As mudanças anunciadas esta semana pela Caixa Econômica Federal no crédito imobiliário, exigindo uma entrada maior no financiamento, devem ter dois efeitos mais imediatos. O primeiro é dificultar a venda de unidades prontas em estoque pelas construtoras. Em paralelo, pode reduzir a aquisição de imóveis populares, como os do programa Minha Casa Minha Vida, alvo de consumidores com pouca ou nenhuma capacidade de poupança, avaliam especialistas do setor.
O banco reduziu os limites de financiamento de 90% para 80% do valor do imóvel, no caso das unidades novas, e de 70% para 60% nos usados. A medida atinge os empréstimos com recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) — para o programa Minha Casa Minha Vida e linhas Pró-Costista e CCFGTS — e do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos. Nos financiamentos regulados pela tabela Price, o limite para imóvel usado baixou de 70% para 60% na linha Pró-Cotista e de 80% para 70% no CCFGTS.
— O maior impacto, de início, será na venda dos imóveis em estoque, hoje o grande problema do mercado. O Rio passou os últimos dois anos vendendo imóveis novos prontos. E tem estoque para mais dois anos — diz Claudio Hermolin, presidente da Ademi-Rio, que reúne as construtoras que atuam no mercado carioca, e da Brasil Brokers.
A decisão da Caixa, continua ele, gera incerteza no mercado, para consumidores e construtoras. A Caixa detém quase 70% de todo o financiamento imobiliário do país, com R$ 413 bilhões emprestados.
IMPACTO PARA A BAIXA RENDA
Leonardo Schneider, presidente do Secovi-Rio (o Sindicato da Habitação do Rio), concorda em parte com Hermolin: — Vejo como um ajuste feito pela Caixa para evitar problemas de falta de liquidez. Foi suave, já que o limite continua a representar uma grande fatia do preço do imóvel. Mas há o impacto subjetivo. No momento de retomada, com a queda da taxa de juros, vem a redução do teto para financiamento — pondera ele.
No caso dos imóveis do segmento popular, contudo, a redução do limite para financiamento pode excluir consumidores do mercado, alerta João da Rocha Lima Jr., coordenador do Núcleo de Real Estate da Escola Politécnica da USP.
— Nas rendas mais altas, a capacidade de poupança das famílias é mais maleável. Na baixa renda, é extremamente reduzida ou nula. Se diminui o limite de financiamento, terá efeito expressivo. Para Hermolin, ainda é cedo para saber se os bancos privados vão acompanhar o movimento da Caixa, que detinha o maior limite de crédito.
— Pode puxar maior concorrência entre os bancos privados para oferecer as melhores condições de financiamento, as melhores taxas, e isso é um ponto positivo para o cliente e para o mercado — afirma Edson Pires, diretor da Sawala Imobiliária. Os clientes com avaliação de crédito para obtenção de financiamento imobiliário junto à Caixa aprovada até a última terça-feira poderão tomar empréstimo pela regra antiga praticada pelo banco.
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Redação iBahia
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