Polpudas quantias mensais pelo hipotético exercício de cargo na Assembleia Legislativa eram pagas a oito assessores. Mas, em vez de comprar Cadillacs, para eles sobrava, no máximo, um calhambeque, já que grande parte da bolada ia parar com o deputado Roberto Carlos Almeida Leal (PDT), seu broto e seu filho. O esquema de desvio de recursos montado pelo parlamentar veio à tona ontem, quando a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Detalhes, cumprindo 12 mandados de busca e apreensão expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região, em Brasília - dois em Salvador, no gabinete e no setor de Recursos Humanos da Assembleia - e os outros em Juazeiro, no Norte, e Uauá, a 416 quilômetros de Salvador, além de Petrolina, em Pernambuco. Segundo a Polícia Federal, oito assessores parlamentares do deputado não desempenhavam as funções e repassavam o salário, ou parte, para o deputado, a mulher dele e um filho. Em troca, receberiam favores eleitorais do deputado. Até ontem, seis assessores já haviam sido interrogados e todos confirmaram participação no esquema. Moradores de Juazeiro, os assessores fantasmas confessaram em depoimento à Polícia Federal que nunca trabalharam no gabinete de Roberto Carlos Almeida. Todos vão responder em liberdade por formação de quadrilha, peculato, sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. De acordo com o delegado federal Daniel Veras, superintendente regional em exercício da Polícia Federal na Bahia, o deputado será interrogado, mas ainda não há data marcada para que isso aconteça. Ele será intimado pela Justiça e deve ser indiciado pelos mesmos crimes. A mulher e o filho deverão igualmente ser acionados pela Justiça. Nenhum envolvido teve o nome divulgado. De acordo com o site da Assembleia, os filhos do deputado são: Randerson, Renata Ingrid e Roberto Carlos Júnior, Rafael e Raquel. Ainda de acordo com o delegado, o juiz entendeu que, no momento, não há razão para pedir a prisão do parlamentar. O CORREIO procurou Roberto Carlos Almeida, durante todo o dia de ontem, mas não conseguiu contactá-lo. O deputado é atual presidente do clube de futebol Juazeirense e atua como corregedor na Assembleia Legsilativa.
EsquemaA investigação foi iniciada há dois anos pela PF de Juazeiro, com base no relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) – órgão vinculado ao Ministério da Fazenda que monitora as movimentações financeiras consideradas suspeitas. Nesse caso, foi realizada quebra do sigilo bancário e fiscal do deputado e de familiares. A partir dos dados, foram expedidos os mandados pelo TRF da 1ª Região. O esquema, de acordo com a investigação da Polícia Federal, funcionava da seguinte forma: os salários dos servidores ‘fantasmas’ variavam entre R$ 3 mil e R$ 8 mil por mês. Uma pessoa ainda não identificada fazia os saques nas contas desses servidores e repassava o dinheiro para as contas do próprio deputado, da mulher dele e de um de seus filhos. A investigação apurou as movimentações financeiras das contas dos assessores do deputado, da mulher dele e de um de seus filhos no período entre 2008 a 2010. OperaçãoPor volta de 5h, cerca de 12 policiais federais chegaram ao edifício da Assembleia Legislativa, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), para recolher documentos e computadores. As buscas foram realizadas no gabinete do deputado e no setor de Recursos Humanos da casa. Os agentes permaneceram durante mais de cinco horas no edifício. O delegado informou que “vários documentos foram apreendidos, como contracheques e fichas funcionais, e corroboram com as investigações. Foi a cereja do bolo”. Além de documentos, foram levados pela PF computadores, discos rígidos e o notebook do deputado. “Todo o material apreendido aqui em Salvador será periciado e depois enviado para a PF de Juazeiro, onde as investigações vão continuar”, declara o delegado Daniel Veras. Em Juazeiro, base eleitoral do deputado, agentes ocuparam a casa do parlamentar e dos seus assessores em busca de documentos, além de realizarem uma busca no Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC), onde trabalha uma das supostas assessoras. Irmão atribuiu acusações a ano eleitoralProcurado pelo CORREIO, o irmão do deputado Roberto Carlos (PDT) disse que os moradores de Juazeiro ficaram surpresos com a notícia e que a situação é fruto de manobras eleitoreiras. “A cidade está indignada. Sabe-se que é um ano político, para mudança na prefeitura, e que o nome do deputado Roberto Carlos é bem cotado, tem uma boa aceitação”, diz Celso Leal. Apesar do silêncio do irmão, Celso acredita que ele procurará a imprensa para prestar esclarecimentos. “Ele não tem nada a esconder. Quem não deve não teme”, finaliza. 'Não estamos no céu'Para o deputado Zé Neto (PT), líder do governo na Assembleia, o momento deve ser analisado com cautela. “Esse tipo de coisa pode acontecer com qualquer profissional, a diferença é que nós escolhemos uma vida pública e ficamos mais expostos com essas acusações. Não estamos no céu, mas também não estamos no inferno”, acredita. Apesar da investigação da PF, o presidente do PDT na Bahia, Hari Alexandre Brust, questiona as acusações feitas ao colega de partido. “Sonegação, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha? Cadê as provas? Até agora não foram apresentadas”, declara Brust, afirmando que, por isso, o partido não deverá adotar, por enquanto, nenhuma medida punitiva ao deputado Roberto Carlos. Presidente da Assembleia Legislativa, o deputado Marcelo Nilo (PDT) diz que, pelo regimento da casa, o seu correligionário só poderá receber alguma punição caso algum partido ou deputado faça um requerimento à Mesa Diretora, que avaliará a questão. Nilo diz ter pedido à Polícia Federal, através de correspondências, informações adicionais sobre os funcionários e as investigações que estão sendo realizadas. “Quero ter os detalhes para poder tomar providências. Se qualquer irregularidade for comprovada, os funcionários envolvidos serão demitidos”, garante o presidente. Segundo Nilo, a Assembleia não faz nenhuma ingerência em relação a contratações nos gabinetes. “São os deputados que dão as frequências do seu pessoal”, completa.
Irmão de deputado estadual flagrado em esquema de desvio atribui acusações a ano eleitoral |
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