por Ingrid DragoneUm dos principais desafios dos pais sempre foi colocar os filhos na escola. Além de listar critérios para a escolha da instuição, como método de ensino e estrutura física, é preciso lidar com questões complicadas, a exemplo dos conflitos gerados entre as crianças pelas diferentes formas de criação e a concomitante falta de interesse de muitas escolas em resolver tais conflitos. Para falar sobre esse e outros assuntos relacionados ao ambiente escolar e ao comportamento dos pais e filhos nesse universo, o Blog Essa Mãe traz a entrevista que eu fiz com a professora Beatriz Soares, atuante na área há cerca de 15 anos e pós-graduada em Educação Infantil. Confira!
Blog Essa Mãe - Para você, qual a maior deficiência das instituições de ensino voltadas para crianças? Beatriz - Acredito que ainda falta muito preparo com relação às crianças especiais. As escolas precisam aceitar a inserção dessas crianças, não podem negar matrícula. Além disso, os professores e as equipes escolares ainda não estão preparados para atuar junto com esses alunos. Muito se faz pelo achismo e pela doação dos profissionais.Blog Essa Mãe - Como você lida com essas deficiências? Beatriz - Quando recebo um aluno especial em meu grupo, busco rapidamente estudar o caso, a deficiência dele e a sua rotina em casa, para deixar o ambiente escolar mais acolhedor e funcional.Blog Essa Mãe - Qual o problema mais comum que você identifica no comportamento das crianças? Qual a característica mais acentuada? Beatriz - Certa vez, numa palestra com uma terapeuta escolar, falávamos sobre questões especiais e ela nos trouxe um termo interessante, criado por ela, “Criança Maledi”. É o caso mais difícil de se trabalhar hoje em dia, a criança mal-educada. Os pais, no afã de demonstrar amor pelo filho, o criam num ambiente em que nada pode ser negado ou nenhuma reclamação pode ser feita. A criança se transforma num ser que não percebe o espaço do outro e não aceita limites ou combinados e quando conversamos com os pais sobre algo de errado que o filho fez na escola, eles o acolhem, ao invés de dar a necessária bronca, e questionam o que o colega dele fez para ele ter agido assim. Nesse momento, precisamos educar o filho e também os pais.Blog Essa Mãe - Você sempre esteve do lado “professora” e recentemente viveu o lado “mãe que leva o filho pra escola”. Sua filha tinha 1 ano de idade quando foi matriculada. O que te levou a tomar essa decisão? Beatriz - Decidi levar a minha filha para a escola porque acredito na proposta escolar de socialização, o que ela não teria em casa com uma babá. Mesmo assim, foi um período difícil, entrei em crise, imaginando que eu cuido do filhos dos outros, mas não poderia cuidar da minha filha em tempo integral e pessoas desconhecidas cuidariam dela. Foi aí que procurei uma escola em que eu já havia trabalhado e ainda conheço muitos funcionários, e passei a ter mais contato com eles pelo interesse em saber um pouco mais sobre a rotina da minha pequena na escola. Sofia entrou na escola e não chorou. Pelo contrário, conseguiu acalmar e acolher outros coleguinhas que estavam chorando na despedida com os pais.Blog Essa Mãe - Conhecendo a estrutura e os métodos dos profissionais nas escolas, que receio você teve ao ver sua filha indo para escola? Beatriz - Sei que as crianças são diferentes. Umas mais ativas, falantes, e outras mais quietas, passivas. Nem todo profissional sabe dar atenção igual a esses dois tipos de infância. Tinha receio que minha filha ficasse esquecida num canto, mas aos poucos percebi que minha preocupação era à toa, porque Sofia, mesmo tão pequena, sabia chamar atenção com seu sorriso, sua simpatia, acolhendo os coleguinhas. É conhecida por toda a escola.Blog Essa Mãe - Quais critérios os pais devem usar para selecionar uma escola? Beatriz - Primeiro, a família precisa visitar, conhecer a escola. Não adianta o pai gostar se a mãe não gostar. O filho é dos dois. Eles precisam conversar com os responsáveis e saber quais as práticas dessa escola, observar o espaço que o filho vai circular e analisar, comparando com outras escolas. O problema é que hoje, com o trânsito e as dificuldades de locomoção na cidade grande, é necessário também que o local seja perto de casa ou no caminho do trabalho dos pais, para que a criança não fique até tarde na escola e depois passe a ter rejeição pelo espaço escolar.Blog Essa Mãe - Você nota a displicência dos pais em relação à educação dos filhos? Beatriz - Acredito que falta ainda uma organização maior dos pais por conta das demandas da sua própria rotina, para que consigam sentar, ensinar, conversar e brincar com as crianças em casa e para que também participem das reuniões escolares.Blog Essa Mãe - Você acha que as escolas deveriam incluir um conteúdo ou atividade específica para estimular nas crianças hábitos saudáveis e a boa conduta? Beatriz - A maioria das escolas já inclui propostas como lanche de frutas, alimentação saudável, para estimular as crianças neste aspecto, até por saber que, muitas vezes, para ser mais prático, os pais oferecem comidas não tão saudáveis às crianças. A escola está lá para incentivar, mas a família precisa fazer sua parte. Sobre boa conduta, as crianças pequenas aprendem nas escolas sobre os combinados em grupo. Em casa, muitas vezes, elas fazem o que querem, já outras famílias mantêm uma prática de limites, mas até para a compreensão de que na escola os materiais são compartilhados, são importantes as conversas diárias. Dividir materiais, dividir os adultos da sala, cuidar dos objetos, arrumar o espaço depois de brincar, cumprimentar os funcionários, agradecer, pedir desculpas, todos esses são ensinamentos diários numa sala adequada de educação infantil.Blog Essa Mãe - Falta o endurecimento das escolas com relação à disciplina dos alunos? Beatriz - Às vezes, por não querer perder aluno ou, mais especificamente, a mensalidade do aluno, a escola tem dificuldade para lidar com o mau comportamento de um indisciplinado. A escola, em alguns casos, prefere ocultar o caso ao invés de tomar uma postura mais rígida com a família do envolvido.Blog Essa Mãe - Quando existe Bullying, como a escola, os pais da criança que sofre com a situação e os pais da criança que provocam a situação devem agir? Beatriz - As relações estão cada vez mais frias. Pouca conversa e mais sangue quente são comportamentos perceptíveis entre adultos, em todos os ambientes, mas na escola as coisas precisam ser conversadas. Quando acontecer o Bullying ou outro fato que incomode uma criança, os pais precisam perceber e levar para a professora ou coordenadora. Daí, esperar a reação da escola, tomando as providências de conversar com as crianças e famílias envolvidas. Em primeiro lugar, o diálogo, compreender o motivo do ocorrido e pensar numa estratégia para solucionar o problema.
"Pró Bia" com a filhota, a pequena Sofia. Foto: Daniel Queiroz. |
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade