Dos deputados estaduais eleitos no Rio de Janeiro, 14,28% são negros. Dos 70 escolhidos pela população no último domingo (5) para compor a Assembleia Legislativa no próximo ano, nove se declararam pardos. A única de cor preta - classificação racial usada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - é a deputada Enfermeira Rejanane do PCdoB, segundo levantamento feito pelo Radiojornalismo da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). Os que se declararam pardos foram Benedito Alves (PMDB), Carlos Macedo (PRB), Janio Mendes (PDT), João Peixoto (PSDC), Marcia Jeovani (PR), Marcio Canella (PSL), Rogerio Lisboa (PR), Samuel Malafaia (PSD) e Tia Ju (PRB). Esta foi a primeira eleição em que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) exigiu a autodeclaração de raça/cor, por isso não é possível saber se cresceu ou diminuiu o número de negros eleitos. Seguindo a terminologia oficial do IBGE, os candidatos tiveram que registrar se eram brancos, pardos, pretos, amarelos ou indígenas. Os resultados das urnas mostram que os negros tiveram mais dificuldade de conseguir votos do que os brancos no Rio. Levantamento feito pela EBC, com base nos dados do TSE, mostra que dos 2.038 candidatos, 889 (43,62%) se declararam afrodescendentes – 623 (30,57%), pardos e 266 (13,05%), pretos. Entre os eleitos, o número de negros cai consideravelmente. Apenas 14% dos que irão assumir o cargo não se declararam brancos. Nenhum dos dois candidatos indígenas (0,1%) foi eleito e não houve quem se declarou amarelo.
O professor de teoria política da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Darlan Montenegro, acredita que a falta de representantes negros eleitos é reflexo de uma sociedade racista. “As pessoas, quando vão votar, tendem a selecionar os brancos. Esse corte também existe em termos de gênero. Apesar da existência das cotas para candidatas, na hora de votar as pessoas preferem escolher os homens. A escolha de homens e de brancos não é porque eles são mais competente e capazes do que mulheres e negros e pardos, é por uma visão preconceituosa, discriminatória", disse ele.A socióloga Eliana Graça, mestre pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende a reforma política para possibilitar maior representação das pautas minoritárias. “A grande questão de ter uma representação mais plural nos parlamentos é ter as pautas dessas populações ocupando um espaço maior na agenda política. O sistema político, de forma geral, e o eleitoral, em particular, são muito cruéis com candidaturas de grupos sociais que representam minorias do ponto de vista político. Esses grupos têm menos acesso ao poder.Você teria que ter algumas mudanças na estrutura do sistema político", acrescentou.O militante criador do grupo Voto Negro no Facebook, José Ricardo D´Almeida, alerta que não basta aumentar o número de candidatos negros. “A questão da representação apenas pelo fator da cor da pele é uma questão até secundária. Quando falo em voto negro, digo no sentido de demanda de políticas de combate ao racismo, de agregar reivindicações que o movimento social exige. Se esses candidatos eleitos, por terem uma autodeclaração de afrodescendentes, estiveram engajados nisso, eu acho que teremos um avanço. Mas. se eles não tiverem, não muda nada. Não se trata de uma questão visual.”Mais da metade da população do estado do Rio se autodeclaram negra. A soma de pretos e pardos corresponde a 51,7% dos residentes no estado. De acordo com o Censo Demográfico de 2010 do IBGE, 12,4% dos habitantes são pretos e 39,3% são pardos.
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