A provável fusão do Ministério do Esporte à Educação e Cultura no governo de Jair Bolsonaro ligou o alerta no mundo esportivo. Ex-atletas, representantes de entidades civis e dirigentes afirmam estar mais preocupados com a forma como o setor será conduzido a partir do ano que vem do que com a extinção ou não da pasta.
Diretora da organização Atletas pelo Brasil, a ex-jogadora de vôlei Ana Moser acredita que se a pauta for “esporte para todos”, algo que ainda não está implementado no país, não importa o ministério ao qual a área estará vinculada. Para Ana, o esporte precisa de um programa de estado sólido, como acontece na saúde, na educação e na cultura.
— O que menos importa é onde o esporte estará, desde que haja a garantia da sua relevância — diz Ana, que reconhece que um ministério imputa mais relevância do que uma secretaria na briga pela manutenção de leis de incentivo, por exemplo.
Ana chama a atenção para o risco de um eventual discurso simplista ao associar esporte à educação apenas por causa do âmbito escolar. A ex-atleta também faz uma autocrítica de classe, que não trabalhou o suficiente para criar um plano nacional para o setor:
— Não há uma estrutura geral. O que temos é um sistema federativo de clubes, federações e confederações. Isso envolve uma parcela ínfima de dezenas de milhares dentro de uma população de 200 milhões de pessoas.
Presidente da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o ex-judoca Tiago Camilo faz coro a Ana Moser. Para ele, a discussão é mais ampla do que sob o comando de qual ministério a área estará.
— Sediamos Jogos Olímpicos e perdemos a oportunidade de nos desenvolvermos como nação esportiva. Talvez seja a hora de colocarmos as cartas na mesa e discutirmos qual caminho tomaremos.
Interação com escolas
Para Fabiana Bentes, da associação Sou do Esporte, a junção das pastas pode ser benéfica. Segundo ela, é preciso que a área seja incorporada como política educacional:
— A massificação do esporte é extremamente benéfica para educação, saúde, socialização e ainda para o alto rendimento. O Michael Phelps (americano dono de 28 medalhas olímpicas, sendo 23 de ouro) não foi descoberto em clube. E sim na escola.
Luiz Lima, professor de Educação Física e ex-nadador que foi eleito deputado federal no Rio pelo PSL de Bolsonaro, acredita que a junção de Esporte e Educação vai facilitar a comunicação entre as áreas. Ele afirma que o esporte não perderá força, mesmo tratado eventualmente como secretaria.
— Tanto no orçamento quanto nos programas. O orçamento do esporte é mais de cem vezes menor que o da Educação e, se a prática esportiva for de fato incorporada às escolas, todos ganharão. Esse governo pode mudar o cenário cultural do esporte — disse.
De acordo com Lindberg Aziz Cury Júnior, secretário-executivo da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados, esta junção “só dará certo se mantiver os projetos bem sucedidos, como o Bolsa Atleta e a Lei de Incentivo ao Esporte.” Ele diz que, se o esporte se tornar uma secretaria dentro do novo ministério, o secretário deveria ser alguém da área esportiva.
— Acho que estes programas podem sofrer mudanças, ajustes. Seria até bom. Mas a manutenção é essencial para o Esporte manter a relevância — destacou Lindberg, ao lembrar que o orçamento do Esporte para 2019, que será votado no Congresso, é de cerca de R$ 820 milhões (sem as emendas).
Uma das vozes dissonantes é do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, que não se elegeu deputado federal pela Rede. O dirigente considera o Ministério do Esporte extremamente relevante para que se faça contraponto em relação às entidades de administração do esporte.
— O papel do governo federal foi importante na formulação e na aprovação do Programa de Modernização da Gestão e de Responsabilidade Fiscal do Futebol Brasileiro, por exemplo. Vontade política é extremamente interessante em uma hora como essa. Houve uma preocupação do governo e isso acabou influenciando positivamente na formulação da legislação no Congresso Nacional. A existência do ministério, é claro, indica uma prioridade — afirma.
A presidência do COB preferiu não se pronunciar até que a fusão seja confirmada. Hoje, a principal verba da entidade é proveniente da Lei Agnelo Piva, que repassa um percentual da arrecadação da loteria. Parte desse valor vai para associações esportivas.
Veja também:
Leia também:
AUTOR
Redação iBahia
AUTOR
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade