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Depois de protestos, Dom Cappio viaja o mundo dando palestras

O bispo se destacou após duas greves de fome em protesto contra transposição do Rio São Francisco, em 2005 e 2007

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13/05/2012 às 8:23 • Atualizada em 27/08/2022 às 9:25 - há XX semanas
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Dom Cappio, símbolo contra a transposição do São Francisco
Neste momento de seca que assola o semiárido brasileiro, o bispo Dom Frei Luís Flávio Cappio, o Dom Cappio, paulista de nascença e sertanejo por escolha, tem estado com muitos compromissos agendados.Talvez, este assunto seja o que mais ocupe e, sobretudo, o que mais interesse ao homem que, por duas vezes, fez greve de fome, ou jejum, como prefere dizer, para protestar contra o projeto que, para ele, não é a melhor saída para solucionar um dos problemas mais antigos do país. Foram dias agitados em 2005, quando o governo do presidente Lula anunciou, pela primeira vez, a transposição do Rio São Francisco como solução para a seca no nordeste, e quando as obras iniciaram, dois anos depois. Dom Cappio reagiu, em um gesto solitário, mas que ganhou as manchetes dos jornais e deu visibilidade à luta de diversos movimentos contrários à transposição.
Dia a dia após repercussão na mídiaApós a forte cobertura da imprensa sobre os protestos de Dom Cappio, a rotina do bispo sofreu algumas modificações. Agora, além do programa de rádio que apresenta todas as manhãs, das viagens às comunidades da região, e do atendimento aos que procuram a Diocese, a participação em palestras e debates sobre ecologia e desenvolvimento social tem sido constante, tanto no Brasil, como fora do país. “Essa luta da transposição deu muita visibilidade a esse problema e o Brasil e o mundo começaram a se interessar pelo assunto, então a gente é continuamente chamado pelas universidades, por entidades do mundo inteiro para dar palestras, conferências”, conta.
"A gente é continuamente chamado pelas universidades e por entidades do mundo inteiro".
Ao longo dos 38 anos de trabalho em Barra, município localizado a 650 km de Salvador, região do encontro entre o Rio Grande e o Rio São Francisco, e em todo o centro oeste baiano, Dom Cappio se diz muito ligado a região e aos problemas da população. “Se depender de mim eu morro aqui mesmo, porque me identifico com o povo, com essa luta. Enquanto meus olhos puderem enxergar, minha boca puder falar, meus braços puderem trabalhar e minha cabeça puder entender a realidade do povo, permanecerei com a minha missão”, declara.
Críticas continuam
Hoje, o bispo da Diocese de Barra mantém as críticas ao projeto do governo, que está parado, sem previsão de retomada. “O que me indigna e me deixa profundamente triste é que na época que nós combatemos a transposição, nós sabíamos que a obra não visava levar água para o povo. O objetivo era a segurança hídrica para os projetos agroindustriais e não a dessedentação humana e animal do semiárido”, contesta o bispo.
"O objetivo (da transposição) era a segurança hídrica para os projetos agroindustriais".
Na época, Dom Cappio defendia a implementação de outro projeto do governo federal, feito pela Agência Nacional de Águas (Ana), o Atlas do Nordeste. “Se por um a caso o projeto da Ana tivesse sido viabilizado, hoje todas as comunidades do semiárido brasileiro estariam abastecidas, pela metade do preço que se gastaria com a transposição”, afirma.Democratização da água
O bispo se diz constrangido ao conviver com as dificuldades da população de Barra, que, assim como todos do semiárido, sofre com a seca. “A gente se constrange ao ver tanta pobreza, tanta gente necessitando de água. Eu sou bispo, e como um pastor ele não pode ficar de braços cruzados, diante do sofrimento de seu rebanho. Lutar pelo Rio São Francisco e pela vida do povo, faz parte do compromisso e da missão do pastor”.
"O nordeste tem água sim, o que precisamos é democratizar essa água".
Dom Cappio ainda afirma que a escassez de água no nordeste não existe, e sim a sua má distribuição. “Nós precisamos desmanchar um mito que foi criado dizendo que o nordeste não tem água. O nordeste tem água sim, e água acumulada, o que precisamos urgentemente é democratizar essa água”.

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