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Não é preciso empreender uma criteriosa pesquisa de campo para captar pelas conversas travadas nos mais diversos ambientes, que aquilo que todos almejam, obsessivamente, fica mais do que evidenciado: um cargo público. Alguns profissionais, que em determinadas situações estão bem estabelecidos na iniciativa privada resignam-se até mesmo a perceber uma diminuição de salário em troca de um cargo público obtido em concurso. Concursos públicos são o caminho mais curto para o Nirvana, a garantia de qualidade de vida, o seguro definitivo. Será mesmo? Sem dúvida, nos últimos anos, notadamente a partir do início dos anos 2000 houve uma gradativa revalorização do funcionalismo público, mediante incrementos sucessivos nas remunerações e melhores condições de amparo e previdência, representando um avanço substancial sobre a massa salarial do país. A nova elite, enfim, é em parte o funcionalismo público, e o concurso público é a via de acesso para esta elite. Salta aos olhos, contudo, que a atração crescente da carreira pública sobrepujando as carreiras ligadas ao setor privado denotam um óbvia distorção, que advém do simples fato derivado de que, embora o setor público movimente grande parte do PIB e represente uma substancial massa de recursos, ao contrário do que poderá parecer aos incautos, não gera qualquer tipo de riqueza. Toda a sustentação do setor público somente é possível se o setor privado for muito maior do que ele, e consequentemente remunerar melhor. Se o setor público passar a sequestrar a maior parte da riqueza gerada pelo setor privado, cooptando inclusive os profissionais empreendedores mais brilhantes, estaremos inexoravelmente cavando um déficit que não pode ser coberto, e que se for expandido demasiadamente, levará à desestruturação da economia, dado que em algum momento o setor privado perderá a capacidade de suportar o setor público. O passo seguinte passa a ser a criação de dívidas para sustentar o setor público, dívida esta que terá que ser paga por aquele setor privado que não mais terá capacidade de suportá-lo. Em suma, um depende do outro, e sem o devido equilíbrio, sobrevirá o colapso. O colapso normalmente não ocorre subitamente. Inicialmente o desequilíbrio é revelado pela inflação. Como a riqueza gerada pelo setor privado se tornará cada vez mais escassa, será preciso emitir dinheiro de alguma forma, e é quando se inicia a corrida da inflação. Na tentativa de manter os ganhos do setor público, um dos lados sucumbirá. Se o lado do sertor privado sucumbir primeiro, o setor púbico sucumbirá em seguida. Por incrível que pareça, no fim do corredor, é o setor público quem termina por sucumbir.
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Isto já aconteceu antes em nossa história, e poderá ocorrer novamente. O momento atual que atravessamos no Brasil nos apresenta um encruzilhada. É um cenário que comporta um aviso. Sabemos que nunca, em nenhum lugar, ou economia, o setor público gerou riqueza. Portanto, a tal “garantia” representada pelo setor público em algum momento pode evaporar. O Brasil é um país continental, e com muito a construir, em muitos sentidos, é mais assemelhado às condições de desenvolvimento registradas em um país como o Estados Unidos antes da Segunda Grande Guerra, do que os velhos e consolidados países europeus, amplamente apoiados em sistemas de benefícios sociais . Em países não consolidados e com grandes demandas, o setor privado, e sobretudo o empreendedor é o verdadeiro e único vetor de desenvolvimento. No Brasil, onde o setor público já ocupou, ou melhor, consome, a maior parte dos recursos do país, e sempre lembrando, consome, mas não produz, o desequilíbrio está criado. Mesmo na grande estatal, a Petrobras, é patente os limites com os quais o Estado pode se deparar. Por outro lado, estão eventos como o Campus Party, que entre outros objetivos busca impulsionar jovens empreendedores a criarem seus negócios, estimulados por iniciativas como a Startups 360. Uma multidão de jovens reunidos em São Paulo fazia questão de bradar o seu sonho de ser dono de seu próprio negócio. Se por um lado ainda é forte o apelo do cargo público, por outro cresce o número de jovens que busca o sonho do empreendedorismo. Afinal, a garantia do serviço público talvez não seja tão garantida assim, não é mesmo?
| Sérgio Sampaio E-mail: [email protected] Consultor de TI da ValoRH. Engenheiro, empresário da área de Tecnologia da Informação, proprietário da IP10 Tecnologia. |
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