Assim como em outros gêneros musicais, o jazz foi, por muito tempo, dominado por homens. Em Salvador, no entanto, as mulheres têm conquistado cada vez mais os olhos e ouvidos do público. A presença feminina nos palcos da música instrumental sempre existiu, mas o coletivo Jam Delas surge para reafirmar e ampliar o protagonismo das instrumentistas na capital baiana.

O Jam Delas surgiu em 2023 após a organização de um festival afirmar publicamente que não havia mulheres tocando jazz em Salvador. A declaração causou indignação naquelas que já atuavam neste cenário musical, como Lorena Martins, que participa ativamente de projetos como a JAM no MAM e o Jazz na Avenida desde 2017.
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"Muitas vezes eu era a única mulher do local e, quando aconteceu desse festival anunciar que não havia mulheres que tocavam Jazz em Salvador, a gente resolveu se reunir, porque não adianta só reclamar, é importante ter um outro caminho de atitude", conta Lorena.

Assim nasceu o coletivo, como uma resposta direta à invisibilização das mulheres no jazz e como um espaço para fortalecer a presença feminina e expressão artística. Formado por onze mulheres que já tocavam com formações como a Geleia Solar, banda anfitriã do projeto JAM no MAM, e a Orkestra Rumpilezz.
Entre elas estão Daniela Nátali, Lorena Martins, Berta Pitanga, Rosa Denise, Kamile Levek, Érica Sá, Larissa Braga, Ágatha Clarissa, Carol Pepa, Carla Suzart e Tamires Estrela. Porém, cada apresentação reúne uma formação diferente, respeitando o tempo de cada uma e reforçando a ideia de coletividade e diversidade musical.

As apresentações da Jam Delas começaram em palcos como o Colaboraê e a Casa da Mãe, espaços culturais no bairro do Rio Vermelho, que se destacam por proporcionar um espaço seguro para experimentação musical.
Além da formação e dos palcos que abraçam o movimento, as musicistas do Jam Delas focam em um repertório de composições autorais e releituras de outras mulheres.
Referências femininas no jazz em Salvador

Em entrevista com Lorena Martins, a cantora destacou nomes de algumas artistas que integram ou não o coletivo e que também têm ganhado os holofotes na cena instrumental de Salvador. Entre elas está a clarinetista e compositora Daniela Natalie, que faz parte do Jam Delas, e apresenta a canção autoral "Jacaré".
Rosa Denise toca trombone e piano na banda Geleia Solar, além de fazer parte da Orkestra Rumpilezz. Outro nome em destaque é Ágata Macedo, que incrementa na sonoridade instrumental de Salvador com a guitarra baiana.
Saindo da Jam Delas, a baterista também destacou Jana Vasconcelos, violonista que tem chamado a atenção nos palcos de jazz. "A gente toca a música dela no nosso repertório do Jam Delas, ela é uma violonista e compositora incrível e está nessa área do violão erudito", conta Lorena.
Essas e outras mulheres têm contribuído para mudar a paisagem do jazz na cidade, rompendo barreiras e ocupando com talento e criatividade um espaço historicamente marcado pelo machismo.
“A música instrumental traz o protagonismo para quem está improvisando. Nós, mulheres, não somos criadas para esse lugar de protagonismo na sociedade, mas a gente está mudando isso”, afirma Lorena.
Com talento, atitude e união, as mulheres do Jam Delas vêm ressignificando o espaço da música instrumental em Salvador. O coletivo não apenas dá visibilidade a instrumentistas que já atuam na cidade, como também inspira novas gerações a ocuparem os palcos com liberdade criativa e protagonismo. Em um cenário ainda marcado por desafios, elas seguem improvisando novos caminhos para o jazz com identidade, representatividade e potência.
Série especial do Mundo GFM
Esta é a quarta reportagem da série especial do Mundo GFM em comemoração ao Dia Internacional do Jazz. Ao todo, são cinco matérias que contam a história e os desdobramentos do jazz em Salvador. Na próxima e última reportagem, o Mundo GFM apresenta projetos gratuitos que têm a proposta de ensinar a tocar instrumentos e promover o acesso ao jazz para novas gerações.