A secretária de saúde de Nova Friburgo (RJ) Tânia da Silva Trilha foi exonerada nesta terça (11) após vir à tona um áudio em que ela diz a um diretor de hospital que precisa que um paciente "seja operado ou morra". A gravação também levou o Conselho Regional de Medicina (Cremerj) a ingressar com uma representação no Ministério Público por improbidade administrativa contra a servidora por violação do princípio de moralidade administrativa.
Na gravação, divulgada pelo site Nova TV anteontem, Tânia pede ajuda a Arthur Mattar, então diretor do Hospital Municipal Raul Sertão:
— Arthur meu querido, olha só! Eu preciso só que resolva; que opere o paciente ou que ele morra, entendeu, 'pra gente' se ver livre do problema, mas é só o que eu preciso porque eu tenho que cumprir uma decisão judicial, você me ajuda nisso por favor? — diz Tânia.
OUÇA A GRAVAÇÃO:
Procurada, a secretária de saúde confirmou a autenticidade do áudio. Porém, Tânia afirmou que prima pela vida e que a gravação, inicialmente compartilhada em um grupo com diretores de hospitais, foi descontextualizada. Ele deixou o cargo no último dia 07 de maio, quando afirmou "não compactuar com esta gestão da secretaria Municipal de Saúde, onde os valores judiciais são mais importantes que os valores humanos".
Confira a nota enviada por Tânia da Silva Trilha:
"Em 23/01/2019, recebemos um mandado judicial para internação de um paciente no CTI. Como
De costume, falamos no grupo restrito da Direção do hospital Raul Sertã, em que participavam eu, o Diretor Médico na ocasião, Arthur Mattar, a Diretora Geral e a Subsecretária de Atenção Hospitalar, vez que sempre
conversávamos de forma privada em tal grupo, sobre o direcionamento das condutas a serem realizadas. Ressalvando que as condutas médicas não eram de minha competência, pois o médico dirigente, era o Dr. Artur, que no
caso do referido paciente, ele mesmo já havia nos informado da situação de risco de morte e que só teria vaga no CTI do nosso hospital se alguém morresse, ou seja, se tivesse “alta celestial”, palavras frequentes do Dr. Arthur.
O paciente, segundo o Diretor Médico, tinha a saúde completamente debilitada, necessitando fazer uma cirurgia e o mandado determinava a internação dele no CTI. Nosso hospital não tinha leito de CTI vago. Autorizei de pronto a internação dele em um hospital privado da municipalidade, arcando a administração pública com o custo e demais despesas necessárias à acomodação do paciente no CTI, prática reiterada, por vezes, pois nossa gestão prima sempre pela vida. Prática essa que aprendi em casa com a minha família e a pratico no dia a dia por aqueles que comigo convivem, sendo fácil comprovar.
Após horas e horas de discussão que se prolongou até o dia 24/01, a respeito da situação do paciente, se primeiro seria feita a cirurgia e depois a sua remoção para o CTI, ou vice versa, aguardando posicionamento do Diretor Médico quanto ao contato com os profissionais que realizariam a cirurgia e quanto a decisão se o paciente estava estável o suficiente para suportar o procedimento, eu disse com ênfase às frases veiculadas no áudio de forma isolada, buscando não a morte do paciente, mas a resolutividade da circunstância.
Entendo que a conduta de divulgar um áudio de um grupo privado de Direção descontextualizada, é um ato criminoso e no mínimo antiético que não merece crédito, pois se vale de um momento político e de julgamento daqueles que desconhecem a minha postura integra, profissional e acima de tudo humana. Sendo certo que as medidas judiciais cabíveis serão tomadas".
Secretaria já se envolveu em outras polêmicas
Essa não é a primeira vez que a Secretaria de Saúde de Nova Friburgo é envolvida em polêmicas. Em dezembro de 2017, o órgão foi alvo da operação "Esterilização" da Polícia Federal. Na ocasião, cinco mandados de busca e apreensão foram cumpridos, após denúncias de fraudes em contratos para fornecimento de serviços.
Já em setembro do ano passado, a Câmara Municipal da cidade abriu uma CPI por conta de supostas irregularidades em outros três contratos emergenciais assinados pela secretaria entre abril de 2017 e agosto de 2018.
Nesta terça-feira, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio (Cremerj) divulgou uma nota de repúdio à situação, classificada pela entidade como "descalabro". O texto lembrou que o direito à vida é garantido pela constituição e criticou o que entendeu como "coação ao médico".
"O CREMERJ ingressará, no dia de hoje, com representação de improbidade administrativa no Ministério Público do Rio de Janeiro por violação do princípio da moralidade administrativa", informou o órgão na nota.
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Redação iBahia
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