Quem nunca sonhou com um dia de trabalho que começa e termina sem engarrafamento, sem estresse para bater o ponto, sem chefe e, o melhor de tudo, sem precisar sair de casa? Pois já se vão nove anos desde que o publicitário André Brik lançou-se nesta aventura do home office, e ele só tem motivos para comemorar.
“Quando trabalhava em agência de publicidade, perdia horas no trânsito entre casa e agência, tinha uma jornada de trabalho extensa. Até que resolvi começar a trabalhar em casa. Era pra ser algo provisório, mas deu tão certo que continuo até hoje”, conta o publicitário, que três anos depois ganhou companhia na hora do trabalho. “Minha mulher viu como estava dando certo e resolveu aderir ao home office também”.
Mas trabalhar em casa não é tão simples quanto parece. Para se dar bem neste sistema de trabalho é preciso ter disciplina, saber gerenciar o próprio tempo e, acima de tudo, ter muita disposição. “Não são todas as pessoas que têm perfil para home office. Se a pessoa costuma esperar as coisas acontecerem, ela não serve para isso. Tem que ser disciplinada, responsável, mas também tem que estar comprometida com os resultados e correr atrás disso”, pontua Brik.
De acordo com ele, apesar do home office ter se tornado mais popular, ainda há um grande preconceito por parte das pessoas. “Quem trabalha em casa tem que mostrar mais serviço do que todos os outros. O cliente não precisa ver o profissional de pijama e pantufas, mas ele tem que saber que o profissional está produzindo”, pontua.
Na opinião de Luciana Caetano, consultora de carreira e orientadora vocacional, trabalhar dentro da própria casa traz inúmeras vantagens, mas é preciso ter muito foco e disciplina. “Como o horário é flexível, dá pra conciliar com outros compromissos, mas mesmo assim é importante estabelecer uma rotina, para não correr o risco de misturar as tarefas do trabalho com as tarefas de casa”, aponta.
ContratadosO sonho de trabalhar em casa já é uma realidade para quase 5 milhões de brasileiros que optaram pelo home office. Esta prática, anteriormente reservada aos profissionais autônomos, vem se estendendo aos que são empregados, seguindo esta forte tendência do mercado profissional.
A psicóloga e educadora sexual Carolina Duarte viveu, por cinco anos, a experiência do home office trabalhando para uma multinacional, com todos os direitos trabalhistas. “Não era fácil no começo. As pessoas me ligavam e queriam bater papo só porque eu estava em casa, então achavam que eu não estava trabalhando. Levou tempo até as pessoas se acostumarem”, comenta.
No caso de Carolina, o serviço exigia visitas a clientes e realização de palestras, então, para otimizar o tempo, ela evitava marcar visitas a clientes nos dias de trânsito mais complicado. “Usava esse dia para resolver as coisas burocráticas, como fazer relatórios e prestação de contas. Assim, evitava ficar horas no trânsito sem render nada”.
Mas Carolina destaca que o fato de ter um salário garantido no final do mês não era motivo para ela ficar acomodada. “A empresa oferece toda uma estrutura, mas exige produtividade e o profissional tem que corresponder a isso. Apesar de não ser cobrada diariamente por ninguém, tinha que bater metas semanais, mensais e anuais. Se alguma coisa desse errado era exclusivamente por minha causa”, lembra.
De acordo com Carolina, os profissionais mais contratados pelas empresas para trabalhar no sistema de home office são aqueles que tenham um perfil de autogerenciamento. “Elas já contratam pessoas com esse perfil, desde que batam as metas e que tenham o comportamento de trabalho alinhado com os valores da empresa. Se não for assim, esse profissional não fica muito tempo na empresa”, ressalta.
OS 10 MANDAMENTOS
1) Nunca inicie sua carreira trabalhando de casa. “É importantíssimo ter uma experiência profissional em alguma empresa para entender como funciona o mercado de trabalho na sua área“, recomenda o escritor André Brik, especialista em home office;
2) Cheque se a estrutura que você tem em casa é adequada para trabalhar. “Tem gente que descobre que o local onde mora é muito barulhento justo no horário em que mais precisa de silêncio para trabalhar”, comenta a psicóloga e orientadora sexual Carolina Duarte;
3) Controle as finanças da casa e as da empresa de forma rigorosa. “O ideal é separar os gastos da casa dos gastos do escritório, pelo menos no que for possível. Como as contas de água e luz valem para os dois, divido os valores entre casa e escritório”, revela Brik;
4) Tenha sempre comidas saudáveis na despensa, para não cair na tentação de comer besteiras, principalmente no lanche da tarde. “Desde que comecei a trabalhar em casa me tornei mais saudável, pois me alimento melhor. Emagreci nove quilos”, conta André Brik ;
5) Estabeleça uma rotina diária. “Apesar dos horários serem flexíveis, essa rotina deve ser cumprida. Se precisar, anote as tarefas na agenda, especialmente se não tiver um chefe para lhe cobrar”, indica a consultora de carreira e orientadora vocacional Luciana Caetano.
6) Estabeleça um horário de expediente e trate o home office verdadeiramente como seu local de trabalho. “Não dá para ir trabalhar de pijama e pantufas. Tem que se vestir e se comportar da maneira como você faria se trabalhasse num escritório fora de casa”, recomenda André Brik ;
7) Procure delimitar o espaço da casa e o espaço do trabalho. “O ideal é que tenham entradas independentes, para diminuir as chances de alguém atrapalhar o seu trabalho porque estava passando por ali naquela hora”, observa Luciana Caetano;
8) Converse com seus familiares sobre sua nova modalidade de trabalho, para que eles entendam que você está em casa, mas está trabalhando e não pode ser incomodado. “A cultura do brasileiro ainda não assimilou esta nova tendência mundial”, explica Carolina Duarte;
9) Faça uma reserva financeira que seja suficiente para cobrir suas despesas mensais por pelo menos seis meses. “É muito importante se prevenir, pois leva algum tempo até o negócio começar a engrenar”, orienta André Brik;
10) Mantenha uma rede de contatos ativa. “Trabalhar sozinho nos distancia das pessoas. Então, tem que participar de palestras, cursos, encontrar as pessoas. Tem que ser visto para ser lembrado”, ensina Luciana Caetano.
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