O Bônus demográfico é um termo que denota uma das causas citadas, de forma recorrente, para explicar o atual momento da economia brasileira e o seu crescimento verificado nos últimos anos. Não se duvida que o Brasil de hoje possui uma economia bem mais encorpada e apresenta um nível de atividade bem superior a aquele registrado em décadas anteriores, sobretudo ao daquelas duas décadas, compreendidas entre o declínio e fim do regime militar e o início do Plano Real. Apesar de alguns sustos, períodos de avanços e retrocessos, o resultado final, desde então, tem sido o de uma economia muito maior, que pode ser vista e sentida, com nossos próprios olhos, na construção civil, no número de carros nas ruas, nos engarrafamentos, na circulação de pessoas em shoppings, quantidade de vôos, opções nos supermercados, etc. Para o bem ou para o mal, estas são as marcas visíveis do crescimento. Querelas políticas e discussões de fundo econômico à parte, uma explicação corrente para este crescimento é o tal Bônus Demográfico. Em última instância, explica-se o bônus demográfico como aquele período ímpar na história de qualquer país em que emerge todo um segmento populacional, instruído e jovem, que vem se somar a uma força de trabalho madura, suplantando em quantidade o número de inativos e aposentados, e quando ainda se fez notar os efeitos inicialmente benéficos da queda da natalidade. Em outras palavras, é aquele momento em que um país experimenta um momento, que pode durar uma geração, cerca de 30 anos mais ou menos, em que se pode contar com uma massa de trabalhadores jovens, que se somam aos experientes e maduros e até mesmo longevos ativos, concomitantemente com uma proporção de crianças e pessoas em idade muito avançada relativamente pequena.
Em um cenário destes, teoricamente, podemos contar com muitos trabalhadores jovens e teoricamente capazes, para sustentar uma população de inativos, infanto-juvenis e inabilitados muito pequena. De fato, é este cenário que vivenciamos agora no Brasil. Muito bem, e o que isto tem a ver com você? É fato que se você tem entre 20 e 30 anos, você está dentro da faixa mais “gordinha” da pirâmide etária, aquela que o professor de geografia uma vez lhe apresentou na escola, e cuja imagem está mais para barrica do que para pirâmide atualmente. Veja link.
Em um cenário idílico destes, o país deveria apresentar garantidamente um crescimento sustentável e acelerado por duas ou três décadas, rumo à riqueza. Será? Se olharmos os números brasileiros com atenção, vamos notar que o propalado crescimento brasileiro, desde a crise de 2008-2009, tem sido, na média, muito baixo. Tirando o ano de 2010, em que o Governo derramou benefícios e exonerações, experimentamos um crescimento muito baixo, e que se agrava quando consideramos que desfrutamos plenamente deste bônus demográfico, algo que não se observa mais na Europa e Japão, agora confrontados com o envelhecimento de suas populações. Como pode ser isto?
Talvez devamos começar a tentar compreender estas coisas partindo para uma análise qualitativa, ao invés de meramente quantitativa, começando pela qualidade dos empregos criados no Brasil, da sua natureza e capacitação. O fato é que o Brasil tem demandado uma quantidade muito grande de empregos de baixa e média qualificação, o que ajuda a manter o desemprego em baixa. Porém, é fato que, para aumentar o valor gerado por esses trabalhadores é preciso fazer um uso mais intenso da tecnologia e aumentar a produtividade. E o uso mais intenso da tecnologia e produtividade está associado necessariamente a um nível de capacitação maior. Leia as colunas anteriores: Choque de gerações no ambiente de trabalho: como sobreviver e se aproveitar desta realidade Estabilidade para gestantes durante o aviso prévio: avanço ou retrocesso?
O que isto quer dizer? Uma maior produção, ou crescimento da economia, demandará, a partir de agora, aumentos de produtividade baseados na ampliação da capacidade de trabalho e produção. E isto não se traduz simplesmente em mais horas de trabalho, derramamento de suor ou em empregar mais e mais trabalhadores, mas simplesmente ter trabalhadores capazes de dominar tecnologias, ou seja, que requeiram mais estudo e conhecimento e que sejam, por isto, mais produtivos.
Uma boa distorção comparativa pode ser obtida quando comparamos o fenômeno do desemprego europeu com o apregoado pleno emprego brasileiro. O fato é que não há mais lá ocupações que oferecemos aqui, tais como serviços domésticos diversos, frentistas, trocadores de ônibus, porteiros e funcionários prediais, bilheteiros das mais diversas ordens, seguranças em profusão, e um sem número de profissões que requerem baixa qualificação. Em uma sociedade automatizada a oferta deste tipo de emprego é muito mais reduzida e não se pode mais contar com eles para reduzir o desemprego. E, por fim, a questão européia tem muito mais a ver com a forte regulação do mercado de trabalho, que garante o emprego de quem está dentro e fecha a porteira para quem está fora, ou seja, os jovens. Isto tudo dito, não podemos mesmo fazer uma comparação tão simples entre duas realidades tão distintas.
"O mercado brasileiro irá demandar um outro tipo de profissional que vai requerer cada vez mais capacitação" |
O mercado brasileiro, daqui para a frente, irá demandar um outro tipo de profissional e que vai requerer cada vez mais capacitação. O modelo atual, baseado em quantidade, não vai mais propiciar a geração de tantas novas vagas. Infelizmente nosso sistema educacional, um dos piores do mundo, foi exatamente aquele que formou toda uma geração que aí está, localizada na cintura da barrica (ex-pirâmide) etária. Como corrigir isto? Se é verdade que não podemos retornar todos aos bancos escolares, também é verdade que é possível sim estabelecer um programa de educação continuada. As empresas terão que investir nisto e os profissionais já formados de hoje também. Todos terão que investir em qualificação e requalificação continuamente.
Mas é preciso que estes programas de formação continuada tenham um verdadeiro compromisso e qualidade. Um quadro exibido neste último domingo 26, ilustrou bem o tipo de capacitação gratuita e bem intencionada, mas ineficaz, que muitas vezes se oferece, e que apresentava uma baiana de acarajé que teve acesso a um curso de inglês de um mês de duração. Ficou patente que ela não encontrou uso para este aprendizado e não registrou mais do que duas palavras em inglês. Evidentemente não se pode pretender conferir fluência em inglês em um mês a quem quer que seja, mas seria de se esperar que aquele trabalhador, ao final de um mês, fosse ao menos capaz de expressar valores, conteúdo e informações básicas acerca dos quitutes oferecidos, ou seja, a leitura de uma peça de cardápio limitada. Este tipo de capacitação inadequada é oferecida em profusão. Não é deste tipo de capacitação que precisamos. O fato, é que precisamos de capacitação comprometida. Ainda dá tempo para aproveitarmos, e para você aproveitar, o momento atual. Há cursos de extensão que podem capacitar, de fato, o profissional a se tornar mais competitivo neste mercado. Tenha isto sempre em mente. Vai depender de você e vai depender também da sua empresa. E cobre isto, sempre que for preciso.
Sergio Sampaio E-mail: [email protected] Consultor de TI da ValoRH. Engenheiro, empresário da área de Tecnologia da Informação, proprietário da IP10 Tecnologia. |
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