O óleo que polui a costa brasileira desde 30 de agosto avançou e chegou nesta quinta-feira à Baía de Todos os Santos. O problema foi identificado nas pedras e na faixa de areia da região do Farol da Barra, que fica em Salvador e é uma das pontas de acesso à baía, e por moradores de Vera Cruz, cidade da ilha de Itaparica.
Na capital baiana, onde o óleo foi detectado na terça-feira, as pelotas de petróleo cru apareceram nesta quinta-feira pela primeira vez em quatro praias, totalizando 14 trechos da orla afetados – que já foram limpos. A poluição chegou de modo discreto na praia do Farol da Barra, mas em intensidade preocupante em Pedra do Sal, praia do bairro de Itapuã – outro cartão postal da cidade.
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A prefeitura de Salvador afirmou ter retirado, somente ontem, 47 toneladas de petróleo das praias, somando 71,5 toneladas. A estimativa do governo da Bahia é de 155 toneladas de óleo retiradas em todos os nove municípios baianos atingidos, o que não inclui o que chegou aos manguezais, que ainda não foi calculado.
O superintende do Ibama na Bahia, Rodrigo Alves, explica que embora o problema já tenha afetado 176 praias no litoral nordestino, de acordo com o último balanço que do órgão, fechado na quarta-feira, em apenas 21 praias há o que os especialistas chamam de "manchas", que são trechos com maior poluição da praia e que ainda não foram limpos.
— Salvador amanheceu, por exemplo, com as praias todas limpas às 7h da manhã. Às 10h, novos pontos de óleo apareceram. Tem sido um trabalho diário de monitoramento, inclusive de praias que já estão limpas e são afetadas novamente. Como a fonte é indefinida, nossa previsibilidade não é de altíssimo alcance. As prefeituras estão fazendo um excelente trabalho, temos tido muitos voluntários, a Marinha também tem ajudado na limpeza — afirma Alves.
O secretário de Cidade Sustentável de Salvador, André Fraga, também ressalta a imprevisibilidade do trabalho.
— Está bem difícil prever como vai ser o trabalho no dia seguinte. O que temos de diferente em Salvador é que conseguimos reservar uma equipe, adotar protocolos e ter resposta rápida. Muitos outros municípios pequenos, baianos, inclusive, estão tendo dificuldade.
Ontem, o governador Rui Costa (PT) se reuniu com representantes das cidades atingidas, definindo estratégias para a limpeza e armazenamento do material recolhido. Ao final da reunião, cobrou resposta do governo federal, indicou que os estados não estão sendo informados sobre as ações para descobrir a origem do problema e anunciou que se juntará ao Ministério Público Federal em ação contra a União que pede atuações preventivas para que o óleo não chegue às praias.
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por Portal iBahia (@portalibahia) em 17 de Out, 2019 às 12:33 PDT
O Ibama indica a dificuldade de monitoramento do óleo em alto mar, mesmo com uso constante de embarcações da Marinha. A preocupação do instituto agora é que o óleo siga avançando na direção sul e afete a parte interna e do fundo da Baía de Todos os Santos, trecho considerado ecologicamente sensível, por ser área de manguezal. Alves detalha que um plano de emergência da Baía de Aratu e adjacências exigido pelo Ibama para 16 empresas que desenvolvem atividade na região foi acionado no sábado e tem sido usado no monitoramento da área.
Na Bahia, o setor do turismo tem estado preocupado com os efeitos da poluição na atividade econômica, mas ainda não sente efeitos. Salvador, por exemplo, comemora 80% de ocupação hoteleira, o que se explica pelo tempo firme e por eventos como a celebração da Canonização de Irma Dulce na Arena Fonte Nova, no domingo, e pelas competições dos Jogos Universitários Brasileiros. O turismo corresponde a aproximadamente 20% do PIB da capital baiana.
— Esse crime ambiental preocupa a principal indústria dos estados do Nordeste, que é o turismo. Há cidades que mais de 80% do PIB vêm da atividade turística, como Imbassaí, Praia do Forte, lá nas piscinas naturais de Alagoas [Maragogi]... Não precisamos de sobrevoos ou de políticos oportunistas que queiram meter o dedo na ferida, queremos respostas para que isso não se repita na costa brasileira — diz Silvio Pessoa, presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha).
Na quarta-feira, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobrevoou praias do litoral baiano para acompanhar a situação das manchas de óleo.
Outra atividade econômica já em alerta é a pesca. Marcos Souza, o Branco, presidente da Colônia de Pescadores Z1, uma das principais da capital baiana, relatou ontem ao O GLOBO queda nas vendas e na própria pescaria.
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Redação iBahia
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