|
---|
Ontem, no 11º dia de greve da Polícia Militar, a população soteropolitana decidiu voltar a viver. Mesmo sem policiais nas ruas e com o escasso número de soldados do Exército em diversas regiões da cidade, aos poucos as ruas voltaram a ganhar ares de rotina. “O Exército vem, fica 5 minutos e vai embora. A sensação de insegurança permanece, mas as pessoas não vão ficar a vida toda trancadas em casa, tem que voltar a viver”, avaliou o lojista Luiz Oliveira, 35 anos, dono de uma farmácia em Periperi. No bairro, o CORREIO flagrou que os soldados do Exército não permanecem nos pontos de maior movimento. Descem dos caminhões, ficam por um curto período e logo partem para outra região da cidade. Naquele ponto, um aviso sob forma de cartazes fixados na parede ameaçava os comerciantes que abrissem a porta na última quarta. Alguns, temerosos, decidiram não funcionar, mas quem se atreveu a trabalhar não foi retaliado pelos criminosos. “Na verdade, a gente já se adaptou a viver sem polícia. Já tem quase duas semanas. Então, nos acostumamos, não tem mais medo, já passou”, frisou Willian Moura, 22 anos, vendedor em uma loja de calçados na Sussuarana. No local onde trabalha, a prudência obrigou que as portas fechassem por volta das 16h durante a semana. Ontem, entretanto, o fim do expediente voltou ao normal às 20h. Na Mata Escura, as ruas cheias de gente e carros em nada pareciam com quinta-feira da semana passada, quando os comerciantes fecharam as portas devido aos arrastões. “Hoje (ontem) com certeza foi o dia que mais teve gente nas ruas, está ótimo”, festeja Railde Almeida, 31, dona de uma loja de cosméticos. No bairro, nem sinal de Exército ou Força Nacional.
Lembranças - Mais assustados, os comerciantes da Liberdade ainda têm fresco na memória as lembranças dos arrastões que esvaziaram algumas lojas na semana passada, mas também tentam voltar à rotina, mesmo sem a polícia. A ambulante Rosa Bispo, 30 anos, diariamente, monta três barracas para expor suas mercadorias em manequins, mas, precavida, está deixando uma das barracas em casa. “A gente não pode ficar sem trabalhar, então venho, mas com menos material, porque se houver arrastão dá para desmontar”, explicou sua estratégia. O colega Antônio Carlos Santos, 48 anos, que vende material escolar, reclamava dos prejuízos com a greve. “Que fizessem o protesto deles sem atrapalhar ninguém. A gente, que não tem nada a ver, só ganha se trabalhar. Agora eles, mesmo fazendo essa bagunça toda, vão receber os salários no fim do mês”. Entre as grandes redes de eletrodomésticos, a Ricardo Eletro começou a tirar os tapumes da frente da loja na manhã de ontem, para voltar após uma semana inteira de prejuízo. “Agora está mais tranquilo. Vamos ter que confiar nas Forças Armadas”, ponderou o gerente Paulo Alves. Já na Casas Bahia, que foi saqueada, o estoque já foi reposto e os danos, reparados. Ontem, os funcionários foram convocados a voltar a trabalhar, mas ficaram dentro da loja. “Viemos trabalhar na expectativa de a greve acabar. Se acabar, abrimos os portões”, diz o gerente Eron Ferreira. A Laser Eletro Magazine, que ficou completamente vazia com os saques, já está com as obras de reconstrução das vitrines prontas, mas o gerente, Paulo Alves, afirma que só vai reabastecer a loja com produtos após o fim da greve. Na frente do portão foi instalada uma grade reforçada. Prejuízos Em Lauro de Freitas, o clima de insegurança ainda existe, mas os lojistas não deixaram de trabalhar. A ‘Nossa Farmácia’, no centro da cidade, foi vítima de assalto na quinta à tarde. Segundo uma vendedora, que não quis se identificar, dois assaltantes armados levaram o dinheiro que tinha no caixa, cerca de R$ 300. Devido à greve, o estabelecimento está fechando duas horas mais cedo, às 22h. Já na Avenida Manoel Dias, mais de dez soldados do Exército faziam rondas pelas ruas. O dono da loja Fotografe, George Oliveira, disse que o clima de insegurança continua e que mesmo com os comerciantes abrindo as lojas nos horários comuns, os clientes ainda não apareceram. “Quem acha normal vim para a rua com um pelotão do Exército parado na avenida? Nem 50% dos meus clientes voltaram”, acrescentou. Centro No tradicional ponto turístico de Salvador, o Pelourinho, os lojistas comentavam que o movimento nem se compara ao mesmo período do ano passado. “Nesta época, no ano passado, já era Carnaval no Pelourinho. Acho que as pessoas ainda estão apreensivas. Quando chega um baiano, você vê logo que ele está mais tranquilo. Já o turista chega mais assustado. Mas, aos poucos, estamos voltando à normalidade”, contou Cléa Castro, dona da loja Arte Estampa, há 11 anos. Já na Avenida Sete de Setembro, ponto de forte comércio, as pessoas também começaram a movimentar mais as ruas. “Nossa expectativa é que de amanhã (hoje) em diante as vendas já estejam mais aquecidas para o Carnaval”, esperava Teresinha Sales, dona da Don Diego Modas. Aquecido mesmo estava o Porto da Barra na tarde de ontem. O movimento na praia já estava quase normal, segundo os frequentadores. “Aqui está até cheio. Só não está normal, porque costuma ficar tão cheio que não dá nem para ver a areia. E hoje está dando para ver uma parte”, contou, brincando, Douglas Lambertini, estudante.
|
---|
Aulas só em escolas de bairros de classe média - Apesar de o Sindicato dos Professores da Rede Privada (Sinpro-BA) ter orientado os colégios a dar início ao ano letivo ontem, os pais ficaram receosos de mandar seus filhos para a aula. Nos bairros periféricos, as escolas não abriram. Na escola Eunice Palma, em Periperi, os professores chegaram cedo, mas não havia alunos. “Os pais ainda estão com essa noção de insegurança”, afirmou a professora Rita Leal, 30 anos. Na Liberdade, a Escola Adventista avisava na porta que não seguirá a orientação do sindicato e iria funcionar somente após a greve. Nos bairros de classe média, a presença mais intensa da Força Nacional e do Exército deu mais tranquilidade para os pais e as atividades começaram. “Mas nem teve aula direito. Conteúdo mesmo só depois do Carnaval”, diz o estudante Iuri Gottsehalk, 16 anos, do colégio Integral, na Pituba. Segundo ele, apenas metade dos 60 alunos de sua turma foi à aula ontem. A rede municipal de Salvador confirmou o início das aulas para o próximo dia 27 de fevereiro. A mudança da data, prevista para a última terça, ocorreu por conta da greve, mas também porque o planejamento dos professores também foi prejudicado.
|
---|
Muitos turistas foram embora sem conhecer os pontos históricos |
Turistas lamentam - No aeroporto de Salvador, quem ia embora lamentava não ter conhecido os pontos históricos. “Vai ficar para a próxima vez, infelizmente”, resignou-se o corretor de imóveis paulista André Machado, 39 anos. Ele conta que se hospedou na Costa do Sauípe, mas tinha em seus planos passar alguns dias na capital. Foi aconselhado pelos agentes de turismo a não sair de Praia do Forte. “Disseram que Salvador estava muito perigoso, que muita coisa que estava acontecendo nem saía nos jornais. Cheguei a alugar um carro para conhecer Salvador, mas não usei duas horas”. Quem desembarcava torcia para a greve acabar. “Pelo que a gente viu na TV, com medo a gente sempre fica, mas planejamos essa viagem o ano inteiro, não íamos desistir agora”, afirmou a estudante Raquel Amaral, 25 anos, de Brasília. Já no Pelourinho, alguns turistas já podiam ser vistos. “Ver os militares é meio agressivo, mas estou andando numa boa”, conta a visitante Sônia Rodrigues, empresária de Porto Alegres.
Feira de SantanaO comércio e o transporte público funcionam com regularidade. O clima de segurança tem sido garantido pelo Exército e pela Força Nacional. Mas o Fórum de Feira e os campi da Uneb e da Uefs estão fechados desde o início da greve.
IlhéusO comércio tem fechado mais cedo e o transporte público tem circulado só até às 17h. “Houve aumento na taxa de homicídios, mas não foi nada absurdo. As aulas no sistema público e particular têm previsão de retornar nessa segunda-feira”, avalia o delegado Pedro Amorim.
BarreirasO comercio voltou a funcionar na cidade, assim como algumas escolas particulares. Não houve alteração no transporte público.
JuazeiroTropas do Exército reforçam a segurança na cidade. O comércio está funcionando normalmente, bem como o transporte público. As aulas nas escolas particulares devem retornar na segunda e na rede estadual poucos alunos têm comparecido.
ItabunaÉ tímido o retorno do comércio na cidade. Quem abre tem preferido fechar mais cedo. As aulas na rede municipal estão suspensas, mas pode ter retorno na segunda. Nas escolas municipais, as aulas noturnas estão canceladas.
LençóisComo em todos os 13 municípios da Chapada Diamantina, não foi afetada pela greve. A PM não está parada.
Vitória da ConquistaOntem não houve homicídios na cidade, que registra 12 mortes desde o início da paralisação.