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Dizem que a primeira vez é inesquecível. E quem bem sabe disso é a secretária baiana Fátima* que, aos 33 anos de idade, convive com a consequência de um ato impensado. Fátima contraiu o vírus da imunodeficiência humana (HIV) aos 17 anos, durante sua primeira relação sexual. A fatalidade aconteceu durante a década de 90, quando o vírus já tinha atingido quase 20 mil pessoas no país e a assistência para o tratamento antirretroviral, conhecido como coquetel antiaids, era precária. Hoje, a cobertura medicamentosa está disponível gratuitamente para todos os infectados e grupos de apoio dão atendimento psicológico a quem já sabe que tem o vírus. O drama de Fátima não termina por aí. Ela só descobriu que estava infectada pelo HIV quatro anos depois, durante um exame pré-natal da gravidez. “Na época só o Gapa- BA (Grupo de Apoio à Prevenção à Aids) dava assistência psicológica aqui. Então procurei para ter o atendimento e fazer um trabalho voluntário”. Depois do exame, Fátima informou sua condição sorológica ao namorado, para que ele também fizesse o exame. “Não transmiti o vírus para meu parceiro. Até hoje nos exames nada é detectado”. Durante a gravidez, a secretária fez o tratamento com o coquetel para que o filho não contraísse o vírus. “Enquanto eu estava com ele no meu ventre, eu fazia de tudo para que ele nascesse bem. Depois do nascimento, o exame negativou era como se fosse a minha cura. Eu fiquei mais tranquila”, desabafa. Após o parto, Fátima voltou ao quadro depressivo. “Perdi meu emprego e tive muito problemas psicológicos. Na época, eu tentei me matar. Os médicos não têm tempo para conversar com o infectado, mas isso não é culpa deles. Eles explicam direitinho como tomar os remédios, os horários e aquilo me deixou muito confusa e presa”, lembra. Ela tinha auto-preconceito, mas hoje diz que convive normalmente com a condição sorológica. Fátima conta que não tinha nem estrutura para procurar outro emprego, quando foi demitida, mas hoje não vê obstáculos que a empresa de buscar trabalho. “O problema não é mais comigo. É com as empresas. O portador do HIV faz muito atendimento médico. Acabamos desenvolvendo problemas por conta dos efeitos colaterais dos remédios. Tem dias que não conseguimos nos alimentar direito e precisamos de repouso. Será que as empresas estariam disponíveis para ceder esse tempo? O fato de se ausentar para fazer os exames de rotina e complementares do tratamento já levanta suspeitas entre os colegas de trabalho”, afirma. Segundo ela, a convivência com o pai do filho durou mais quatro anos e o relacionamento terminou não por conta da doença e sim desgaste na relação. Fátima faz uso das novas drogas que não oferecem efeitos colaterais tão fortes como as tradicionais, melhorando sua qualidade de vida para cuidar do filho de onze anos. “Ele sabe que eu tenho algum problema de saúde, mas não consegue entender ainda o que é”. Além da ajuda do Gapa-BA, a secretária precisou de muito apoio familiar para enfrentar a situação e se aceitar. “ Normalmente o principal problema das pessoas que descobrem que têm o HIV é a aceitação. Antes de qualquer coisa é preciso se aceitar, caso contrário não vai conseguir levar a vida. Depois o resto é resto e você vai se adequando. Minha família é tudo para mim. Eles sabem e me aceitam do jeito que eu sou”.
A coordenadora do programa DST/HIV, Socorro Farias, esclarece algumas dúvidas e diz o que é verdade e o que é mentira sobre a Aids. Confira abaixo:
A campanha dura o ano todo ou apenas no Carnaval? A campanha é nacional e dura o ano inteiro. Nós aproveitamos alguns eventos para chamar a atenção. Queremos dizer às pessoas que é preciso fazer a testagem para que saibam precocemente o seu diagnóstico. Se a pessoa tem o vírus HIV, ela vai entrar no grupo de pessoas que estão convivendo com o vírus. Ela será atendida nos nossos centros de referência para acompanhamento do caso. Mesmo que ela ainda não tenha a Aids, é preciso monitorar para quando ela precisar de medicamentos, o sistema de saúde já esteja informado e possa atender imediatamente. Isso melhora a qualidade de vida das pessoas, pois quanto mais precoce o diagnóstico mais rápido é o acesso ao tratamento e ao acompanhamento especializado. Sem contar que a pessoa demora de ter os sintomas da Aids..
Qual a diferença entre HIV e Aids? O HIV é o vírus que mexe com a imunidade da pessoa e que consegue bloquear as defesas, abrindo espaço para as infecções oportunistas virarem um caso de Aids. Aids é quando a portadora do vírus começa a apresentar sintomas das infecções oportunistas. A pessoa pode ter o vírus e ainda não ter desenvolvido a doença. Mas toda pessoa que tem o vírus, pode transmitir para qualquer pessoa..
Aids pega pelo beijo? Não. Para pegar Aids seria necessário ter uma carga muito grande de vírus na saliva. Não encontramos uma quantidade que seja capaz de infectar outra pessoa. A Aids pode ser transmitida pelo sangue, pelas secreções genitais e pelo leite materno. O sexo deve ser feito com preservativo e todo usuário de drogas injetáveis deve utilizar material próprio e não compartilhar seringas. Toda gestante deve, durante o pré-natal, fazer o exame Anti-HIV, pois se ela tiver o vírus será necessário que ela faça a profilaxia para que o bebê não seja infectado..
Duas pessoas que convivem com o vírus HIV podem manter relação sexual sem preservativo? Não. Elas correm o risco de se reinfectarem com o vírus diferente. Esse vírus pode ficar resistente aos medicamentos e agravar a situação do doente. É muito importante o uso do preservativo pela pessoa que tem o HIV, esteja ela mantendo relação com pessoas infectadas ou não..
O teste só detecta o vírus anos depois da infecção? Não. O teste é feito com os anticorpos do HIV. O organismo leva um tempo para produzir esses anticorpos, mas não demora anos. O teste só vai diagnosticar o vírus entorno de 45 a 60 dias para o teste dar positivo. Se você fez sexo com alguém que tem HIV, só vai saber se foi infectado ou não a partir do tempo de segurança. As pessoas que fizeram o teste no Carnaval já haviam contraído o HIV meses ou anos antes da campanha deste ano.
Ser soropositivo é ser portador do vírus HIV? Sim, mas é soropositivo para o HIV. Pois pode ser soropositivo para outras doenças.
Fique Sabendo Neste ano, durante o Carnaval, seis casos de HIV foram detectados durante a campanha Fique Sabendo, um projeto promovido pelo Governo Federal e realizado pelas secretarias municipal (SMS) e estadual da Saúde (Sesab) pela terceira vez. Salvador foi a primeira capital a fazer essa campanha no período da festa. Duas unidades - uma instalada no IBR (Instituto Baiano de Reabilitação), em Ondina, e outra no Colégio Apoio, no Corredor da Vitória -, foram montadas para receber os indivíduos que tinham o interesse em saber sua condição sorológica. A campanha realizou 904 exames com seis registros positivos. Cinco casos foram em soteropolitanos, sendo três em homens e dois em mulheres. A sexta pessoa que teve o diagnóstico positivo é um jovem turista do Sul do país. Segundo Socorro Farias, coordenadora do programa municipal DST/HIV, uma dessas pessoas já tinha o diagnóstico positivo e já faz tratamento em um centro de referência aqui em Salvador. Sendo assim, o balanço da Campanha Fique Sabendo diagnosticou cinco novos casos de HIV. O programa municipal de DST/HIV não possui a quantidade de infectados pelo vírus HIV, mas o número de pessoas que desenvolveram a Aids. O número de notificações, no ano de 2010 até dezembro, foi de 416 casos na capital baiana. “O nosso sistema é lento e ainda há casos de 2010, que podem ser notificados apenas agora, em 2011”, completa Socorro. A coordenadora diz, ainda, que não existe mais o grupo de risco e a Aids pode estar em qualquer lugar. Pensando na população infectada de Salvador, a doença está distribuída, principalmente, em pessoas de 20 a 49 anos. “Cerca de 80% do número de infectados estão nesta faixa etária, que é produtiva e reprodutiva. Temos uma epidemia de transmissão e por isso enfatizamos sempre no uso do preservativo, pois a doença está se feminilizando”. De acordo com Socorro, o número de mulheres ainda é pequeno, mas se compararmos com o ano de 1988, aumentou muito. No início da epidemia eram nove homens para cada mulher infectada. Hoje são dois casos de homens para uma mulher. As secretarias de saúde e os programas voltados à prevenção da Aids estão preocupados com os adolescentes. “Como não notificamos o HIV mas a doença desenvolvida, isso é um agravante, pois o indivíduo pode conviver com o vírus há anos e não ter nenhuma doença oportunista. Quando vemos que os casos estão na faixa etária de 20 a 49 anos e que a infecção pode ter sido há dez anos, temos um número de pessoas infectadas muito jovens”, lamenta Socorro. No país, o número de meninas infectadas já supera a quantidade de meninos. Em Salvador, não há especificamente esse quadro e os números mostram que há uma proporção igual nas notificações de Aids.
Onde tratar - O Brasil tem uma política de tratamento da Aids reconhecida como a melhor do mundo. Toda a medicação antirretroviral é distribuída gratuitamente na rede pública. Em Salvador, há cinco unidades que, além de oferecer o tratamento médico, ainda dispõem equipes multidisciplinares com médicos, enfermeiros, assistentes sociais e psicólogos para trabalhar a pessoa que convive com o HIV em todos os aspectos. Veja os pontos de atendimento:
Unidade Federal:Hospital Universitário Prof. Edgard Santos (Hospital das Clínicas) Endereço: Rua Augusto Viana, S/N, Canela – Salvador (71) 3245-6653
Unidades Estaduais:Hospital Couto Maia Rua Rio São Francisco, s/n, Monte Serrat, Salvador (71) 3316-3084
Hospital Geral Roberto SantosRua Direta do Saboeiro, s/n, Cabula, Salvador, Bahia (71) 3387-3429 / 4509 / 3372-2820 / 2955 / 2950
CEDAP - Centro Estadual Especializado Diagnóstico Assistência e Pesquisa Rua Comendador José Alves Ferreira, 240 – Garcia, Salvador – Bahia (71) 3116-8888 / 3116-8889
Unidade Municipal:Serviço Municipal de Assistência Especializada Rua Lima e Silva – Liberdade, Salvador- Bahia (71) 3611-4180
Conheça o Gapa O Grupo de Apoio à Prevenção à Aids (Gapa-BA) foi fundando, em Salvador, no final da década de 80, por vinte estudantes universitários. O Gapa é uma entidade da sociedade civil, sem fins lucrativos que contribui para a diminuição dos níveis de contaminação do HIV/AIDS, oferece suporte psico-social aos portadores, luta contra a discriminação e cobra atenção estatal aos soropositivos. “Foi um desafio muito grande, trabalhar na década de 80. Éramos um grupo de jovens, dominados pelo medo e pelo pânico, para levar prevenção principalmente para às comunidades mais carentes. E também para exigir que o governo tomasse alguma atitude para aquela epidemia”, conta o Harley Henriques do Nascimento, fundador do grupo. Segundo Harley, quem procura o Gapa passa por algumas fases antes de descobrir se possui o vírus. Inicialmente é feito um trabalho preparatório com um acompanhamento pré-teste. “Não é um exame como outro qualquer. É um resultado que pode trazer complicações sérias para a vida da pessoa”, explica. Nesta fase, profissionais do grupo explicam o que é a doença, tira todas as dúvidas e esclarece o que vai mudar na vida da pessoa após o exame, mesmo sendo o resultado negativo. Após disso, o indivíduo é encaminhado ao pós-teste, onde o trabalho é específico para quem tem o diagnóstico positivo. “Explicamos o que significa ter o vírus e sobre as mudanças de hábitos. Disponibilizamos atendimento psicológico gratuito. Com as pessoas que ficam doentes, com a Aids, e que não têm condição de vir até o Gapa, fazemos o trabalho domiciliar e hospitalar também”. Além do pré e pós atendimento, o grupo oferece também atendimento jurídico, caso o portador tenha sofrido uma grande discriminação apenas pela condição sorológica. Se você está em dúvida ou deseja fazer o exame, basta ir até a sede do Gapa, telefonar ou entrar em contato por e-mail. No interior da Bahia, há 15 núcleos.
Locais para fazer o exame no Estado da Bahia: BAHIA CEDAP (antigo CREAIDS) Endereço: Rua Comendador José Alves Ferreira, 240 Bairro: Garcia (Anexo ao DST / COAS) - Cidade: Salvador - BA CEP: 40100-160 FONE: 071-3116-8888 - 3116-8889 FAX: 071-3116-6008 Programa Municipal de DST e Aids de Salvador Endereço: Av. Sete de Setembro, 2019 Bairro: Corredor da Vitória - Cidade: Salvador - BA CEP: 40080-002 FONE: 071-338-1067 - 338-1034 FAX: 337-0879 Programa Municipal de DST e Aids de Feira de Santana Endereço: Avenida João Durval Carneiro, s/n Bairro: Ponto Central - Cidade: Feira de Santanta - BA CEP: 44037-010 FONE: 075-625 7020 FAX: 622 6636 625 6299 Programa Municipal de DST e Aids de Ilhéus Endereço: Avenida Canavieiras, 253 Bairro: Avenida Canavieiras - Cidade: Ilhéus - BA CEP: 45650-000 FONE: 073-634 2085 FAX: 231 1271 Programa Municipal de DST e Aids de Itabuna Endereço: Rua Izolina Guimarães, 39 Bairro: Zildolândia - Cidade: Itabuna - BA CEP: 45600-000 FONE: 073-211 5376 FAX: 211 5376 Programa Municipal de DST e Aids de Juazeiro Endereço: Rua Quintino Bocaiuva, S/N Bairro: Centro - Cidade: Juazeiro - BA CEP: 48900-000 FONE: 074-612 8810 FAX: 611 2766 612 8810 Programa Municipal de DST e Aids de Porto Seguro Endereço: Praça São Sebastião, s/n Bairro: Campinho - Cidade: Porot Seguro - BA CEP: 45810-000 FONE: 073-288 3449 FAX: 288 3449 Programa Municipal de DST e Aids de Vitória da Conquista Endereço: Praça João Gonçalves, s/n Bairro: Praça João Gonçalves, - Cidade: Vitória da Conquista - BA CEP: 45100-000 FONE: 077-422-8132 FAX: 422-8154