O administrador Luciano Ribeiro, 31 anos, sempre morou na casa dos pais junto com os seis irmãos em um sobrado de três andares no bairro de Plataforma, em Salvador. Quando começou a trabalhar e casou, mudou-se e agora vive com a esposa e o filho em um apartamento de dois quartos. Levantamento do Sindicato da Habitação do Rio (Secovi Rio) indica que a realidade da vida de Luciano é um retrato da situação habitacional da Bahia: o estado é o que tem menos moradores por casa na região Nordeste. “Sempre morei em casa com um monte de gente. Agora que constituí meu próprio núcleo familiar, resolvi morar em uma casa bem menor. Inicialmente, pensei em morar com os meus pais, mas, como diz o ditado: quem casa quer casa”, destaca Luciano. A pesquisa Perfil Nacional - Comércio e Serviços Imobiliários, realizada pelo Secovi, indica que a média de idade da população economicamente ativa colabora com a existência de casas com menos moradores nas unidades habitacionais no país.
“No caso da Bahia e Pernambuco, por exemplo, há um índice maior de desenvolvimento o que faz com que a população tenha maior condição econômica. Isso facilita que novos núcleos familiares sejam formados e geralmente com menos integrantes”, explica Pedro Wähmann, presidente do Secovi-RJ, que pesquisou a movimentação da habitação nas principais cidades brasileiras. Como reflexo das famílias com menos gente morando em casa, o mercado imobiliário também passou por alterações. “As casas menores são uma tendência. Hoje, as famílias estão tendo menos filhos e o custo de vida está mais alto. Com isso, as edificações foram se adaptando”, explica o presidente da Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-BA), Luciano Muricy Fontes. Muricy informa que essa redução na quantidade de pessoas dentro da casa adapta-se, inclusive, à realidade construtiva. “Ao longo dos últimos anos, a construção civil teve que adaptar o preço da edificação à realidade econômica do comprador”, destaca o presidente da Ademi-BA. José Alberto de Vasconcelos Oliveira, segundo vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci - BA, 9ª Região), lembra que, em Salvador, tradicionais áreas ocupadas por grandes casas deram lugar aos edifícios com apartamentos compactos. “Nos anos 60, em Salvador, a região do Caminho das Árvores era cheia de grandes casarões que foram construídos por famílias em casas grandes e maravilhosas. Mas esse comprador desse período já criou sua família e hoje essas casas deram lugar a prédios. Porém, há casos nessa região onde hoje tem uma casa de 500 metros quadrados que é ocupada por um casal de idosos apenas”, diz Vasconcelos. Mudança O Nordeste tem 93,66% das pessoas morando em casas, de acordo com o levantamento do Secovi-RJ. Porém, a verticalização tem sido uma tendência nas principais cidades do Brasil. “A realidade das famílias mudou a tipologia do imóvel. As casas ainda são maioria, mas têm perdido espaço. Hoje, só as pessoas que estão em condomínios fechados optam por morar em casas”, explica Vasconcelos. A segurança e a infraestrutura na moradia são os principais fatores apontados por corretores de imóveis para que as pessoas optem por trocar as casas pelos apartamentos. “Quem migra de uma casa e vai para um apartamento faz isso em busca de uma segurança maior e também em busca de mais conforto. Os condomínios funcionam também como alternativa para quem busca por mais serviços e comodidade que dificilmente terá em uma casa convencional”, explica o corretor de imóveis Valter Moreira. Foi o caso da professora Heliana Sousa, 39 anos, que optou por sair de uma casa na Ribeira para morar em um condomínio em Brotas. “Vim morar em um condomínio para poder ter mais serviços agregados. Hoje, por exemplo, tenho à disposição piscina e ofurô. Se eu morasse em uma casa seria muito caro colocar essas duas estruturas. Mas, o principal para mim é a segurança contra a violência”, destaca a educadora. Comportamentos como o da professora fazem com que a Bahia lidere o número de condomínios residenciais em todo Nordeste. Padrão O presidente da Ademi-BA destaca que a oferta de terreno tem sido outro fator de estímulo à tendência da verticalização. “Uma casa que é ocupada por uma família consome uma quantidade de área de terreno igual a de um prédio que pode abrigar muitas famílias. À medida que o custo do terreno for impactando na construção é natural ter um movimento maior de verticalização” , explica. Muricy destaca que essa tendência já tem sido forte em áreas e cidades do interior à medida que elas forem se desenvolvendo. “Isso já é percebido em cidades com Vitória da Conquista, Feira de Santana, Ilhéus e Itabuna. A verticalização ajuda ainda a equacionar a oferta de serviços públicos para grandes volumes de pessoas como por exemplo saneamento básico”.
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