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MODA E BELEZA

Conheça o minimalismo, um estilo de vida em que menos é mais

Adeptos exaltam a liberdade de viver sem ceder à tentação do consumo desenfreado

Redação iBahia • 26/08/2018 às 21:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 9:43 - há XX semanas

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Com tanta ostentação nas redes sociais, a ideia de levar uma vida sem excessos soa como andar na contramão. Mas esse é justamente o caminho que muita gente está buscando para dar um sentido mais nobre à sua existência. Em vez de ceder à tentação do consumo desenfreado, compra-se o necessário para se libertar do que não importa. Normalmente associado à música, à moda e ao design, o minimalismo vem servindo de inspiração para adeptos de um estilo de vida que cresce no mundo todo — a ponto de virar tema de livros, como o best-seller "Menos é mais: um guia minimalista para organizar e simplificar sua vida, da americana Francine Jay, e do aclamado documentário "Minimalismo: um documentário sobre as coisas que importam", de Joshua Millburn e Ryan Nicodemus.

Foto: Reprodução

Em 2012, a designer Fernanda Marinho teve que enfrentar um dilema quando precisou voltar a morar com a mãe, em Belo Horizonte. Com a mudança, ela iria passar a ocupar um quarto muito menor, o que a obrigou a se desfazer de muitos dos seus pertences.

— Nunca fui consumista, mas sempre tive muito apego às minhas coisas. Então, tudo o que comprava, eu esquecia e guardava para sempre. Quando fiz a mudança, me dei conta da quantidade de roupas, bijuterias, fotos e quinquilharias que acumulava. Foi aí que me vi obrigada a treinar o desapego — lembra.

Em sua "faxina", Fernanda percebeu que a maior parte daquilo que juntava não tinha a menor utilidade e só ocupava espaço: roupas que não serviam, maquiagens vencidas, CDs e DVDs dos quais tinha enjoado. Essa noção detonou o seu processo de busca por uma forma de organizar melhor sua vida, acumulando menos. Encontrou a resposta na internet, em blogs sobre minimalismo, como o mnmlist, do americano Leo Babauta. Inspirada pelo que leu, a designer reduziu à metade a quantidade de peças do seu guarda-roupas, doou os livros infantojuvenis empoeirados da estante e se desfez de bolsas, bijuterias, CDs e DVDs. Hoje, ela mora com o namorado numa casa com poucos móveis e mais espaço para circular.

— O minimalismo me ensinou a ser mais livre. E isso nos alivia dessa pressão insana de consumir o tempo todo. Hoje, gasto menos tempo com a manutenção dos objetos no meu entorno. Com isso, também sobrou mais dinheiro para fazer o que eu acho mais importante, que traz algum valor para a minha vida — explica Fernanda, que divide as suas experiências em seu blog, o Minimalizo.

Para Eneus Trindade Barreto Filho, professor da Escola de Comunicações e Artes da USP, ao se enquadrar em princípios mais sustentáveis, o minimalismo pode desafiar a lógica da produção industrial.

— Essa busca por demandas de vida mais enxutas pode ajudar a estruturar um modo de consumo menos predatório. Em vez de comprar roupa numa loja fast fashion, que está imersa na lógica da produção de massa, muitos podem optar em reaproveitar uma peça, adquirida em um brechó, por exemplo — diz Eneus.

Ainda de acordo com Eneus, essa lógica pode ir além do vestuário e da alimentação e afetar também a relação do consumidor com sua mobilidade ou com os dispositivos eletrônicos.

— Na busca pela vida simples, o minimalista pode vender seu carro e passar a usufruir mais da rede pública de transportes, ou mesmo andar de bicicleta para poluir menos, por exemplo. Com relação aos aparelhos eletrônicos, ele vai resistir à redução do tempo de vida útil dos objetos. Hoje os dispositivos ficam obsoletos rapidamente e há uma cobrança do mercado para que sejam prontamente substituídos — explica Eneus.

O minimalismo não tem a ver com levar a vida em estado de abstinência ou privação. Os adeptos da tendência questionam os excessos da sociedade de consumo de dentro do sistema, diferentemente do movimento hippie no final dos anos 1960, que pregava a construção de uma sociedade alternativa.

— Tenho uma grande preocupação com o consumo consciente, mas acho importante destacar que a melhor maneira de fazer isso é consumindo pouco e aproveitando ao máximo o que já temos. Então demoro a comprar um celular. O meu atual tem um ano de uso, mas o anterior ficou comigo cinco anos e só troquei porque os aplicativos do meu banco pararam de funcionar nele — conta Fernanda.

A filosofia do minimalismo vem ganhando bastante repercussão no ambiente on-line. No Youtube, há uma grande quantidade de canais dedicados ao tema. Um dos mais famosos é o Enrique sem H, criado em 2013 pelo designer Enrique Coimbra, e que hoje conta com 165 mil inscritos. Há três meses, ele decidiu levar uma vida nômade e compartilhar com seu público a experiência de carregar a casa na sua mochila cargueira, com capacidade para 80 litros.

— Tenho atualmente 15 peças de roupa, a maioria cinza ou preta, para não ter problema na hora de combinar. O minimalismo foi para mim um processo de limpeza, me ajudou a perceber o valor real das coisas, a ter o controle sobre o que tenho. E não o contrário — diz Enrique que, na ocasião da entrevista, estava em Itacuruçá, distrito do município de Mangaratiba.

Doutora em Antropologia pela University College London, Ana Carolina Balthazar pondera que, para não ser um movimento de nicho, o minimalismo precisa dialogar com as pautas de outros segmentos sociais, principalmente com as classes menos favorecidas.

— É importante não usar essas narrativas do 'menos é mais' para oprimir quem já está sendo oprimido. Algumas vezes, o minimalista pode escolher ter menos porque alcançou ter muito e daí se vê em condições de levar uma vida mais simples. Mas, num país como o Brasil, há quem não tenha nada e, por isso, não tem de onde cortar — diz.

Estética minimalista

Na segunda metade do século XX, a percepção de que o "menos" é "mais" impregnou variadas formas de expressão artística — da moda à fotografia. Em todas elas, a preocupação é reduzir os elementos sem comprometer a mensagem. Na música, o minimalismo consistiu no abandono de estruturas complexas, ao combinar notas e silêncios — o que resultou em uma sonoridade mais limpa e com menos camadas.

Artistas de rock, como Brian Eno e David Byrne, incorporaram esses elementos em suas obras, a exemplo do que já faziam compositores clássicos, entre eles Philip Glass, que apostou na repetição de pequenos blocos melódicos, mas rejeita o rótulo.

Quando é bem aplicado aos objetos de design, a estética minimalista simplifica as formas e economiza nos traços e nas cores, com o intuito de passar valores como modernidade, pureza e praticidade. Na moda, a tendência investe na paleta de tons neutros, na modelagem reta e na combinação monocromática. Os estilistas Calvin Klein e Helmut Lang estão entre os maiores representantes do estilo no mundo fashion.

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