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Ator baiano sai da capoeira para a carreira no teatro, no cinema e na televisão

Soteropolitano, do bairro de Nazaré, criado em Sussuarana, Renan Motta segue na sintonia com os mensageiros dos palcos e das telas

Arlon Souza • 09/12/2022 às 18:00 • Atualizada em 10/12/2022 às 17:20

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Do berimbau ao terceiro sinal, da roda de capoeira aos palcos, a história do ator Renan Motta é um claro exemplo de chamado, de vocação. E ainda de mensageiros. O primeiro foi o Mestre Francisco, do Grupo Capoarte, de Sussuarana, bairro onde o artista se criou. Foi lá, em 2004, aos 16 anos, que recebeu a mensagem do mestre que havia umas oficinas no extinto Liceu de Artes e Ofícios da Bahia. Entre elas, escolheu se inscrever em design, por um leve desvio de percurso.

É daí que entra em cena um segundo mensageiro. O ator e diretor de teatro Edvard Passos, que na época orientava a oficina de design, e que, ao propor uma dinâmica de grupo, não teve dúvidas: “Você está na oficina errada”, decreta. E assim o encaminha para a de teatro. Iniciado pelas mãos de mulheres empoderadas, as atrizes e diretoras Adelice Souza e Elaine Cardim, Renan Motta seguiu seu caminho no Liceu durante 1 ano. Na conclusão do curso, atuou no espetáculo infantil Dom Quixote, revezando em seis 6 personagens, no também extinto Teatro Iemanjá, no antigo Centro de Convenções da Bahia.

Quase dois anos depois, no final de 2005, entrou para o grupo de Teatro do Liceu para compor o elenco do emblemático espetáculo “Cuida Bem de Mim”, sob a direção de Luiz Marfuz. A montagem, que estreou em 1996, já contou com nomes como Wagner Moura, Lázaro Ramos, Ana Paula Bouzas, Ricardo Castro, entre outros profissionais. E o projeto continuou em inúmeras temporadas, e nele o artista teve a oportunidade, durante três anos, de se apresentar em diversas escolas públicas da Bahia. A peça abordava a importância de preservar a escola. O ator considera este o marco de sua profissionalização, aos 18 anos.

Para quem sempre foi aluno de escola pública, como os colégios Senhor do Bonfim e Bolivar Santana, o laboratório de pesquisa de Renan Motta para “Cuida Bem de Mim” se deu de maneira orgânica e natural, assim como para muitos outros elencos da peça. Quem sabe foi a partir dessa sintonia com a sua realidade e o seu papel cidadão que mais um portal se abriu para um encontro com mais um mensageiro. Dessa vez, durante a 28ª edição do Curso Livre de Teatro da UFBA, quando o encenador Marcio Meirelles foi o diretor artístico. E Meirelles, apaixonado pela obra de Shakespeare como é, montou "Troilus e Cressida” (em 2013), no qual Motta interpretou a personagem Páris.

Outros nomes talentosos de sua mesma geração despontaram nessa mesma época, como Sulivã Bispo, Thiago Almasy, Rodrigo Villa e uma série de jovens artistas que vêm fazendo história nos palcos e nas telas da Bahia e do Brasil. Do encontro com o mensageiro Meirelles a ponte para a Universidade Livre do Teatro Vila Velha e logo após para um dos grupos de Teatro Negro mais importantes dos últimos 30 anos: o Bando de Teatro Olodum. A porta de entrada foi a Oficina de Performance Negra.

O grupo foi um divisor de águas em sua carreira. Nele, fez boa parte das principais peças de seu repertório: “Relato de Uma Guerra que não acabou”, “Bença”, “Cabaré da Rrrrraça”, “Áfricas”, “Ó Pái ó” e “Erê”. Para ele, uma grande escola.

“Ser um ator do Bando de Teatro Olodum vem me abrindo portas. Além disso, o Bando nos dá uma formação artística mais consciente do nosso papel como cidadão e ator, mais consciente da nossa negritude”, observa.

Renan Motta vem trilhando uma carreira consistente e proeminente também no cinema. Em 2018, protagonizou o longa-metragem “Ilha”, uma produção da Rosza Filmes com direção de Ary Rosa e Glenda Nicácio, filme vencedor da XIV edição do Panorama Internacional Coisa de Cinema; prêmio para roteiro (Ary Rosa), ator (Aldri Anunciação) e o troféu Zózimo Bulbul de melhor filme no Festival de Brasília; no 20º Festival do Rio (Melhor Filme na Mostra Novos Rumos); e o prêmio de Melhor Roteiro na 26ª edição do Festival Mix Brasil.

No mesmo ano, o ator mudou-se para o Rio para fazer a novela Segundo Sol (TV Globo). No horário nobre da emissora interpretou o estudante de cinema Márcio Vitor. Na mesma trama, brilharam outros baianos, como Cláudia Di Moura, Fabrício Boliveira, Ella Nascimento, Dan Ferreira e Danilo Mesquita. No ano seguinte, é convidado por Lázaro Ramos para o elenco do filme Medida Provisória e para uma participação na série Sob Pressão, conteúdo exclusivo da Globoplay (2020/2021); em 2021, atua na série Verdades Secretas, na pele de Herbert, um hacker responsável por se infiltrar na agência de moda Blush pra descobrir os segredos da empresa.

É com essa vitalidade e coerência que Motta segue construindo uma carreira que gradualmente vai abrindo e consolidando seu espaço como ator. Sobre os novos projetos, antecipou o trabalho na 18ª temporada da série Detetives do Prédio Azul, canal Gloob, onde faz um mago viajante chamado Volátilus, que estreia em 2023. E do seu personagem no filme Ó Paí ó 2.

“Há uma mudança significativa em curso, mas que ainda é muito lenta. Acredito que o mercado vem entendendo que a gente quer se ver e há uma necessidade urgente de mais artistas negros em todas as áreas. Mais do que representatividade, a gente precisa de proporcionalidade”, ressalta o artista.

A Bahia é este polo de formação de artistas que cada vez mais vem conquistando o mundo.

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