Uma servidora aposentada da Polícia Militar, que ficou cega de um dos olhos devido a uma doença adquirida no trabalho, espera há quase 23 anos que o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) a conceda uma perícia oftalmológica. Segundo informações do g1, o procedimento é necessário para que ela receba indenização por danos morais.
Com 62 anos, Maria de Fátima Lordelo foi uma das primeira mulheres a ingressar na PM, como funcionária civil, na década de 1990. Ainda de acordo com informações do g1, a Justiça designou, na última semana, um perito oftalmológico para o processo da policial aposentada.
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O órgão ainda não forneceu explicações para o tempo de espera, para a designação de um perito ou por que os laudos fornecidos por Maria de Fátima não foram aceitos.
Em entrevista ao g1, a aposentada contou que sua jornada começou como telefonista, quanto atuou como atendente do 190, contato para emergências da Polícia Militar. Maria chegou a atuar também na Vila Militar Dendezeiros do Bonfim e no extinto batalhão na região da Feira de São Joaquim.
Com o passar do tempo, ela passou a atuar como secretária, a trabalhar com oficiais de alta patente e no arquivo da Polícia Militar. Maria de Fátima detalhou que foi através dos materiais de escritório acumulados que ela contraiu um fungo que gerou um glaucoma, doença ocular que cauda a cegueira.
"A gente sentia muito o cheiro de mofo, espirrava, mas não sabia que poderia acontecer isso. Depois de um tempo, meu olho começou a lacrimejar muito, a ficar estufado, muito irritado. Eu sentia muita dor. As pessoas diziam que era conjuntivite. Eu fui no médico, que investigou e apontou que era por fungo encontrado em papéis", relatou Maria de Fátima.
Abalo psicológico
Após ter o diagnóstico, Maria Fátima descobriu que outros casos como o seu já haviam acontecido na mesma unidade, como o de um soldado que também foi afastado com problemas nos olhos, devido ao mesmo fungo.
Através de uma recomendação médica, a então secretária foi transferida para uma outra unidade, entretanto a mudança não impediu que o problema crescesse.
Após a realocação, Maria não conseguiu realizar suas funções corretamente, porque não enxergava direito. Em 2022, a PM abriu então um Inquérito Sanitário de Origem, chamado ISO, que é uma médica feita par atestar o estado de saúde do servidor e se há uma incapacidade.
"O major, que era meu chefe na época, me falou assim: 'Fátima, você tem que entrar na Justiça. Você precisa de apoio psicológico".
Diante do conselho, Maria entrou na Justiça e segue na peleja até hoje. Processo foi encaminhado para a 8ª Vara da Fazenda Pública em fevereiro de 2003 e nunca saiu de lá. O pedido era de uma indenização de R$ 150 mil, mas devido a demora, o ressarcimento passaria de R$ 1 milhão, por causa das correções monetárias.
"Eu entrei em depressão, porque eu fico me sentindo um peso para as pessoas. Tem dias que eu passo numa boa, mas tem dias que eu não consigo e desabo", desabafou ela.
"Me sinto muito dependente dos outros, para tudo. Minha filha alugou o apartamento próprio dela, em Lauro de Freitas, para vir morar de aluguel perto de mim. Eu não consigo sair sozinha, atravessar uma rua, para fazer as coisas para mim", contou Maria.
Apesar da cegueira causada pelo glaucoma, Maria só se aposentou por tempo de serviço, em 2017. Atualmente, ela recebe uma aposentadoria mensal de R$ 1.700, quantia que fica comprometida devido ao investimento que ela precisa fazer em medicamentos.
"Só de colírio, eu uso dois todos os dias. Eles são pequenininhos e custam R$ 200. Por causa do tamanho, não duram muito então de 15 em 15 dias eu tenho que comprar de novo".
Redação iBahia
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