03/2012 às 8:42 • Atualizada em 27/08/2022 às 5:36 - há XX semanas
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Quem mora no interior da Bahia tem que enfrentar uma dura realidade: conviver com os frequentes e cada vez mais violentos ataques a bancos e terminais eletrônicos e ainda ficar sem serviços bancários. Um levantamento do Sindicato dos Bancários mostra que, apenas nos três primeiros meses do ano, 51 arrombamentos, assaltos ou tentativas foram registrados – 131% a mais que o mesmo período de 2011. Na capital, em poucas horas ou dias, o serviço volta ao normal, mas em alguns municípios baianos a população pode ficar até dois meses sem banco e se ver obrigada a viajar para fazer um simples depósito. “Canudos é um lugar atrasado e as pessoas nos fazem de besta. Como pode a única agência da cidade ficar fechada há mais de dois meses? O pior é que os bandidos nem levaram dinheiro, só quebraram os vidros. Mas, até hoje, não consertaram nada. É um absurdo”, relata a comerciante Maria Lúcia Gama, 56, que mora a 410 km de Salvador. O Banco do Brasil (BB) na cidade foi assaltado no dia 11 de janeiro quando bandidos explodiram parte da agência. Desde então, quem vive no município tem três opções pouco confortáveis: percorrer quase 90 km para chegar à agência mais próxima, em Euclides da Cunha, treinar a paciência em uma fila da agência dos Correios ou tentar a sorte ao ir a um dos poucos caixas eletrônicos do BB. “Nos Correios cai o sistema o tempo todo, sem contar que não aceitam depósitos e transações de valor alto. Já os caixas só voltaram a funcionar há 15 dias e assim mesmo quase nunca têm dinheiro. E viajar é muito caro. Quem está perdendo é o comércio, porque todo mundo vai para Euclides e acaba comprando por lá”, reclama.
No Baixo Sul da Bahia, na cidade de Ibirataia, a população sofre com o mesmo transtorno. A agência do Banco do Brasil incendiada no dia 2 de fevereiro também continua fechada. Os moradores precisam ir ao município de Ipiaú, a 18 quilômetros da região, para realizar transações bancárias. “Desloco-me quatro vezes por semana para Ipiaú, sempre no horário do almoço, para tentar resolver os problemas. Ocorre que o município não tem condições de atender a demanda dos moradores das duas cidades. O resultado é que nem sempre consigo atendimento”, afirma o atendente Moacir Aragão Santos, 29 anos. A população de Santanópolis, a 143 quilômetros de Salvador, viveu momentos de pânico no dia 6 de março quando dois homens armados renderam um cliente que estava no terminal de autoatendimento do BB e saquearam todos os caixas. Os bandidos conseguiram escapar com todo o dinheiro. Nove dias após o ataque, a agência continua fechada. “Temos que ir aos Correios ou a uma Casa Lotérica para efetuar pagamentos e realizar outras operações. O problema é que o atendimento nesses locais é muito complicado, as filas são imensas. Perdemos muito tempo para fazer coisas simples”, diz o padre Nicanor, da Diocese de Feira de Santana. Em Ribeira do Pombal, o Banco do Brasil perdeu R$ 600 mil em um assalto no dia 5 de fevereiro. Já os moradores esperaram um mês para ter novamente uma agência funcionando. “Era horrível. Eu tinha que ir até Cipó, que fica a mais ou menos 330 quilômetros, para ir a um banco. Alguns pagamentos pude fazer em outras agências, mas quem não tinha alternativa sofreu bastante”, relata a caixa Camila Costa, 23 anos. Um horror Em Abaíra, o caso se repetiu. “Esperamos um mês para tudo voltar ao normal. É um horror ter que viajar para conseguir um serviço tão importante. A gente até se arrisca fazendo o trajeto, porque no meio do caminho podemos ser assaltados”, pondera o empresário Roberto Costa, 42 anos. Em algumas cidade são os caixas saqueados que fazem falta. Em Água Fria, a 138 km da capital baiana, somente em janeiro dois terminais foram arrombados. Em fevereiro mais uma ocorrência foi registrada. “Isso gera um transtorno, além de insegurança para os funcionários do banco e a população”, diz a funcionária do Banco do Brasil Carla Oliveira Alves Souza. Um caixa ainda não foi substituído, mas para a aposentada Maria das Graças, 65, o pior é o pavor que tem toda vez que vai ao banco. “Passo mal só de pensar que tenho que ir. E se eu estiver justo na hora que eles querem atacar? Aqui não tem segurança”, diz. A auxiliar administrativa Keila Freire, 25, mora em Jussara e relata que fica de mau humor só em saber que precisa ir a um caixa eletrônico. Um terminal do BB foi explodido por assaltantes no dia 27 de fevereiro e deixou boa parte da sala de autoatendimento destruída. Dos três caixas, apenas um funciona. “A fila chega a fazer caracol dentro do banco. É muito complicado. Não posso ir para Irecê, que fica a 37km, só para fazer um saque. O custo com a passagem não compensa. Não vejo a hora de tudo voltar ao normal”, diz. Em dezembro, a mesma agência sofreu tentativa de assalto. Quatro homens usaram maçarico, mas a ação foi coibida por um vigilante. TruculênciaEm Arataca só há um posto do Bradesco, diz o marceneiro José Carlos Souza, 40. No dia 8 de fevereiro cinco homens tentaram explodir o caixa eletrônico. Os bandidos saíram frustrados pois não conseguiram levar o dinheiro e a população perdeu o único terminal do Bradesco. “Agem com truculência, fogem e nós é que pagamos o pato”. O gerente de uma agência dos Correios na cidade de Candeal, Renato Pereira, 62, conta que nos 10 primeiros dias do mês as filas enormes em frente ao único caixa do BB funcionando são rotina. “Algumas transações também podem ser feitas nos Correios e na Casa Lotérica, mas não há como atender tanta demanda. Dois caixas continuam sem funcionar. Além do incidente terrível ainda temos que passar por isso”, lamenta. O relato de Renato não é exagero. No dia 12 de fevereiro assaltantes arrombaram dois caixas eletrônicos e ainda fizeram dois guardas municipais de reféns. Um deles foi espancado. Na fuga, os criminosos dispararam tiros para o alto e roubaram uma moto. Já em Nova Fátima, a 230 km de Salvador, o caixa eletrônico arrombado no dia 7 de março era o único do Banco do Brasil na cidade. Resultado: mais um lugar com serviço bancário limitado. “A nossa sorte é que os Correios são vinculados ao Banco do Brasil. Aí podemos sacar e depositar. Mas a fila que pegamos é tão longa... Não sei por que não resolvem logo esse problema. Consertar um caixa é tão caro assim?”, questiona a comerciante Maria Luzia Rodrigues. Banco do Brasil, o mais atacadoO presidente do Sindicato dos Bancários da Bahia, Euclides Fagundes, diz que não vê com espanto o número de assaltos em agências e caixas eletrônicos do Banco do Brasil. “Ele é o alvo mais fácil porque é o banco que tem mais agências espalhadas pelo interior. As empresas privadas não têm muito interesse em municípios pequenos porque as transações não são muito altas”. Em nota, o BB garante que todas as unidades possuem planos de segurança aprovados pela Polícia Federal e são dotadas com equipamentos em conformidade com as exigências legais. O banco diz ainda que as agências que foram alvo de ações criminosas estão em processo de reforma e recuperação de suas instalações físicas, mas não define prazos para reabertura dos terminais. Já a assessoria de comunicação do Bradesco informa que o caixa eletrônico explodido há mais de um mês no município de Arataca ainda não voltou a funcionar, pois o departamento técnico do banco ainda está avaliando os danos para tomar as medidas cabíveis. FuncionáriosEnquanto as agências bancárias são recuperadas pelas instituições financeiras, os funcionários dos bancos não ficam de braços cruzados, de acordo com Euclides Fagundes. “De um modo geral, não demora muito para que as agências voltem a funcionar". Algumas funcionam no outro dia, mas nos casos em que isso não acontece, os bancários são transferidos .“Nenhum funcionário fica em casa, a não ser por uma questão de saúde”, acrescenta. Ainda assim, lembra Fagundes, há registros de bancários que não tiveram condições psicológicas de voltar ao mesmo posto de trabalho.

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