O silêncio na rua e a ausência de estabelecimentos comerciais nas imediações da Universidade Católica do Salvador (Ucsal), em Pituaçu, facilitaram a ação de quatro homens armados, na madrugada de ontem, em Salvador. Eles invadiram o prédio da instituição de ensino, na Avenida Pinto de Aguiar, por volta das 2h20, renderam os seguranças, roubaram seus objetos pessoais e, em seguida, explodiram um caixa eletrônico do banco Santander, instalado no andar térreo do local. A quantia levada não foi divulgada pela polícia. Essa explosão se soma às outras 28 ocorridas somente nos quatro primeiros meses de 2013. A média, segundo levantamento do Sindicato dos Bancários da Bahia, é de uma explosão a cada quatro dias. Se somados os assaltos e arrombamentos a instituições financeiras, a Bahia já registra, em 2013, um total de 65 ataques — mais de um a cada dois dias. A quantidade de ocorrências desse tipo de crime coloca o estado em destaque no país. A Pesquisa Nacional de Ataques a Bancos, divulgada na última semana pela Confederação Nacional dos Vigilantes (CNTV) e pela Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), mostra a Bahia como o quarto estado brasileiro com o maior número de ataques a bancos em 2012. Foram 210. O estado ficou atrás somente de São Paulo (492), Minas Gerais (301) e do Paraná (214).
Neste ano, a quantidade de crimes desse gênero diminuiu na Bahia – de 75, no mesmo período de 2012, para 65 este ano. Por outro lado, as explosões dos caixas eletrônicos aumentaram 81%, o que mostra que medidas tomadas pelas instituições financeiras, como a redução do número de cédulas nos terminais, ainda não surtiram o efeito desejado. Sem resultado O delegado Daniel Pinheiro, coordenador do Grupo Avançado de Repressão a Crimes contra Instituições Financeiras (Garcif), da Polícia Civil, avalia que a redução no número de cédulas é uma medida necessária, mas que precisa de tempo para ser assimilada pelos assaltantes. “Qualquer medida que você tome não surte efeito de uma hora para outra. Até que o bandido tome conhecimento e perceba que não é lucrativo, demora um pouco”, disse. O delegado usa como exemplo a recente ação na cidade de Jaguaquara, no Sudoeste do estado. Na madrugada do dia 20, cerca de 30 homens trancaram a delegada titular em casa e os policiais do 19º Batalhão da PM no quartel e, então, explodiram duas agências da cidade. Segundo o delegado, só conseguiram levar R$ 28 mil. “Fizeram aquilo tudo e ficou menos de R$ 1 mil pra cada um. É óbvio que não valeu a pena”, completou. Até o momento, a medida de redução da quantidade de dinheiro em caixas eletrônicos foi adotada por duas instituições financeiras em todo o país – Banco do Brasil e Bradesco. A redução atinge os terminais com histórico de pouca movimentação financeira, à noite e nos fins de semana. No Banco do Brasil, a redução pode chegar a 70% em locais com maior incidência de ataques. Já o dispositivo que tinge as cédulas de rosa quando os caixas são violados, de 2011, não foi adotado na medida em que se esperava. Apesar dos prejuízos, poucas instituições investiram na tecnologia que torna o dinheiro inutilizável. Sem punição A explosão de caixas eletrônicos tornou-se um crime atrativo para os bandidos porque muitos terminais ficam em locais com pouca segurança, como em supermercados ou lojas de bairro. Já as universidades não têm autorização legal para manter seguranças armados. Além do baixo risco de ser pego em ação, a impunidade também contribui para a recorrência dos crimes, conforme reclama o delegado Daniel Pinheiro. Segundo ele, o perfil de quem pratica esse crime é o de quem já tem passagem pela polícia. Na sua compreensão, eles voltam a cometer os mesmos crimes porque o Código Penal Brasileiro estabelece penas brandas aos condenados. “Toda vez que você prende alguém, eles estão fichados. Quem está falhando aí é a polícia? Nossa parte a gente tem feito”, defendeu-se Pinheiro. O delegado reclamou ainda do desinteresse das direções dos bancos em investir em segurança. “Eles se preocupam muito mais com a internet, que é onde perdem mais dinheiro”, disse Pinheiro, referindo-se às fraudes eletrônicas e roubos de senha. Segundo o Sindicato dos Bancários da Bahia, só no ano passado, 13 bancos tiveram que desembolsar R$ 3,5 milhões em multas por descumprimento a normas de segurança. As irregularidades se referem a número insuficiente de vigilantes, alarmes inoperantes e uso de bancários para transportar dinheiro. Fuga fácil e falta de policiamento facilitam ações no interior Nas agências do interior, a ação é facilitada pela falta de policiamento. Neste ano, dos 65 casos, 52 foram em municípios do interior. Muitas vezes, as quadrilhas assaltam mais de uma agência na mesma cidade e fogem para cidades vizinhas. No caso de explosões de terminais, apesar do barulho, este tipo de crime costuma ser rápido, com pequena chance de reação de policiais. Neste ano, as cidades de Canudos, Amargosa, Malhada, Camaçari, Barra, Cocos e Jaguaquara sofreram mais de um ataque. Na capital, o caso que chamou mais atenção foi a explosão de caixas do BB no supermercado Extra da Avenida Paralela, que é 24 horas, na madrugada do dia 20 de fevereiro. Quatro homens chegaram em um Vectra cinza pelos fundos por volta das 3h30 e saíram cerca de cinco minutos depois sem serem incomodados. Como estavam encapuzados, não foram identificados. Matéria original Correio 24h Mais de 60 bancos foram atacados na Bahia desde o início do ano
21 de abril: caixa do Itaú na frente do Imbuí Plaza / 2 de abril: caixas do Bradesco em Mucururé |
20 de fevereiro: caixas do BB do Extra Paralela / 19 de março: caixa do BB na Estação Pirajá |
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