iBahia > música
MÚSICA

Queridinha de Caetano e Gadú, cantora trans Majur desponta

Baiana passou fome e catou material reciclável até os 6 anos para ajudar a mãe

Redação iBahia • 14/08/2019 às 11:48 • Atualizada em 31/08/2022 às 9:25

Google News siga o iBahia no Google News!

Negro. Gay. Pobre. Nordestino. Transgênero. Marilton Junior tinha tudo contra ele num país ainda preconceituoso, racista e machista. Até soltar a voz e aprender a cantar, conheceu todo o tipo de privação. Abandonado pelo pai aos 2 anos, passou fome e catou material reciclável nas ruas com a mãe até os 6. A infância, num bairro de periferia de Salvador, não conheceu brinquedos novos e roupas de marca. O que passou e o que viu se tornaram letra e melodia num timbre rascante que impressiona. Na marra se tornou Majur, um nome sem raça, gênero e status social, mas que encantou gente como Caetano Veloso e sua irmã Bethânia, Emicida, Júnior Lima.

“Não foi sorte. Foi trabalho. E eu sempre acreditei com fé, com verdade, que a arte me ajudaria a transcender tudo que passei. Agora quero ser popular”, avalia a cantora não binária, ou seja, que não pertence a um gênero: “Transito muito bem entre os universos masculino e feminino. Reconheço os dois em mim e preciso de ambos”.

A questão de gênero, porém, não é uma preocupação fundamental para Majur. Ela quer cantar e encantar. Com quase dois metros de altura, lança nesta quarta-feira, 14, o single “20ver”, composição dela que vai dar uma palhinha do álbum que vem por aí. Por trás disso, estã Paula Lavigne e sua equipe. “Ela é rainha”, elogia a pupila.

Dos corais da igreja, do colégio da polícia militar e da orquestra Sinfônica da Juventude de Salvador para a cozinha de Caetano Veloso, a vida deu um duplo carpado no destino. “Em 2017 resolvi que realmente ia abraçar a música”, conta ela, que cursava a faculdade de Design: “Era de manhã aula e cantar à noite em todos os bares de Salvador que se possa imaginar”.

Majur ganhou fama no circuito baiano. E um oxe aqui leva a outro ali... “Daí conheci o produtor da Ivete Sangalo, que ouviu três músicas minhas e decidiu me produzir”. Ela amava Liniker, cantora também trans que não tinha ainda fãs na Bahia: “Comecei a tocar nos meus shows com a pegada de música baiana. A Liniker um dia viu um vídeo e curtiu na internet”.

O golpe de sorte, porém, aconteceu. “Liniker foi a Salvador para um show. Estava no estúdio de uma emissora quando o Jaguar Andrade (produtor de Ivete) me ligou e pediu para que eu levasse um violão para a Liniker. peguei três táxis, dois ônibus e um metrô e cheguei em cima da hora”, recorda.

Majur conheceu o ídolo, trocou figurinhas, pegou uma carona, foi reconhecida e aceitou o convite de Liniker para ir a seu show: “Chegando lá teve um atraso e a produtora me pediu para entreter o público com a história do violão. No palco, ouvia o povo gritar ‘Majur, Majur’. Já era conhecida na noite. Me pediram para cantar. Cantei e quando Liniker entrou no palco, me chamou para cantar junto”.

A maior emoção na vida dela até ali. No dia seguinte, queriam saber quem ela era. Foi assim que começou a trocar mensagens com Maria Gadú e Lua Leça, mulher da cantora. Ficaram amigas até o dia em que Lua a levou para uma festa. “Cheguei no local, vi aquela casa imensa e disse: ‘Nossa, parece o Projac’. Lua me disse: ‘Você não sabe que está na casa do Caetano?’. Fiquei dez minutos na cozinha do Caetano segurando duas sacolinhas de cerveja, sem conseguir me mexer”, diverte-se.

Dali para ser “adotada” pela turma do dendê foi um pulo. Uma festa aqui, outra ali, uma canja, um show, o convite para cantar no Baile da Vogue, o clipe com Emicida e Pabblo Vittar, se mudar para o Rio... Há um ano, Majur está vivendo seu sonho de Cinderela: ”Passou a fase de deslumbramento. Conheci essa gente maravilhosa, Bethânia elogiou uma música minha, Júnior Lima me assistiu... Gente, tanta coisa! Mas ainda quero muito mais e vou chegar lá. Já consigo pagar o aluguel da minha mãe e a tirei de um dos empregos, porque ela trabalhava 36 horas direto e folgava apenas 12. Não sossego enquanto não levá-la para passear em Paris”.

TAGS:

Cantora Carreira Entrevista majur Trans

RELACIONADAS:

Vídeo: confeiteiro faz bolo de chocolate e calabresa com rosto de Davi

'Calma, calabreso'

Vídeo: confeiteiro faz bolo de chocolate e calabresa com rosto de Davi

Com ingressos esgotados, BAxVI abre final do Campeonato Baiano

Futebol

Com ingressos esgotados, BAxVI abre final do Campeonato Baiano

Morre Chance Perdomo, ator da série 'O Mundo Sombrio de Sabrina'

Aos 27 anos

Morre Chance Perdomo, ator da série 'O Mundo Sombrio de Sabrina'

Deborah Secco resgata fotos e homenageia Salvador: 'Amo essa cidade'

Aniversário de Salvador

Deborah Secco resgata fotos e homenageia Salvador: 'Amo essa cidade'

Linhas de ônibus de Salvador tem alterações a partir deste sábado (30)

Mudanças

Linhas de ônibus de Salvador tem alterações a partir deste sábado (30)

Isabelle chama Davi e fala de romance com Matteus: 'Não vai acontecer'

Conversa sincera

Isabelle chama Davi e fala de romance com Matteus: 'Não vai acontecer'

MAIS EM MÚSICA :

Ver mais em Música