Em 19 de junho de 1918 um telegrama foi entregue na sede da Confederação Sul-Americana de futebol, comunicava a oposição da Associação Argentina de Futebol, após deliberações de sua diretoria, à realização da Copa América no Rio de Janeiro e propunha que o próximo torneio fosse realizado mais uma vez em Montevideo. Os argentinos alegavam a inconveniência das datas previstas e sem nenhuma diplomacia insistiam na ideia de mudar as regras já estabelecidas em convenção. Foram além, tentaram envolver os uruguaios__ enviaram até um emissário__ que leais aos regulamentos e praticando a política da boa vizinhança declinaram de aderir à moção.
O que a Federação Hermana não imaginava é que a própria imprensa de seu país reagiria à inusitada proposta, qualificando-a de descortês e sem propósito. Se a questão era de datas___ indagava a mídia ___ porque não tentaram um entendimento com a Confederação Brasileira de futebol, esta poderia encaminhar a sugestão de remanejar as partidas. A entidade máxima do futebol brasileiro reagiu lamentando o movimento platino e expediu um telegrama com o seguinte teor: “Diante tentativa alteração de convenção dois de outubro de novecentos dezessete, fim evitar disputa campeonato aqui, protesta vista esforços compromissos assumidos”.
Enviou também um ofício e lembrava: “Muito nos custa a crer que tenha partido da Federação Argentina uma semelhante resolução, tanto mais quanto foi a sua própria delegação que na sessão do congresso de outubro de 1917, formulou a indicação que escolheu esta capital, para a realização do Campeonato no corrente ano, e ainda, em data de 20 de maio último, nos comunicou ratificar a sua aprovação…”. No mesmo ofício endereçado à Confederação Sul-Americana de futebol, lembrava que as resoluções tomadas no Congresso da entidade eram irrevogáveis, salvo um motivo muito grave, o que não era o caso. E manifestava a sua “incredulidade com que recebemos as primeiras notícias sobre o movimento de oposição”.
O quase boicote morreu no nascedouro diante da postura dos demais participantes e das reações da própria imprensa platina. O que a Federação Argentina não conseguiu, a terrível epidemia de gripe espanhola obteve. O auge da doença no Brasil ocorreu justamente nas datas que os argentinos contestavam (novembro de 1918) e como se tratava de uma epidemia mundial, a Confederação Sul-Americana achou prudente adiar para maio do ano seguinte, 1919, quando o selecionado brasileiro conquistaria o seu primeiro grande título internacional.
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O adiamento do certame foi providencial, permitiu concluir as obras do Estádio do Fluminense nas Laranjeiras, em tempo hábil. Tempo também para os dirigentes argentinos e brasileiros fumarem o cachimbo da paz. A questão do estádio alimentou polêmica desde quando o Brasil foi escolhido como sede. Pensou-se inicialmente em construir um puxadinho no Campo do São Cristóvão Futebol Clube, recém-inaugurado na época, hoje leva o nome do craque revelado na sua divisão de base, Ronaldo Fenômeno. Não rolou. Também não se viabilizou a megalomaníaca ideia de construir um estádio à beira da Lagoa Rodrigo de Freitas.
Em relação à Copa América__ o troféu banhado em prata ao custo de 3 mil francos, 750 doados por cada federação participante___ não foi possível mandar confeccionar na Europa como inicialmente previsto pelas circunstâncias da guerra. Um ourives de Buenos Aires aceitou a incumbência. A Copa, segundo o regulamento, ficaria em definitivo com o selecionado que conquistasse três torneios. O Brasil atrapalhou de vez os planos dos Celestes ao conquistar o caneco em 1919.
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