A Bahia está saindo na frente e pode se tornar um grande
polo de descarbonização no Brasil. A primeira fábrica brasileira de Hidrogênio
Verde (H2V) está em construção e, neste cenário, o estado tem um caminho
promissor. De acordo com informações do presidente da Federação das Indústrias
do Estado da Bahia (FIEB), Ricardo Alban, esse momento é um marco, já que os
trabalhos de eficiência energética nas indústrias são os primeiros passos para
a transição energética total.
“Nenhum país possui a matriz energética tão limpa e com
tanto potencial de crescimento quanto a nossa, de modo que devemos continuar
apostando em energias renováveis e hidrogênio verde, por exemplo, para
disponibilizar ao mundo os excedentes de nossa produção de energia limpa, livre
de carbono, a partir dos ventos e do sol. E a Bahia é considerada uma região
potencialmente favorável ao desenvolvimento de hidrogênio verde, em função da
disponibilidade de recursos de energia renovável de baixo custo”, disse Alban.
Leia mais:
Quando entrar em operação, até o início de 2024, a
expectativa é de que o projeto integrado de hidrogênio verde e de amônia verde
da Unigel se torne o maior do mundo. O projeto terá impacto imediato no
processo de descarbonização, pois adiciona às cadeias produtivas uma produção
industrial totalmente carbono zero.
Na prática, o estado tem potencial para produzir mais de 60
milhões de toneladas de Hidrogênio Verde por ano, considerando os potenciais de
energia solar e eólica associados à disponibilidade de recursos hídricos
subterrâneo e de superfície. Os dados foram levantados pelo estudo pioneiro no
país realizado pelo SENAI CIMATEC para o Governo do Estado da Bahia. Ele se
chama Mapa do Hidrogênio Verde.
O Presidente da SINPEQ (Sindicato das Indústrias de Produtos
Químicos para Fins Industriais, Petroquímicas e de Resinas Sintéticas de Camaçari,
Candeias e Dias D'ávila) e Superintendente da Unigel, Roberto Fiamenghi, contou
que o projeto é de extrema importância e necessita da integração de todos.
“Esse projeto é o primeiro que deve ser instalado no Brasil.
Eu acho que isso tem uma importância muito grande nessa corrida. Significa um
passo grande na descarbonização. Tudo está sendo montado dentro da Unigel Agro
Bahia e está mobilizando muita gente. Estamos na primeira etapa, de preparação
do terreno e com boas expectativas. A base do hidrogênio é a energia elétrica”,
disse Roberto.
De olho neste potencial, o governo lançou também, em 2022, o Plano para a Economia do Hidrogênio Verde, por meio do decreto nº 21.200, do Diário Oficial do Estado de 3 de março de 2022. Ele tem como objetivo promover, fortalecer e consolidar a produção e o uso do hidrogênio verde (H₂V), além de impulsionar pesquisas científico-tecnológicas sobre o tema.
Outras iniciativas
O SENAI CIMATEC tem um papel importante na construção desse
polo verde. Estão sendo criadas outras iniciativas para dar suporte ao
desenvolvimento da produção de H2V no estado, entre eles um HUB de Hidrogênio
Verde, que vai funcionar no SENAI CIMATEC Park, unidade industrial em Camaçari.
No local será desenvolvida pesquisa para a inovação na produção,
transporte, armazenamento e aplicações do insumo, e a criação do Centro de
Competências do H2V no SENAI CIMATEC, focando na formação de profissionais
especializados, com expertise diferenciada. Além disso, outras quatro frentes
estão sendo aplicadas pelo centro especializado em prol da emissão de baixo
carbono.
José Luis Almeida, coordenador do Mapa do Hidrogênio Verde
do SENAI CIMATEC, disse que a estratégia inclui mapa eólico, solar, de água,
elétrico e de hidrogênio.
“Temos todo um plano de trabalho. Eu gosto de chamar de uma
estratégia de baixo carbono das indústrias, que incluem 5 pilares. Na prática,
estamos tentando criar a economia do hidrogênio. Isso é um desafio muito grande
porque estamos começando do zero. O mais importante para mim é que isso vai
proporcionar uma qualidade de vida melhor para quem vive no campo. E, se tudo
isso que a gente está trabalhando acontecer, vai trazer um impacto e uma
resolução social muito grande. Acho que é esse o maior benefício”, afirma.
Em relação aos investimentos que as atividades necessitam,
José Almeida foi direto e transmitiu muita positividade: “Esse mapa pode atrair
investimentos importantes para o estado a um preço competitivo. A Bahia é um estado
que pode produzir hidrogênio mais baixo, porque tem energia elétrica barata,
água barata e um sistema de transporte interessante. É animador”, completou o
especialista.
Vale ainda pontuar que, em abril, o SENAI CIMATEC e a Shell
Brasil deram mais um passo na direção das energias “limpas”. Lançaram, em
Conceição do Coité (BA), a nova fase do programa BRAVE (Brazilian Agave
Development – Desenvolvimento da Agave no Brasil). Este programa de Pesquisa e
Desenvolvimento (P&D) com investimento da Shell visa explorar o potencial
da Agave como fonte de biomassa para a produção de etanol, biogás e outros
produtos.
A nova etapa do BRAVE prevê duas frentes de atuação: os
projetos BRAVE-Mec e BRAVE-Ind. O BRAVE-Mec tem como foco o desenvolvimento de
soluções de mecanização para o plantio e colheita da Agave, além de desenvolver
um campo experimental de testes. O BRAVE-Mec também promove o cultivo e manejo
da Agave, como, por exemplo, a Agave sisalana - hoje utilizada para produção de
sisal, e a Agave tequilana, hoje utilizada para produção de tequila.
Em paralelo, o projeto BRAVE-Ind vai desenvolver tecnologias
de processamento da Agave para a produzir etanol de primeira geração e segunda
geração - aquele obtido através das folhas e bagaço da planta, e outros
produtos renováveis. Estes dois projetos somam-se ao Brave-Bio, projeto de
pesquisa financiado pela Shell em parceria com a Unicamp, iniciado em novembro
de 2022.