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SALVADOR

Especialistas avaliam entrega do Elevador Lacerda ao setor privado

Falta de debate e exemplo do ferry são lembrados como pontos negativos

• 16/09/2011 às 8:30 • Atualizada em 27/08/2022 às 7:23 - há XX semanas

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Elevador panorâmico, mirante, exaustores, motores mais modernos, modernização das catracas e tarifa integrada ao sistema de transporte público. Esses são algumas das sugestões dadas por especialistas para melhorar o Elevador Lacerda, após o anúncio da prefeitura de passar a gestão de todos os ascensores da cidade para o setor privado. O prefeito João Henrique (PP) afirmou que essa seria a melhor saída para que os equipamentos funcionem corretamente, uma vez que o município não tem condições financeiras e administrativas para gerir o Elevador Lacerda e os planos inclinados Gonçalves, Pilar e Liberdade.
Coordenadora do mestrado em Gestão Pública da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), a professora Ana Menezes explica que o argumento utilizado pelo prefeito é comum. “De modo geral, a falta de recursos tem sido a justificativa mais frequente para privatizações e concessões públicas”, diz. “Acredito que não é a melhor saída. É preciso saber gerir o bem público”, argumenta. Ela cita o sistema ferry-boat e os ônibus da cidade como exemplos de concessões que não solucionaram o problema. “Nesses casos, a população está muito insatisfeita. No ferry nada foi trocado ou modernizado e as tarifas em ambos os casos sempre aumentam sem o retorno esperado”, lembra. “O Elevador é um monumento da cidade e não deve ser entregue ao setor privado. Não há garantia de qualidade e baixas tarifas”, afirma. A Secretaria de Comunicação da prefeitura garante que no processo de concessão serão estabelecidas políticas tarifárias e regras relativas à qualidade do serviço. Segundo o órgão, a população será informada de todas as regras firmadas em contrato com a empresa que explorará os ascensores. A chefe do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Ilce Marília, entende que o segundo meio de transporte mais procurado em Salvador (depois dos ônibus) não pode deixar de ser mantido pelo poder público apenas por não ter condições de arcar com os custos de manutenção. “É só dizer que R$ 0,15 não dá para arcar com as despesas e repassar o problema? Essa é a única solução?”, questiona. A especialista aponta possíveis soluções para que a prefeitura reveja seu posicionamento. “Aumentar a tarifa, integrar os ascensores aos ônibus e trens e criar mais elevadores pode ser uma solução. É importante antes de qualquer atitude esclarecer a população. Discutir o assunto. Corremos o risco de acabarmos nas mãos de uma empresa sem a garantia da qualidade do serviço ou preço baixo”, diz. GarantiasPara o doutor em Planejamento de Transportes Juan Moreno, o transporte vertical é a alternativa mais viável financeira e ambientalmente para a cidade e a prefeitura deve estar atenta na elaboração do edital para licitação do Elevador e dos planos inclinados para não prejudicar a população. “É preciso entender que são meios de transporte e a tarifa deve ser acessível ou eles entrarão em desuso. É importante que o município imponha à empresa vencedora a expansão do serviço, ou seja, a construção de outros elevadores e planos em pontos estratégicos da cidade. Porque, com a geografia da cidade, isso facilitaria que o transporte para curtas distâncias fosse feito sem carro”, explica. MiranteEnquanto o edital com as exigências da prefeitura para a reestruturação e modernização do Elevador Lacerda ainda está em fase de análise, alguns engenheiros procurados pelo CORREIO apontaram melhorias essenciais na parte estrutural. Para o presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis (Abenc), Enéas Almeida Filho, como o Elevador também é um ponto turístico, ele deveria ser panorâmico. “Assim, moradores e turistas teriam uma viagem mais agradável e não perderiam a bela vista da cidade”, opina. Membro da Câmara de Engenharia Civil do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea), Edgard Cerqueira participou da última reforma do Elevador em 1981 e acredita que a torre do edifício deveria ser explorada turisticamente. “Poderiam criar um mirante com vista panorâmica da cidade semelhante ao que fizeram na Estátua da Liberdade (em Nova York). Poderia inclusive ser paga uma tarifa diferenciada para os visitantes”, ressalta. O engenheiro civil Valter Sarmento aponta outras alternativas. “Um sistema de exaustores de ar é importante porque o pavimento que dá acesso ao Comércio é muito quente. Além disso, acho muito importante, como vemos em outros símbolos do mundo, que fosse criado um painel relatando a história do Elevador”, afirma. ModernizaçãoEdgard Cerqueira sugere ainda mudar o material das cabines. “Elas são feitas de ferro e aço e hoje há cabines feitas em alumínio. Elas seriam mais leves, consumiriam menos energia e fariam o transporte em menos tempo. Os motores também precisam ser trocados. Eles são seculares e há modelos mais sustentáveis”. A tarifa integrada com o sistema de transporte público também é amplamente defendida. “Com catracas mais modernas, o passe poderia ser por cartão magnético. Ele poderia ser comprado avulso ou em conjunto com passes para ônibus, por exemplo”, defende Cerqueira. Ilce Marília explica que dessa forma os ascensores não dariam prejuízo. “As tarifas seriam vendidas em lotes, como acontece em muitos países, com ônibus e metrô”. Chile faz o contrário de SalvadorConhecida pelos seus planos inclinados, a cidade chilena de Valparaíso, a 117 quilômetros da capital do país, Santiago, vive neste momento situação inversa à de Salvador. O município tem hoje 15 planos inclinados, sendo dez privados e cinco estatais. E, diferente do que está fazendo o prefeito João Henrique, as autoridades por lá estão comprando os dez ascensores em mãos da iniciativa privada. Mais: as próprias empresas que exploravam o serviço estavam loucas para se verem livres deles - não era rentável, segundo elas.
Dos 15 ascensores da cidade, dez são privados. Governo está comprando
Com cerca de 275 mil habitantes, Valparaíso tem 42 morros e colinas, o que faz dos planos inclinados (os primeiros datam de 1890) um dos principais meios de transporte. A tarifa por lá custa o equivalente a R$ 0,36 (públicos) e R$ 1,18 (privados). Hoje, devido à degradação, apenas cinco estão em funcionamento - três deles públicos - e, pelo acordo realizado com as empresas, o governo chileno vai pagar US$ 2 milhões (cerca de R$ 3,46 milhões) pelos dez ascensores privados. “A ideia é colocar os 15 para funcionar novamente. A maquinaria é muito antiga e quase não há peças para repor em todo o mundo, então o conserto é feito artesanalmente”, explica Enrique Moro, responsável de projetos da Secretaria de Turismo da cidade. “Isso é muito custoso, mas tem que ser feito. E, para isso, não há quem se interesse que não seja o estado”, afirmou. Ainda não se sabe qual vai ser o modelo de gestão dos ascensores, mas de acordo com o arquiteto e chefe de projetos da Subsecretaria de Desenvolvimento Regional e Administrativo de Valparaíso, Javier Troncoso Arenas, nem a administração municipal e nem a privada foram capazes de gerar modelos de negócio que tenham tornado os ascensores rentáveis. “Atualmente, eles só recebem o que se paga pela passagem”, disse. Em maio, após fechar um dos ascensores sob sua gestão, Juan Esteban Cuevas, gerente da Companhia de Ascensores de Valparaíso, empresa dona dos equipamentos privados, afirmou que as passagens não sustentavam a operação. “Ele (o ascensor) não pagava a si mesmo. A arrecadação não alcança nem para pagar os insumos mínimos”, disse. Para Moro, a solução é que os ascensores se convertam em algo que gere lucro. “O ideal é que em cada morro da cidade haja um centro comercial, que atraia os turistas. E quando os elevadores voltarem a pertencer ao estado, a tarifa de 100 pesos (R$ 0,36) será seguramente mantida”, explicou Moro. Professor da Universidade Federico Santa Maria, em Valparaíso, o engenheiro mecânico e especialista em transporte vertical, Humberto Miranda, acredita que as recentes intervenções apontam que a cidade está no caminho certo para oferecer melhores serviços à população. “Nem as empresas privadas e nem o municípios foram capazes de mantê-los adequadamente, e por isso houve essa deterioração gradativa”, ressalta o professor. Facebook mobiliza insatisfeitos com a decisãoEm menos de uma semana, as redes sociais se tornaram um fórum para a insatisfação dos soteropolitanos que se posicionam contra a mudança de gestão do Elevador Lacerda. O evento “Não à privatização do Elevador Lacerda - Cadê a grana do Fundetrans?”, por exemplo, ganhou 1.135 adeptos em 24 horas. A localização do evento é descrita como “por enquanto na internet...”, o que leva a crer que os insatisfeitos não devem ficar parados. O texto descritivo aponta a cidade de Salvador como “linda e mal cuidada” e afirma que “a prefeitura não pode colocar a população para subir ladeira andando por falta de dinheiro para pagar o Elevador Lacerda”. Também na página, a mudança de gestão do equipamento é colocada como politicamente incoerente, já que foi tomada a “portas fechadas” e sem a participação da população. “A política não pode mais ser feita dessa forma, simplesmente se empurrando goela abaixo as decisões tomadas em instâncias superiores”, diz o texto do evento. Um dos usuários chega a citar uma famosa frase do ex-governador Octávio Mangabeira: “Pense num absurdo, na Bahia tem precedentes!”.

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