Para celebrar o mês da Consciência Negra, Salvador será tomada por uma série de eventos que discutirá a temática étnico-racial através de debates, das artes e da estética. “O momento é de ganhar força. Não pode ser o um mês atípico, mas tem de ser o momento para transformar o ano inteiro em um ano negro, em um ano denegrido, ressignificando a palavra”, lembra Daniel Aracades, ator do Nata - Núcleo Afrobrasileiro de Teatro de Alagoinhas.
Hoje, às 20h, ele apresenta o espetáculo Impopstor, no Sesc Senac Pelourinho. A montagem é um dos seis solos apresentados pelo grupo dentro do projeto Natas em Solos, que segue até o dia 18.
“Nós resolvemos aprofundar questões relacionadas à negritude, à nossa realidade. Eu sou o ator com menos melanina do grupo. Temos ouvido falar desses ataques a terreiros de candomblé por neopentecostais e, foi a partir disso, que surgiu o espetáculo. Não falamos sobre outras religiões, mas das pessoas que fazem mau uso da fé, que pregam o preconceito e só visam o enriquecimento. Não é uma dicotomia cultura afro-brasileira contra o cristão”, ressalta, ao lembrar que o tom de comédia do espetáculo permite a reflexão, sem soar agressivo.
A intolerância religiosa contra o povo de santo também é tema do espetáculo Kaiala, protagonizado por Sulivã Bispo, e que volta a ser encenado no Ubuntu Festival de Negras Artes. A peça fala sobre assassinato de uma adolescente dentro de um terreiro de candomblé.
Em seu segundo ano, o festival, que acontece entre os dias 15 e 25 de novembro, no Teatro Gamboa Nova, reúne atores, diretores e produtores negros para mostrarem seus trabalhos nas mais variadas linguagens artísticas.
“Na nossa estreia tivemos como tema a arte produzida pelas mulheres negras. Esse ano, diante da profusão de espetáculos multilinguagens, escolhemos como tema a arte entrecruzada”, diz Shirlei Sanjeva, uma das produtoras do evento.
O mais belo dos belos
Em sua terceira edição, a Concha Negra recebe no próximo dia 18 o Ilê Aiyê, que convida os cantores Daniela Mercury e Criolo. A ideia do projeto, que estreou em setembro e já contou com apresentações dos Filhos de Gandhy e do Muzenza, é garantir espaço e visibilidade para os blocos afros de maior tradição na cidade, em uma série de shows mensais até o Carnaval. Para Elísio Lopes Jr., diretor artístico da Concha Negra, esta será uma edição muito especial. “Estarão em cena o Ilê e o Bando de Teatro Olodum. É o que temos de mais fino na arte negra produzida na Bahia. E no palco principal, o que acho fundamental!”, comenta.
Para ele, é urgente que projetos como esse se calendarizem e não fiquem restritos a um único mês. “A luta de artistas geniais negros da Bahia é uma inspiração para todos nós. Todo mundo precisa saber quem foi Mário Gusmão, quem foi Ederaldo Gentil, Batatinha, quem é Riachão... Assim como ainda hoje estamos buscando o reconhecimento e a relevância da pauta racial, não apenas em novembro. Somos negros o ano inteiro, e nosso talento existe todo mês... Resiste todo mês”, destaca.
A afirmação da negritude pela estética, missão do Ilê Aiyê desde o surgimento do bloco, há 44 anos, dá o tom de eventos como a Marcha do Empoderamento Crespo e do Afro Fashion Day, que também acontecem no próximo sábado.
Articulada sobretudo pela internet, a Marcha do Empoderamento Crespo promove, durante todo o ano, uma série de atividades em escolas e bairros de Salvador. No entanto, novembro foi o mês escolhido pelo movimento para a manifestação nas ruas do Centro da cidade. “A gente segue no debate pelo direito às nossas histórias, à nossa memória, por isso é simbólico que a Marcha aconteça em novembro”, diz Andrea Souza, uma das organizadoras. Para ela, o debate sobre a negritude através da estética é urgente porque o “racismo na sociedade brasileira é fenotípico e o corpo negro foi escolhido para ser subalternizado, ele é o totém de todas as formas de preconceito”, lembra.
A beleza do corpo negro vai estar em evidência na passarela do Afro Fashion Day, evento promovido pelo CORREIO e que nesta terceira edição acontece no Porto Salvador, no Comércio. “O evento lança luz sobre pessoas que por muito tempo foram esquecidas e ainda lutam muito para mostrar que existem”, lembra Fagner Bispo, que assina a produção de moda. O Afro Fashion Day 2017 traz produções de 40 marcas baianas de acessórios, turbantes, roupas e calçados, que serão apresentadas por cerca de 90 modelos na passarela.
PROGRAME-SE
Rolé Brasil Roteiro percorrerá ruas da Calçada à Igreja do Bonfim no dia 18, ressaltando legado dos negros. Gratuito.
Mulher Com a Palavra Camila Pitanga é convidada da edição que tem como tema Negra, Sim! e acontece no dia 23, às 20h, no TCA. Os ingressos custam R$ 10 | R$ 5.
Áfricas na Gente Projeto recebe nomes do cenário cultural baiano para rodas de conversa em escolas de Cajazeiras. Gratuito.
Batekoo Festa celebra expressões musicais e corporais negras neste sábado (11), às 20h, no Solar Boa Vista. Os ingressos custam R$ 20 | R$ 10.
Traga-me a Cabeça de Lima Barreto Monólogo celebra vida e obra do escritor negro; estreia acontece dia 30, no Teatro Vila Velha.
Quabales Grupo percussivo convida Margareth Menezes para o projeto Domingo no TCA, dia 19, às 11h. Os ingressos custam R$ 1 | R$ 0,50 e estarão à venda na bilheteria do teatro, às 9h do dia da apresentação.
Negra É A Voz - Toda Mulher É Meio Chica da Silva As Ganhadeiras de Itapuã estrelam o espetáculo que será apresentado em quatro sessões, entre os dias 23 e 26 de novembro, na Caixa Cultural de Salvador. A cada dia, o grupo recebe como convidadas outras cantoras negras. São elas: Larissa Luz, Juliana Ribeiro, Anelis Assumpção e Virgínia Rodrigues. Os ingressos custam R$ 10 | R$ 5.
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Redação iBahia
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