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Concurseiros apontam caminhos para entrar no serviço público

Você pode até não estar tentando, mas com certeza conhece alguém que está estudando para concurso público.

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17/02/2014 às 10:17 • Atualizada em 29/08/2022 às 3:04 - há 11 anos
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Garantia de salário no final do mês; boa remuneração; horário de trabalho fixo e, normalmente, sem incluir os fins de semana e feriados; uma série de benefícios, como licença prêmio (três meses de férias remuneradas), e ainda não conviver diariamente com o “fantasma” do desemprego. Essas são algumas das vantagens que fazem cerca cinco milhões de pessoas tentarem entrar todos os anos no serviço público no Brasil.
‘A única coisa que faço hoje, além de estudar, é exercício funcional, que serve para eu extravasar’, revela Roseane Marcelle Figueiredo
E para conseguir o nome escrito no diário oficial do município, estado ou União, tem gente que larga tudo: emprego, namoro, diversão, carreira. É o caso, por exemplo de Juliana Silva, 30 anos, formada em Letras, que não pensa em outra coisa a não ser passar em um concurso. Desiludida com o mercado de trabalho na sua área, ela resolveu deixar de lado quase tudo em busca de um objetivo: trabalhar em um tribunal, seja ele estadual ou federal.
“Formada, tinha apenas três possibilidades: passar em um concurso para professor, cujos salários são muito baixos; atuar em escola privada, na qual é muito difícil de entrar, ou seguir a área acadêmica, que de fato era o que queria”.
Ela conta que chegou a ingressar no mestrado, mas, ao se dar conta que teria de esperar dois para começar a tentar um concurso em faculdade, desistiu. “Não tinha como bancar esse investimento a longo prazo”, revela.
Juliana, que na época trabalhava em uma empresa de comunicação, não teve dúvidas de que estudar para concurso seria a sua melhor opção. “A idade está chegando... Preciso me sustentar e ainda ajudar meus pais”, diz ela, que assumiu o status de concurseira há um ano e meio.
Mas, engana-se quem pensa que essa foi uma decisão simples. “No início, tentei conciliar trabalho e estudo, mas não consegui fazer isso por muito tempo e acabei pedindo demissão”.
Desempregada, sem dinheiro sequer para ratear as despesas da casa, onde vive com o namorado, ela teve sorte: recebeu apoio financeiro de uma tia, que prometeu arcar com todas as suas despesas com estudo por um período de dois anos.
Diante de uma oportunidade disponível a poucos, a bacharel em Letras se matriculou em um cursinho preparatório para concursos em agosto de 2012 e, de lá para cá, não parou mais de estudar, seja por meio de cursos presenciais ou online. “Já fiz dois cursos iguais. Porque, para concurso, você estuda até passar”, afirma ela, que já tem no currículo como concurseira sete seleções, sendo que apenas uma delas foi na Bahia. Juliana, que já conseguiu ser classificada para a função de analista no tribunal de Goiânia (GO), estima já ter desfalcado em mais de R$ 10 mil as economias de sua “tia-guru”.
Às vésperas de viajar para tentar uma vaga no tribunal de São Paulo, Juliana chega a estudar cerca de 12 horas por dia. “Hoje, acordei às 5h e não tenho hora para parar. Quanto mais estudo, mais acho que não sei nada. E, para passar em tribunal, não posso errar quase nada”, conta, ansiosa para que a entrevista acabar logo e retornar aos estudos.
Como se não bastasse a falta de dinheiro, a ansiedade e a cobrança, esta tanto de amigos e familiares quanto pessoal, ela revela que não tem vida social. “Abdiquei de tudo. No Natal passado, fui ao cinema pela primeira vez desde que comecei a estudar. Faltei todos os aniversários. Também sair de todas as redes sociais para não perder o foco”, garante ela, complementando que voltou a fazer terapia para administrar melhor essa pressão.
Concorrente de Juliana, Roseane Marcelle Figueiredo, de 29 anos, também não tem vergonha de dizer que largou tudo em busca de um sonho: conseguir um crachá funcional como delegada. Formada em Direito há dois anos, ela afirma que não lembra a última vez que foi a um shopping center, um dos programas preferidos da mulherada. “A única coisa que faço hoje, além de estudar, é exercício funcional, que serve para eu extravasar”. Figurinha conhecida no curso preparatório Ímpar, ela revela que, desde que começou a estudar para valer, em maio de 2013, o único evento onde marcou presença foi o casamento do irmão, em janeiro deste ano. “Só fui porque ele me colocou como madrinha”, pontua ela, que está desempregada, por opção, e mora com os pais.
Roseane tem uma rotina cheia. De manhã, faz atividade física e ajuda em algumas atividades da casa. Apesar da aula no cursinho só começar às 18h30, ela chega todos os dias às 14h, para se reunir com um colega na sala de estudos e resolver questões. “Em casa tem mãe, vizinho, televisão... Corro o risco de me dispersar”, justifica. Após a aula, que, durante a semana acaba às 22h30, ela ainda consegue encarar mais umas 3 horas de atividades, mesmo depois de se deslocar de ônibus do Rio Vermelho para Lauro de Freitas. “Não tive Natal, Réveillon, não estou bebendo, fazendo farra e até as amigas estou evitando, tudo para não desviar meu foco”. E está pensando que ela triste? “De jeito nenhum. Quero a minha independência financeira, ter o meu dinheiro fixo todo mês”, destaca ela, que já fez cinco cursos preparatório e já prestou cerca de oito concursos, sem êxito ainda.
Cantor, Genard Mello se divide diariamente
entre os shows e estudos
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Músico por formação, Genard Mello, de 30 anos, ainda é iniciante, quando comparado com as meninas, mas já sabe o que quer: “Botei na minha cabeça que 2014 seria diferente. Voltei a estudar e estou focado em ingressar no serviço público“. Segundo ele, o motivo para a decisão é o fato da música não garantir uma estabilidade financeira. Diferentemente de Juliana e Roseane, ele não pretende abandonar a sua profissão, na qual atua há quatro anos como cantor da banda de arrocha No Truque. “Como o serviço público tem horário certo e, normalmente, não trabalha nos fins de semana, dá para conciliar as duas coisas”.
Apesar disso, Genard sabe que mesmo não almejando uma área específica e tão concorrida, precisa renunciar de alguns prazeres em troca da aprovação. Deixei de fazer farra e estou acordando cedo todos os dias para fazer um cursinho preparatório para o concurso da Caixa. Para mim, que faço shows à noite, não é fácil”. Ele conta que este ano a comemoração do seu aniversário, no último dia 10, se resumiu a um jantar com os amigos. “No ano passado, cheguei em casa às 6h. Também cancelei uma viagem para ver minha família em Natal só para estudar”, afirma ele, que já fez três seleções e já está inscrito no concurso da Caixa e do Ministério da Fazenda.
‘É necessário ter vida pessoal’, diz especialista
Se você, assim como Juliana, Roseane e Genard, também visa o serviço público, não custa nada seguir algumas dicas de quem realmente entende do assunto. Segundo o professor e juiz federal William Douglas, a procura por emprego público no Brasil é grande e tende a ficar cada vez maior conforme as pessoas vão descobrindo as vantagens de ter o governo como empregador. Para ele, muitos são os fatores que explicam essa busca pelo concurso, mas a estabilidade, sem dúvida, é o principal. “Bom salário, certeza da remuneração, melhores condições de aposentadoria e planos de saúde para a família também contribuem”.
Para ele, que é autor do livro “Como passar em provas e concursos”, o tempo certo para iniciar os estudos é quando o concurseiro decide que vai mudar de vida. “Essa é a ‘véspera zero’. É o ponto de partida”. Segundo Douglas, é recomendado que o candidato comece a estudar antes do edital ser lançado. Outra dica dele é não sair atirando para todos os lados, ou seja, fazendo todos as seleções que aparecem, mas sim focar em uma área. “A fórmula metralhadora giratória não funciona”.
Ok! Mas, qual é a fórmula do sucesso? Ele responde: “Não existe receita de bolo. Existe sim aprender a lidar com sua preparação e usar as técnicas (memorização, aprendizado, realização de prova e argumentação) a seu favor”. No entanto, Douglas ressalta que cada pessoa tem um processo, um tempo e uma forma de realização diferentes. “Curso preparatório, por exemplo, não é essencial, mas ajuda na parte didática, na organização das matérias e no direcionamento do estudo. Mas, ele não substitui o estudo em casa (fazer questões, provas, simulados)”.
Ele ressalta que hoje, há cursinhos disponíveis em diversas plataformas: presencial, telepresencial e online. “No meu site (www.williamdouglas.com.br), por exemplo, tem muito material gratuito”, garante. Sobre deixar de lado a vida social ele manda um recado: “É possível passar sem precisar abandonar a vida pessoal, aliás, não é só possível como é necessário ter vida pessoal”. Matéria original Correio 24h Em busca do serviço público, concurseiros apontam caminhos do emprego

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