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SALVADOR

Êxodo no feriadão deixa Salvador às moscas e muda a cara da cidade

No Porto da Barra, faltou muito para a tarde ter cara de feriado. Nada de cheiro de urina, muvuca, gritaria e lixo sobre a calçada

• 25/06/2011 às 9:05 • Atualizada em 29/08/2022 às 12:46 - há XX semanas

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Nilmário mata a bola no peito, deixa dar duas quicadas na faixa de pedestres e toca para Wesley. O garoto domina, dá alguns passos pela pista da esquerda e lança para Rafael, que dispara na diagonal, sentido Praça Castro Alves. Mas antes que o menino alcance a bola, o apito de uma solitária buzina de automóvel encerra o primeiro tempo. É hora de sair do gramado asfáltico da Avenida Sete. Com a debandada do povaréu ao interior da Bahia no feriadão junino, o baba de Wesley Rebouças, 12 anos, Rafael Pereira, 14, e Nilmário Nascimento, 9, ganhou um campo novo no final da tarde de quinta-feira, véspera de São João. A apresentação do plantel, que obviamente não contou com torcedores, aconteceu na altura do Relógio de São Pedro. “A gente mora aqui no Centro, vimos que não tinha carro nenhum passando e viemos jogar aqui (na rua), que é maior”, explicou Rafael. Fogueira - A festa em Salvador se preparava para começar ali ao lado, no Pelourinho e, sob as solitárias bandeirolas amarradas entre os postes da Avenida Sete, a única fogueira que queimava em homenagem a São João era uma churrasqueirazinha a carvão acesa por ambulantes sobre um tronco de árvore, em frente à agência do Bradesco. Em vez do milho assado, os seis amigos espetavam uma carninha de sol na brasa. “A ideia foi minha! A galera se picou e eu uni o útil ao agradável. Terminamos o serviço às 14h e viemos para cá”, contou o ambulante Jair Bispo, 43. No início da avenida, a lembrança da festa junina vinha baixinha de um bar que tocava forró. Como um oásis humano, o Bar e Lanchonete da Avenida Sete era a alegria de oito amigos. “Tá deserto e perigoso. A gente sai de galera que é para um proteger o outro”, contou o funcionário público Ney Miranda, 50. Se até cabra macho (sim, senhor!) estava cabreiro, imagine o ritmo do arrasta-pé das moças avexadas para chegar logo em casa? Elas temiam serem surpreendidas por quadrilhas, daquelas que não celebram casamento na roça. Quando elas chegam, o aviso é um só: “Ói o ladrão!”. “Ando morrendo de medo. Passo rápido. Só vim comprar uma roupa e fui”, afirmou a estudante Cintia Bispo, 16. Praia - No Porto da Barra, faltou muito para a tarde ter cara de feriado. Nada de cheiro de urina, muvuca, gritaria e lixo sobre a calçada. Mas enquanto poucos banhistas aproveitavam os últimos raios do sol, um guardador e uma guardadora de carros ainda ensaiaram resgatar o velho burburinho do local em uma guerra verbal.
Normalmente disputado, o Porto da Barra teve tardes tranquilas no São João
“Tem que ser honesto. O gringo era cliente meu e você tomou dinheiro dele”, disparou a mulher. O colega ainda espezinhou: “Se lamente aí, ó! Pode fazer zuada!”. O pirracento ainda tentou se desculpar. “Fique assim comigo não, vá”, arriscou. Até o fechamento desta edição não foi confirmado se aquilo acabou na fogueira ou em casamento junino.Fato é que a discussão não atrapalhou a tarde da empresária Márcia Andrade, 50. “Esta época é a melhor para curtir a cidade. Não venho muito ao Porto da Barra por causa da bagunça aqui em dias normais”, explicou. Boemia - No Largo de Santana, no Rio Vermelho, a tranquilidade era tanta, mas tanta, que metia medo. “Tá feio aqui. Faz medo de assalto. É bom nem falar para não atrair”, disse o garçom Evandro Andrade, 36, funcionário do único bar aberto, o Dogão.O estabelecimento, às 17h30, contava apenas com um cliente, tão bêbado que não conseguia costurar as palavras para conversar com a reportagem. “Ele é gente boa, ele é gente boa”, repetia, em referência ao garçom, que lhe aliviava a solidão.São Joaquim vive dia de shopping - As ruelas sempre apinhadas da Feira de São Joaquim estavam tão vazias que dava para caminhar sem dar e receber cotoveladas de fregueses impacientes e até andar de bicicleta. A única lembrança do escarcéu dos dias de semana vinha do cacarejar das galinhas vendidas em lojas de artigos de candomblé. A comerciante Sirlene Ferreira, 40 anos, aproveitou a boa disposição, proporcionada pela falta do que fazer na noite de São João, para ir às compras sem agonia.
Feira de São Joaquim teve dias sossegados
“Isso aqui é um inferninho! A gente tem que aproveitar. Comprei amendoim, milhos e uns fogos”, afirmou. Os próprios comerciantes estavam em marcha lenta. Para o vendedor de fogos de artifício Damião Silva, 27 anos, a Copa do Mundo de 2010 deixou saudade. Mas a nostalgia não tem nada a ver com os trajes moderninhos de Dunga. Na ressaca da noite de São João do ano passado, ele conseguiu vender mais graças ao torneio. Ontem, sentado em frente a sua banca, na Feira de São Joaquim, das 7h ao meio-dia, ele vendeu apenas R$ 20 em fogos. “Oxi! Tá muito vazio. Só vendi traque e estrelinha. Coisa horrível!”, lamentou.Segundo os vendedores, a resistência de beber licor e mesmo assim conseguir comparecer à feira no dia seguinte foi quase uma declaração de amor à freguesia. “Abri porque cliente ligou dizendo que vinha. A gente não pode deixar eles na mão nunca”, analisou o dono da Casa Pai Oxalá, Edson de Souza, 37. Ele atendeu a oito pessoas ontem pela manhã. A queda no movimento, em comparação a outros feriados, foi de 80% na loja de artigos para rituais de umbanda.Restaurantes vazios na Ribeira - Na Avenida Beira Mar, na Ribeira, ao roubar a freguesia dos restaurantes, São João obrigou os garçons a se transformar em pescadores de cliente. A fome era tanta que na manhã de ontem eles jogaram a isca para a equipe do CORREIO. O garçom Erisvaldo Souza, do restaurante Recanto do Mar, conta as manhas do canto da sereia da bandeja.
Casal se sentiu dono do restaurante, tamanha dedicação que recebeu no atendimento
Primeiro é preciso preparar o anzol, o que na Ribeira significa empunhar o cardápio. Depois, lança-se a linha no local certo e aborda-se a presa com um amplo sorriso. O último passo é ter agilidade para puxar a presa e levá-la até a mesa do bar. “Tem que chamar com carinho, afiar a lábia, sorrir. Em um dia como esse, tem que dizer que tudo aqui é dobrado, que a gente aceita qualquer cartão!”, brincou. Mas há quem goste da ressaca do São João. “Assim é bom, somos bem atendidos. Os donos do bar”, brincou o comerciante Jorge Albergaria, 49 anos, que aproveitou a tarde com a mulher, Ana Cristina Souza, 50.

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