Se fosse um país, Salvador ocuparia o terceiro lugar mundial em homicídios. Com uma taxa de 60,1 mortes por cada 100 mil habitantes, segundo relatório de 2008 do Instituto Sangari, vinculado ao Ministério da Justiça - a capital baiana fica atrás apenas da África do Sul e de El Salvador, país da América Central. Os dados de homicídios dos países são do Escritório de Drogas e Crime (UNODC, pela sigla em inglês) das Nações Unidas (ONU). Nesse ranking, o Brasil ocupa a 14ª posição - 29,2 homicídios/100 mil habitantes. A lista é feita com estatísticas de autoridades de saúde de cada país. No caso do Brasil, do Ministério da Saúde. Especialistas explicam que os dados da Saúde normalmente são mais altos e refletem melhor a realidade do que os da Segurança Pública, uma vez que usam como referência as certidões de óbitos e não as ocorrências policiais. “Esse sistema é muito mais demorado porque é nacional, mas em todos os municípios do país os dados têm a mesma categorização. Não é como nas secretarias de segurança, que cada uma tem um método e uma classificação. Alguns estados por exemplo, colocam latrocínio (roubo seguido de morte) separado de homicídio, outros não”, explica o sociólogo Julio Jacobo, responsável pelo relatório publicado pelo Instituto Sangari - que, em seus estudos, usa dados da Saúde.
Bahia O Fórum Brasileiro de Segurança Pública coloca a Bahia no grupo de estados com dados “não tão confiáveis” de Segurança Pública. Para fazer essa classificação, o Fórum compara dados divulgados pelas secretarias de segurança pública de cada estado com dados das respectivas secretarias de saúde. Quanto mais os dados se aproximarem, mais confiáveis são consideradas as informações divulgadas pelas Secretarias de Segurança. Junto com a Bahia, entre os “não tão confiáveis”, estão Acre, Alagoas, Amazonas, Amapá, Ceará, Maranhão, Pará, Paraíba, Piauí, Rio Grande do Norte, Rondônia, Roraima, Sergipe e Tocantins. Todos os demais estão no grupo dos confiáveis.
O Fórum, porém, afirma que a classificação será revisada este ano. “Vejo que a Bahia está avançando”, comentou o secretário-executivo do Fórum, o sociólogo Renato Sérgio de Lima, sobre a iniciativa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de disponibilizar os dados das ocorrências em seu site. “Agora é preciso ver o que vai se fazer com esse dado”, disse. Na quarta-feira, a SSP anunciou uma queda de 13% no número de homicídios na capital baiana no primeiro semestre de 2011 com relação ao mesmo período de 2010.
Bahia: negros morrem três vezes mais que brancos Um estudo realizado pelo Instituto Sangari, vinculado ao Ministério da Justiça, mostra que na Bahia os negros correm um risco três vezes maior que os brancos de ser assassinados. O Mapa da Violência 2011 - Os Jovens do Brasil, disponível no site do Sangari (www.institutosangari.org.br), foi elaborado com dados do Ministério da Saúde. A pesquisa mostra que, em 2008, a taxa de homicídios de brancos na Bahia era de 10,8 por cada 100 mil habitantes. Entre os negros, essa taxa sobe para 35,7, o que produz um índice de vitimização de 229,6 para os negros. De acordo com Julio Jacobo Waiselfisz, diretor de pesquisa do Instituto Sangari, esta diferença não pode ser justificada pelo fato de o estado ter população majoritariamente negra, pois os cálculos são feitos por grupos distintos. Através das certidões de óbitos, que indicam a cor de cada pessoa, é possível saber quantos brancos e quantos negros morreram - mulatos e pardos são somados ao segundo grupo. Então, o número de homicídios é dividido pela população daquela mesma cor no estado, cujo indicativo é repassado pelo IBGE.
“É preocupante que a diferença seja tão grande. Mostra uma clara divisão na sociedade”, avalia Jacobo. Outro ponto que a pesquisa mostra é que os jovens perdem mais a vida diante da violência, como explica Carlos Alberto Costa Gomes, coordenador do Observatório da Segurança Pública da Bahia. “A pirâmide etária da nossa sociedade está mudando. O topo, onde estão os mais velhos, está aumentando, porque os jovens estão morrendo”, diz. Para Costa Gomes, que é professor do doutorado em Desenvolvimento Regional da Unifacs, a análise benfeita dos números é essencial para nortear as políticas públicas. “Já se sabe quem são as principais vítimas, onde e quando ocorrem mais casos. O que precisamos é de uma boa estratégia para reverter a situação”. Em Salvador, a área com mais crimes letais é a do Subúrbio Ferroviário. Segundo a Secretaria da Segurança Pública, a região teve 135 mortes violentas no primeiro semestre deste ano. Na série 1000 Vidas, o CORREIO mostrou que entre as mil vítimas de homicídio registradas no boletim da SSP entre 17 de janeiro e 10 de julho, 32 morreram em Paripe e 22 em Periperi. Os dois bairros ficam no Subúrbio.
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