A 17ª edição do IC Encontro de Artes movimenta Salvador, Candeias e Madre de Deus com uma programação gratuita. De quarta-feira (20) até 31 de agosto, o festival multilinguagem - que tem como tema "Festa no Front" - reúne artistas e obras que exploram os diferentes sentidos da festa.

Pela primeira vez, o IC Encontro de Artes expande suas atividades para além da capital baiana. Em Salvador, as ações ocupam oito diferentes espaços. O festival é contemplado pelo programa Transpetro em Movimento, via Lei Rouanet, com realização do Ministério da Cultura (MinC). A edição traz artistas e trabalhos que refletem sobre os múltiplos sentidos da festa - seja como rito, celebração, desvio, crítica ou território onde o corpo ultrapassa sua função social e inventa novas formas de presença.
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Entre os destaques da programação estão as obras "ERUPÇÃO – O levante ainda não terminou", da coletivA ocupação (SP); "Repertório N.2", de Davi Pontes e Wallace Ferreira (RJ); "Candomblé da Barroquinha", do DAN Território de Criação (BA); "DEBANDADA", do Debonde (RJ); "CAVUCADA – a festa não será amanhã", da Cia Dançurbana (MS); e "Há uma festa sem começo que não termina com o fim", do Pavilhão da Magnólia (CE).


A programação inclui ainda shows de Juliana Linhares (RN) e da IGBADU - Orquestra de Berimbaus de Mulheres (BA), além do "Mini Ball" com a House of Mamba Negra (BR), cortejo com o Bloco De Hoje a Oito (BA), o "Intercâmbio artHIVismos" com Szymon Adamczak (POL/HOL), oficinas, residência artística e bate-papos. As atividades são gratuitas ou com ingressos a R$ 50 (inteira) e R$ 25 (meia). Informações e ingressos estão disponíveis em www.icencontrodeartes.com.br.

Criado em 2006, o IC Encontro de Artes é realizado pela Conexões Criativas em parceria com a Dimenti Produções Culturais. Desde então, cada edição do festival se organiza a partir de um lema, inspirado por inquietações contemporâneas que orientam a curadoria da programação.
Sobre a 17ª edição, o coletivo curador - formado por Ellen Mello, Jorge Alencar, Larissa Lacerda e Neto Machado - explica: "Pensar o IC17 como festividade em zona de conflito é assumir que a arte não está fora da crise: ela acontece com a crise, no conflito, contra a lógica que exige que se produza uma suposta paz onde há urgência. É afirmar que palco, rua, corpo e gesto podem ser armas sensíveis de criação e crítica. É permitir que a festa seja não só alívio e distração, mas também espaço de elaboração política e coletiva".
O mote curatorial, "Festa no Front", propõe refletir sobre festa e luta não como opostos, mas como forças que se atravessam. "Nem só escape, nem só enfrentamento: a festa como desvio radical da norma, a guerra como o deslimite insuportável de uma sociedade colapsada. No limiar entre colapso e resistência, o corpo se move. O corpo é capaz de dançar com a violência e com a escassez como gesto de invenção, afirmação e sobrevivência. Diante do excesso de controle e do apagamento, o corpo festivo pode carregar o desejo. Como trincheira, tambor e barricada. ‘Festa no Front’ como linha de frente de outras éticas em tempos de barbárie", completa o grupo de curadoria.
O IC17 conta com patrocínio da Transpetro, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet) e do programa Transpetro em Movimento. O festival também recebe apoio financeiro continuado do Governo da Bahia, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e Secretaria de Cultura, contemplado pelo Edital de Eventos Culturais Calendarizados.

Mostra artística em Salvador
A abertura oficial do 17º IC Encontro de Artes acontece em Salvador no dia 27 de agosto (quarta-feira), às 19h, no Teatro Experimental da Escola de Dança da UFBA, com a coletivA ocupação (SP). O grupo apresenta o espetáculo "ERUPÇÃO – O levante ainda não terminou", que mistura teatro, dança e performance em uma cena de festa e guerra.

Em cena, 15 performers se transfiguram em seres de diferentes cosmologias e tempos, traduzindo a erupção como pulsão em gestos e corpos que encarnam revoltas do passado e presente. Entre tremores da colonialidade, o espetáculo lança uma pergunta: o que significa o fim de mundos e a criação de novos?

Logo após, às 20h, a área externa do Teatro Experimental recebe a IGBADU – Orquestra de Berimbaus de Mulheres (BA), em uma festa feminista e de descolonização. O coletivo reúne capoeiristas de diferentes gerações, estilos e grupos, todas unidas pela centralidade do berimbau em suas trajetórias e pela ruptura com barreiras impostas às mulheres em gerações anteriores. A reunião dos instrumentos nesta roda é, ao mesmo tempo, memória e anúncio de um futuro em curso.


Na quinta-feira (28), às 19h, o Teatro Gregório de Mattos recebe um dos espetáculos mais celebrados da cena internacional: "Repertório N.2", de Davi Pontes e Wallace Ferreira (RJ). A obra parte da questão "Como criar uma dança de autodefesa?" e, por meio de mimese, padrões rítmicos e poses, revisita a história da dança com um olhar crítico, dialogando com vocabulários de movimento atravessados pela ética negra.

Em seguida, às 20h, o Espaço Cultural da Barroquinha apresenta o sucesso baiano "Candomblé da Barroquinha", do DAN Território de Criação (BA). Com direção de Thiago Romero - vencedor do Prêmio Bahia Aplaude 2024 - e texto de Daniel Arcades, a montagem celebra o povo negro diaspórico e presta homenagem ao Candomblé Ketu, maior e mais popular nação do país. No palco, as vivências de Marcelina, jovem abian, e da comunidade ao seu redor se entrelaçam à história das três princesas africanas escravizadas que teriam fundado, no bairro da Barroquinha, o mais antigo templo de culto africano do Brasil.

Na sexta-feira (29), às 17h, o festival ocupa as ruas com "DEBANDADA", do Debonde (RJ), em parceria com artistas baianos do Grupo UZARTE e da Escola de Dança da Funceb, no Terreiro de Jesus (Pelourinho). A intervenção urbana itinerante atravessa e é atravessada pela rua, com corpos que arrastam, sustentam e ocupam o espaço, resignificando estigmas ligados ao ambiente urbano.



Às 19h, a Casa Preta Espaço de Cultura recebe o espetáculo-festa "CAVUCADA – a festa não será amanhã", da Cia Dançurbana (MS), em celebração aos mais de 20 anos de trajetória do grupo. Dirigida por Jorge Alencar e Neto Machado (BA), a obra resgata coreografias históricas e explora danças festivas que revelam o que no corpo se prende, despenca e se expande ao dançar.

A noite segue, às 20h, com o "Mini Ball" da House of Mamba Negra (BR). Criado em 2019, o coletivo Ballroom reúne em Salvador a comunidade local para celebrar a vida de corpos dissidentes em uma competição com quatro categorias - beleza, estética, moda e performance - premiadas em dinheiro.

No sábado (30), o IC17 chega ao Goethe-Institut Salvador-Bahia. Às 18h, no Teatro, será apresentado "Há uma festa sem começo que não termina com o fim", do Pavilhão da Magnólia (CE), grupo vencedor do 35º Prêmio Shell de Teatro. A peça propõe um rito coletivo de festa e memória, no qual quatro artistas conduzem o público por páginas soltas da experiência.

Às 20h, no pátio do Goethe, a cantora, compositora e atriz potiguar Juliana Linhares (RN) sobe ao palco. Sua obra, vibrante e festejada, propõe um Nordeste luminoso e desconstruído de estereótipos, misturando beleza, alegria e inquietações de uma artista atenta aos desafios do presente.

O encerramento acontece no domingo (31), com a festa voltando às ruas. O Bloco De Hoje a Oito (BA) comanda o cortejo no Santo Antônio Além do Carmo, da Cruz do Pascoal até o Bar Oliveiras, onde será servida uma feijoada. Fundado em 2011, o bloco consolidou-se como expressão de autenticidade no carnaval de Salvador, valorizando música autoral, autonomia e acesso gratuito.

Em anos anteriores, o grupo prestou homenagens a figuras de resistência como Moa do Katendê, assassinado em 2018, a vereadora Marielle Franco, vítima de violência política no Rio de Janeiro, e Flávio Oliveira, fundador do bloco, que morreu durante a pandemia de Covid-19.
Intercâmbio artHIVismos

Há anos, o dramaturgo, escritor, pesquisador e criador em teatro e performance Szymon Adamczak (POL/HOL) desenvolve sua obra a partir da experiência de viver com HIV. Para ele, o vírus não é apenas uma condição pessoal, mas um campo relacional que conecta sua trajetória às de todas as pessoas para quem essa presença é uma realidade concreta.
Ao tratar o HIV como ponto de partida para a criação em performance, Adamczak se debruça sobre conceitos como transformação, devir e reumanização. Essas ideias o levaram a investigar como a cultura contemporânea lida com o vírus, com a recente pandemia e com as múltiplas narrativas que atravessam o passado, o presente e o futuro.
No "Intercâmbio artHIVismos", o artista busca explorar como diferentes perspectivas - vindas do Brasil e da Europa Central e Oriental - podem dialogar e gerar ressonâncias. Os encontros serão nos dias 27 e 28 de agosto, das 9h às 12h, na Casa Arte Dá Trabalho. São 10 vagas gratuitas, com inscrições pelo site www.icencontrodeartes.com.br.
Bate-papos

O IC17 também realiza uma série de três bate-papos abertos ao público, entre os dias 28 e 30 de agosto, sempre às 15h, na Casa Arte Dá Trabalho. As conversas não exigem inscrição prévia e propõem reflexões a partir das obras e temas que atravessam o festival.
A abertura da série será no dia 28, com o encontro "Corporificando Dramaturgias Promíscuas", conduzido por Szymon Adamczak (POL/HOL). O artista discutirá como dramaturgia e feedback podem se tornar práticas éticas de apoio e fortalecimento em processos de transformação - tanto nas artes quanto na vida. Seu interesse parte de uma perspectiva que ele chama de orientação promíscua do cuidado, explorando formas de responder às diferentes necessidades dos corpos e de experimentar possibilidades de cuidado coletivo.

Nos dois encontros seguintes, artistas da programação, pesquisadoras, a equipe curatorial e o público se reúnem em espaços de conversa pública, investigando como cada obra articula ideias como festa e front, política e corpo, colisão e folia, em suas singularidades poéticas. A artista Monica Santana (BA) participa dos dois encontros com um gesto performativo em tempo real, criando um pensamento visual por meio da técnica da facilitação gráfica.

No dia 29, em "Qual a festa do seu front?", o debate convida a pensar quais celebrações habitam os fronts que compõem nossas cenas. Como a alegria alimenta o enfrentamento? Quem tem direito à festa? Onde estão a vitalidade, o risco e a resistência que dança? Participam a coletivA ocupação (SP), Davi Pontes e Wallace Ferreira (RJ), Juliana Linhares (RN) e o Pavilhão da Magnólia (CE), além da pesquisadora convidada Rita Aquino (BA).

Já no dia 30, a roda de conversa "Qual o front da sua festa?" destaca artistas cujas obras têm a festa como solo criativo e político. Ali, a celebração aparece também como denúncia, ritual, grito e continuidade. O encontro provoca questões como: de que forma a festa, enquanto força dramatúrgica e estética, pode movimentar os fronts de luta da cena contemporânea? Como equilibrar celebração e insurgência sem cair na distração? Até que ponto festejar junto pode ser um gesto político? Participam a Cia Dançurbana (MS), o DAN Território de Criação (BA) e o Debonde (RJ), ao lado da pesquisadora convidada Lu Paixão (BA).

Residência Olha o Bonde Passando

Conduzida pelos artistas-educadores Mandi Gouveia, Dandara Patroclo, Luana Bezerra, Tais Almeida, Salasar Junior e Wagner Cria, do coletivo Debonde (RJ), a ação tem como objetivo compartilhar as metodologias de criação da performance "DEBANDADA". Entre elas estão jogos de observação, interação com o público e o espaço físico, além das linguagens Passinho Foda, Capoeira, Afro House e Jongo presentes na obra.
No IC Encontro de Artes, a residência artística acontece entre os dias 25 e 29 de agosto, das 15h às 18h, no Terreiro de Jesus, com participação de integrantes do Grupo UZARTE e da Escola de Dança da Funceb. A atividade busca construir uma experiência coletiva de arte com a rua, que será apresentada durante o próprio festival.
Programação em Candeias e Madre de Deus
O 17º IC Encontro de Artes retorna a Candeias e Madre de Deus com programação artística liderada pelo Debonde (RJ). Nos dias 20 e 21 de agosto, será realizada a Oficina Volta pra Base, voltada para estudantes da Escola Municipal Papa Paulo VI (Candeias) e do Complexo de Educação Municipal Professor Magalhães Netto (Madre de Deus).
No dia 22 de agosto, o coletivo apresenta a intervenção urbana "DEBANDADA": pela manhã, às 10h30, na Escola Municipal Papa Paulo VI (Candeias), e à tarde, às 17h, na orla de Madre de Deus.
Programa Transpetro em Movimento
O Programa Transpetro em Movimento beneficia quase 300 mil pessoas em 55 municípios de todas as regiões do Brasil. Desenvolvido em parceria com o Ministério da Cultura e o Ministério do Esporte, por meio da Lei Rouanet e da Lei Federal de Incentivo ao Esporte, o programa valoriza e promove a circulação de traços culturais brasileiros, além de contribuir para a formação profissional.
Com capilaridade nacional, o edital público de patrocínio incentivado da Transpetro fortalece a diversidade e estimula a inclusão de públicos minorizados ou em situação de vulnerabilidade. Mais de 80% dos projetos contemplados são realizados em comunidades tradicionais ou periferias, com público prioritário composto, em sua maioria, por crianças e adolescentes.
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