O acidente ocorrido ontem com a lancha Cavalo Marinho I, que fazia a travessia Mar Grande-Salvador, ainda não tem uma explicação oficial. Enquanto a Capitania dos Portos e órgãos estaduais e municipais continuam as buscas por possíveis sobreviventes e o atendimento aos feridos, os passageiros que escaparam da tragédia especulam que o mau tempo pode ter sido a principal causa do naufrágio, que ocorreu cerca de dez minutos após a saída da embarcação do terminal na Ilha, às 6h30, e a cerca de 200 metros do ponto de embarque.
De acordo com pessoas que viajavam na lancha e conseguiram se salvar com botes e coletes, pouco depois da saída, a chuva e os ventos fortes levantaram grandes ondas, o que fez com que entrasse água no barco. Para não se molhar, os passageiros começaram a se aglomerar de um único lado da embarcação, que ficou instável devido à diferença de peso e emborcou de lado.
A Capitania dos Portos não confirma essa hipótese e abriu uma investigação para apurar as causas do acidente. A Polícia Civil também está investigando o caso (saiba mais nas páginas 12 e 13).
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A distância da travessia Mar Grande-Salvador, que há 60 anos é feita por lanchas, é de cerca de 13 km, um pequeno trecho de mar na imensidão de 1.223 km² da Baía de Todos os Santos, a maior do país.
No pedaço de litoral voltado para a capital, a Ilha tem um cinturão de recifes de coral e rochas de cerca de 500 metros de largura. Com a maré cheia, a profundidade nas áreas sem recifes chega a apenas cinco metros. Já na maré vazia, especialmente nas luas Cheia e Nova, a profundidade é menor que um metro e torna a navegação na área impossível.
O professor José Maria Landim Dominguez, geólogo do Departamento de Oceanografia da Ufba, explica que a Baía de Todos os Santos não oferece grandes problemas de navegabilidade e acha difícil que as condições do mar ou mesmo o mau tempo tenham causado o acidente. “Aquela área é toda cartografada pela Marinha. Todo mundo conhece bem. Pelos relatos que ouvi e pelo que conheço da baía, não foi problema de navegabilidade”, acredita o professor.
Por outro lado, o especialista observa que os primeiros metros da saída da praia de Mar Grande formam o trecho mais difícil da travessia por conta da presença de bancos de areia e dos recifes de coral. “Ali onde aconteceu o acidente, a navegação tem que ser cuidadosa”, adverte. “Mas a maré estava alta. Acredito que eles não bateram em nada. Mas é preciso um marinheiro com certa experiência”, pondera o professor.
Barco instável
Radicado na Bahia, o navegador ucraniano Aleixo Belov acredita muito mais em uma deficiência do barco do que em condições ruins de navegação. “A deficiência só pode ser falta de estabilidade do barco”, diz. Belov acrescenta que a embarcação deveria estar preparada para não adernar (emborcar para um lado), no caso de as pessoas se movimentarem.
“Era um barco que transportava gente. Gente é uma carga móvel. A carga móvel é perigosa porque ela se movimenta. Mas o barco que transporta seres humanos tem que estar preparado para isso”, afirma Belov, que já enfrentou mares revoltos ao cumprir quatro vezes o desafio de dar a volta ao mundo em um veleiro, sozinho. “A Baía de Todos os Santos é um lugar maravilhoso para navegar. É um grande presente que a natureza deu para a gente”.
Tempo ruim
A velocidade média dos ventos nessa época do ano, em Salvador, é de 8 km/h. Na véspera do naufrágio, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou média de 46 km/h. Ontem, na manhã do acidente, a média era de 31,3 km/h. A previsão do Inmet, explica a meteorologista do órgão, Cláudia Valéria Silva, é que essa condição de ventos fortes dure até o final de semana, com temperaturas oscilando entre 20 e 27 graus.
Ainda de acordo com Cláudia Valéria, todo o litoral da Bahia está sofrendo com a influência de uma frente fria que se mostra mais forte na região Sul do estado e que, em Salvador, tem provocado os ventos muito acima da média.
O geólogo José Maria Landim Dominguez afirma que apesar do vento ser considerável, não acredita que seja suficiente para causar uma onda a ponto de virar uma embarcação como a lancha Cavalo Marinho I, que tem capacidade para carregar 160 pessoas.
Para o professor, as causas do acidente reúnem diversos motivos. “O barco, os ventos mais fortes, uma onda lateral e as pessoas todas em um lado só da embarcação devem ser levados em conta, mas acidentes envolvem uma conjunção de fatores”.
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Redação iBahia
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