Se o consumidor achava que o “gato” de energia do vizinho era prejuízo somente para a Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba), é melhor refazer as contas. Numa fatura de R$ 100 paga mensalmente, R$ 2 deste valor são para cobrir as perdas da companhia com ligações clandestinas, os famosos “gatos”. Pode parecer um “trocado”, mas o mesmo percentual repassado na conta de 5,5 milhões de usuários do serviço na Bahia alcançou, em um ano, o montante de R$ 147 milhões, que é o tamanho da perda calculada pela Coelba com ligações clandestinas em sua rede.
Outro prejuízo causado ao conjunto de consumidores pelos “gatos” é o desligamento temporário da rede. Segundo a concessionária, 2.554 interrupções de fornecimento registradas nos dois últimos anos tiveram como causa ligações irregulares. “Elas sobrecarregam o sistema de fornecimento porque não estão previstas, o que acaba ocasionando as quedas e a interferência na qualidade do serviço”, justificou o superintendente de Perdas da Coelba, Márcio Caires, em entrevista coletiva ontem. A quantidade de energia consumida de forma irregular entre 2013 3 2014 representou uma perda de receita estimada em R$ 588 milhões. Em termos de energia, são em torno de 1.717 GWh (Gigagawatt-hora) furtados, volume suficiente para abastecer toda a cidade de Salvador durante cinco meses. Neste período, foram identificadas 73 mil ligações clandestinas pela Coelba, como afirmou Caires. “Parte da perda é reconhecida na tarifa. Se conseguirmos diminuir esse índice, a redução tarifária será repassada pelo consumidor”, garantiu. Conta compartilhada A conta de luz é dividida no prédio de uma moradora do bairro de Periperi, que não quis se identificar à reportagem do CORREIO. Segundo ela, o “gato” entre a casa do térreo e o apartamento de cima é feito por meio de uma extensão colocada na tomada. “A moradora do térreo recebe da vizinha de cima o valor correspondente ao consumo excedido do seu gasto médio”, contou. Ela não denuncia o “acordo” porque sabe que a vizinha que mora em cima não conseguiu ainda concluir a instalação elétrica da casa. “Ela está meio apertada e fez esse acordo para conseguir se mudar logo”, justificou. Para Márcio Caires, da Coelba, os “gatos” de energia acontecem em todas as localidades, independente de bairro, classe econômica ou segmento. “Ao contrário do que se pensa, (os ‘gatos’) não se restringem a bairros populares. Encontramos muita coisa em outros locais da cidade também, inclusive até no comércio, por isso o combate é de forma geral”. A Coelba investiu no ano passado R$ 80 milhões no plano de combate a perdas. Em 2015, o valor aumentou para R$ 124 milhões. Entre as ações da concessionária estão as operações de inspeção, substituição de medidores, instalação da rede elétrica com cabos antifurto e regularização das ligações clandestinas encontradas nas fiscalizações. Campanha Ontem, a Coelba lançou mais uma campanhas, com foco na publicidade. Desta vez, o combate ao furto de energia terá como porta-voz o cantor de arrocha Pablo. Idealizada pela Propeg, a ação começou com um “teaser” em outdoors criando a expectativa do que seria o novo sucesso do artista, o single Miau Miau, que se tornou o mote Fazer Gato É Sofrência. “O artista foi escolhido por ter um acesso em todas as classes consumidoras”, afirmou Caires. A ação chegou até as redes sociais, com publicações no Facebook do cantor e a criação de um hotsite onde as pessoas podem baixar o jingle, “dublar” a música e compartilhar com amigos. O “gato” de energia é crime estabelecido no Artigo 155 do Código Penal, com pena de até quatro anos de prisão. Denúncias de fraudes podem ser feitas nas agências da Coelba ou no site www.coelba.com.br. Aparelho desenvolvido pela Ufba caça ligações ilegais Ainda com o intuito de coibir o “gato” de energia, a Coelba está investindo cerca R$ 1 milhão, em parceria com o Senai Cimatec e o Instituto de Física da Universidade Federal da Bahia (Ufba), para desenvolver um dispositivo de detecção de ligações irregulares na rede da companhia. O protótipo deve ficar pronto ainda em 2015, após dois anos de pesquisa. “O aparelho é capaz de realizar inspeções tanto na parede como no piso da casa do consumidor”, explica o engenheiro eletrônico e coordenador técnico do projeto pelo Senai Cimatec, Cleber Ribeiro. Ele funciona como uma espécie de “detector” capaz identificar campos magnéticos emitidos pelas correntes elétricas no interior dos condutores. O equipamento sinaliza também modificações na estrutura do eletroduto por meios de ondas acústicas. Os protótipos já estão sendo testados. Cada aparelho vai custar R$ 8 mil à Coelba.
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